SAUDADE DO ALTO SERTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 8 de maio de 2015 Crônica Nº 1.426 Em busca do alto sertão. Foto: (blogdobernard...

SAUDADE DO ALTO SERTÃO



SAUDADE DO ALTO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de maio de 2015
Crônica Nº 1.426

Em busca do alto sertão. Foto: (blogdobernardino-sertão24horas.
Nos tempos das vacas gordas, fizemos ao contrário dos que buscam as praias. Fomos conhecer algumas cidades do alto sertão alagoano, iniciando por Canapi (fundação em 1962). Rua principal formada por estrada de rodagem, bem ensolarada, plana e simpática, estivemos em um modesto, mas acolhedor hotel e visitamos algumas casas comerciais. Sua quietude era um ótimo convite ao descanso.
Passamos rumo a Inhapi, outra cidade sertaneja que nos surpreendeu pela extensão. Fomos conhecer ali uma fábrica de carros de bois que teimava em resistir ao progresso da cidade fundada em 1962. Coloquei a fábrica no meu romance (inédito) Fazenda Lajeado, quando um dos personagens descreve todas as peças do carro e os tipos de madeiras usadas.
Subimos a ladeira de terra que leva a Mata Grande. Chegamos pela frente e fomos conhecer suas ruas estreitas e calçadas, o comércio, o cinema, a cadeia velha, a igreja e os lugares que botaram Lampião para correr em 1925. Elevada à cidade em 1902, Mata Grande é bastante ladeirosa. Subimos por uma rua larga onde paramos para experimentar torreiro (que torresmo!!) feito na hora, em certa residência. Dali esticamos para o cimo da colina, no final da rua onde havia um engenho rapadureiro. Para nós santanenses, aquilo era grande novidade. A altitude sempre deu condições para o fabrico do mel de engenho e rapadura tornando Mata Grande exportadora desses produtos, primeiramente em lombo de burro. Que tradição gostosa!
Depois de nos deliciarmos com pudim em uma casa de lanche bem cuidada, no centro, fomos conhecer Água Branca, numa das maiores altitudes do estado. Cidade emancipada em 1875 oferecia uma bela paisagem dos arredores onde deslumbramos terras da Bahia e Pernambuco. Conhecemos a igreja de altar folheado a ouro, o casarão da baronesa e gozamos do clima serrano.
Descendo para Delmiro Gouveia, emancipado em 1952, fizemos uma visita à antiga vila operária, ao açude e outros pontos considerados históricos.
Após essa maravilhosa incursão em nosso estado, satisfeitíssimos, retornamos às bases.
Nota: (Talvez entremos em recesso de uns dez dias a partir de segunda, 11).

LAMPIÃO NO SERROTE DA FURNA Clerisvaldo B. Chagas, 7 de maio de 2015 Crônica Nº 1.425 Em 1926, Lampião havia conseguido bons ...

LAMPIÃO NO SERROTE DA FURNA



LAMPIÃO NO SERROTE DA FURNA
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de maio de 2015
Crônica Nº 1.425

Em 1926, Lampião havia conseguido bons armamentos e falsa patente de capitão, no Juazeiro do Norte. Descobrindo que a patente não valia nada e que a polícia se recusaria a obedecer a bandido, Virgolino desceu para Pernambuco e penetrou em Alagoas virado nas seiscentas pestes! Matou um cabo, fez uma varredura na zona rural de Santana do Ipanema e foi invadir a vila de Olho d’água das Flores no dia 06 de junho de 1926.
Na cidade de Santana do Ipanema, um grupo de civis mais os soldados da Cadeia Velha e os componentes do Tiro de Guerra, passaram a noite numa trincheira de fardos de lã na Rua da Poeira, mas o peste passou ao largo saqueando o campo.
Entre outros lugares visitados pelo salteador, estuprador, ladrão e torturador, o bandido esteve no sítio serrote da Furna. Um grupo do bando chegou à casa de Marinho Rodrigues de Oliveira e encontraram ali  mais o senhor João Alves de Oliveira e toda a família e parentes perto da hora do almoço. Fizeram ameaças aos homens e trancaram-nos em um quarto. Marinho fugiu pelas telhas, deixando um buraco para João Alves passar. Sendo gordo e pesado, João tentava subir quando foi surpreendido pelos bandidos.
Os cabras, com raiva, deixaram as mulheres na sala, junto com os filhos e sobrinhos e reviraram a casa toda em busca de dinheiro, armas, joias, relógios, brincos e anéis... E trouxeram a roupa da família, vestidos, ternos, camisas... Para tocarem fogo em tudo.
Nesse ínterim, entrou o chefe do subgrupo Cajueiro, ordenando que não fizessem nada àquela família. O cangaceiro Craúna quis se exasperar. Cajueiro foi duro e disse que ninguém mexeria com as vítimas. Estavam no impasse Craúna e Cajueiro, quando chega Lampião, e sem tomar conhecimento de nada foi logo dizendo que Cajueiro tinha razão. Craúna engoliu inturido, e mais na frente perguntou por que Lampião dera razão a Cajueiro, sem nem perguntar nada ainda. Ele teria respondido que “toda a vez que vocês estão contra Cajueiro, Cajueiro tem razão”.
Marinho Rodrigues de Oliveira mudou-se com a mulher dona Prazerinha e família para à cidade, tornou-se comerciante no centro e fazendeiro na periferia. Botou a filharada nas escolas e seu filho Clodolfo Rodrigues de Melo tornou-se o primeiro médico santanense a clinicar em Santana do Ipanema.
Lampião era a besta-fera! Já ouviu falar?

O GIGANTE DA COLINA Clerisvaldo B. Chagas, 6 de maio de 2015 Crônica Nº 1.424 Foto: (Alagoasnanet). Não, não estamos nos re...

O GIGANTE DA COLINA



O GIGANTE DA COLINA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de maio de 2015
Crônica Nº 1.424
Foto: (Alagoasnanet).

Não, não estamos nos referindo ao nosso glorioso Vasco da Gama, mas sim, ao hospital que leva o nome do Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo.
Ao falarmos sobre o Dr. Clodolfo Rodrigues, na Rádio Milênio, quando entrevistado sobre a história de Santana do Ipanema, semana passada, tivemos uma surpresa. A senhorita Maria da Luz, irmã do médico, nos telefonou agradecendo pela referência sobre aquele ilustre personagem. Consideramos o gesto grandioso, como os que acham dinheiro e devolvem ao dono, sendo motivo de alarde na grande mídia. O costume de agradecer, de fato vai se diluindo com o tempo junto com a forma de pedir desculpas pelos erros cometidos.
O Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, hoje no Recife, é filho do saudoso comerciante Marinho Rodrigues, que possuía armazém de secos e molhados no “prédio do meio da rua” (atualmente demolido). Viera para Santana do Ipanema após uma investida cangaceira no serrote da Furna, em 1926. Marinho, além de comerciante era proprietário de terras na periferia de Santana, na região da serra Aguda. Das suas terras nasceu o que chamamos Conjunto Marinho. Herdeiro dos seus terrenos, o Dr. Clodolfo possuía as que hoje pertencem ao hospital. Mais acima da colina, após a unidade, sua fazenda foi vendida e acha-se loteada para conjunto residencial.
Clodolfo Rodrigues de Melo estudou no Recife, formou-se em Medicina e veio clinicar em Santana do Ipanema, sendo o primeiro médico da terra a realizar esse mister. Prestou relevantes e impagáveis serviços à população da terra, sendo muito mais que justa a homenagem em torno do seu nome no hospital da Cajarana.
Os serviços prestados pela unidade ainda divide opiniões, porém, o intuito aqui é apenas situar a parte física que vai do Conjunto Marinho à Cajarana. Um verdadeiro Gigante da Colina é o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, situado na parte mais alta de Santana do Ipanema no grande Bairro Floresta. A sua frente voltada para o lado centro da cidade, representa um dos mais belos mirantes da periferia. Infelizmente a estrada de acesso ainda é estreita e à base de paralelepípedos. Até quando, não sabemos.
A propósito, temos a última entrevista gravada pelo médico santanense. Última, devido a sua fragilidade física. Um herói desbravador da Medicina no sertão alagoano.