SANTANA, 230 ANOS DA FUNDAÇÃO (I) (Em duas crônicas) Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoa...

SANTANA, 230 ANOS DA FUNDAÇÃO



SANTANA, 230 ANOS DA FUNDAÇÃO (I)
(Em duas crônicas)
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.664


Na segunda metade do Século XVIII, Martinho Rodrigues Gaia, de origem portuguesa e procedente do lugar chamado Vila de Minas do Rio das Contas, Bahia, costumava ir a Penedo a negócios, tendo casado com Ana Teresa, talvez penedense.
Tomando conhecimento de que na ribeira do Panema havia grande extensão de terras devolutas e estando interessado na agropecuária, Martinho Rodrigues Gaia e seus irmãos Martinho Vieira Rego e Pedro Vieira Rego, pleitearam e conseguiram uma sesmaria na região. A sesmaria outorgada constava doze léguas, mais ou menos, de nascente a poente, ou seja, da serra do Caracola a ribeira do Riacho Grande; outras léguas de nordeste e sul, da ribeira dos Dois Riachos a ribeira dos Cabaços.
Martinho Rodrigues Gaia, Martinho Vieira Rego e Pedro Vieira Rego, passaram pela foz do rio Ipanema, depois de navegarem de Penedo até ali, chegando mais acima, ao povoamento de Pão de Açúcar. Montados a cavalo, seguidos por familiares, escravos e mateiros que conheciam a região, iam abrindo caminho até o coração da ribeira do Panema.
O lugar escolhido para sediar o domínio da sesmaria ficou próximo à barra do riacho Camoxinga ─ tributário do Ipanema ─ rodeado por elevações naturais como o serrote do Pelado, do Gonçalinho e da Goiabeira; e a serra Aguda, da Remetedeira, do Poço, da Camonga e dos Macacos. Os três irmãos chegaram à ribeira em torno de 1771, quando no Brasil governava o vice-rei D. Antônio Rolim de Moura.
Fora dos seus domínios de sesmarias, encontraram ao norte os vizinhos de terras, já radicados na ribeira, João Carlos de Melo que possuía uma fazenda de nome “Picada”, cuja extensão girava em torno de duas léguas; e José Vieira com fazenda vizinha a João Carlos de Melo.
Martinho Rodrigues Gaia construiu a sede da sua fazenda em lugar aprazível à margem esquerda do rio Ipanema, a carca de 200 metros do Poço dos Homens, no alto barranco do segundo patamar em ordem de afastamento do rio. Os fundos da casa-grande estavam voltados para o cenário do Panema. O lado esquerdo encontrava um declive que levava até à foz do riacho Camoxinga. O terreno plano da frente da casa dava acesso a um longo aclive e, a direita mostrava um plano com ladeira suave adiante.
Martinho Rodrigues Gaia construiu ainda o seu curral de gado cem metros a noroeste da casa-grande. Defronte a residência plantou um tamarindeiro para fornecer sombra a quem dela precisasse.
Com a chegada do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia e seus irmãos, em 1771, a localização privilegiada da casa-grande de Martinho Rodrigues Gaia, fez brotar um arraial de caboclos (mestiços de brancos e índios Fulni-ô) entre 1771 e 1787.

·         Continua amanhã.







MATA GRANDE E ÁGUA BRANCA Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.663 ASFAL...

MATA GRANDE E ÁGUA BRANCA



MATA GRANDE E ÁGUA BRANCA
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.663

ASFALTO DA AL-145. Foto: (divulgação).
“Cadê o dinheiro que estava aqui?” programa do Fantástico, escancarou mesmo o escândalo no município de Canapi, no Alto Sertão. O povo sofrido e trabalhador daquela localidade, não merece tanto desrespeito como o que foi mostrado na TV. O escândalo cobriu a boa notícia do asfaltamento da AL-145 trecho Água Branca – Mata Grande.
Região serrana de Alagoas, as duas cidades no oeste do estado são parceiras há muito, assim como Ouro Branco e Maravilha em baixo, nas planuras. Para se chegar a Mata Grande ou vai pela frente, pela BR-316 povoado Carié – Inajá ou por Agua Branca até onde chega o asfalto que vem de Delmiro Gouveia. Tanto pela frente quanto pelos fundos, os acessos de barro com a vantagem apenas de quem quer ver paisagens naturais.
Com o asfalto Água Branca – Mata Grande parte da justiça rodoviária é feita, entretanto, está em falta o acesso pela frente até a BR-316 cujo trecho Carié – Inajá continua na expectativa.
Mata Grande, cidade sertaneja nos confins oeste do estado de Alagoas, já teve grande influência no início do Século XX. Muitas histórias foram contadas naquela urbe, inclusive de cangaceiros. Era frequentada por Virgulino e seus manos, antes da fama de Lampião. Foi a cidade de Alagoas que botou Lampião para correr durante um ataque do bandido. Situada entre serras e vales ficou no quase isolamento pela falta de estrada asfaltada.
Água Branca, cidade pequena e situada no topo de um monte, também possui suas histórias políticas e cangaceiras. O ponto máximo físico, além da sua localidade, é a igreja cujos altares eram feitos de ouro ou banhados a ouro, além da sua própria beleza. Lá de cima avistam-se terras da Bahia. Em tempos de inverno tem clima de montanha e o aproveita realizando festival de inverno. Já foi assaltada por Lampião, meses antes da fama. Virgulino, quando veio morar em Alagoas perambulava entre Água Branca, Mata Grande e Chicão (atual Ouro Branco). Para quem gosta de histórias cangaceiras, foi na serra da Jurema, município da mesma Água Branca que nasceu Corisco, o bandido mais famoso do seu bando.
A estrada que está sendo asfaltada, Água Branca – Mata Grande, também contemplará o povoado de Santa Cruz do Deserto, onde foram sepultados a mãe e o pai de Virgulino Ferreira.
Sem dúvida alguma, esse é um grande empreendimento estadual não se tem como negar. A região ganhará nova dinâmica com o asfalto, mas é bom dizer que falta ainda muita coisa para se programar com o turismo.  
Achamos, porém, que o grande beneficiado como polo do Alto Sertão, será a cidade de Delmiro de Gouveia, em todos os aspectos.


SERTÃO EM FOCO Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.662 Meu Sertão, meu ser...

SERTÃO EM FOCO



SERTÃO EM FOCO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.662
Meu Sertão, meu sertãozinho, após a chuvarada. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).

Os últimos dias da Semana Santa vieram com mais um milagre para o povo sertanejo e sua puxada seca de seis anos. Os inúmeros filhos do semiárido que deixaram as capitais para rever familiares nessa época depararam-se com um cenário bonito. Nada da foto de alguns dias passados que mostrava o cinza de arbustos e garranchos sobre a poeira pelada que entristecia. Agora um céu nublado, temperatura agradável e fantasma da estiagem se distanciando. Muitas famílias no aconchego do reencontro de Semana Santa vendo do alpendre da fazenda a chuva rodeando e arrancando o perfume de mato verde. Os pássaros não paravam de grasnar pelas baixadas num festejo sem fim. Não foram poucos os barreiros que encheram, os riachos que botaram cheias, os rosários que balançaram com agradecimentos. E a concentração de familiares antes espalhados coincidia na frase: “eu trouxe a chuva para o Sertão”. De Maceió a Pariconha ─ o município mais distante da capital ─ nada de divisório no verdume total.
“Se Deus quiser”, afirma o sertanejo, essa boa chuvarada deve ser o início do esperado inverno. Depois de tanto sofrimento, tanta dor, tanta apreensão, parece que finalmente teremos um ano de fartura, mesmo não dando para recuperar ainda todos os prejuízos. Mas somos um povo forte, resistente, simbolizado pelo mandacaru, uma bandeira de luta contra as adversidades. Passada a tão esperada Semana Santa, para nós cristãos, parece recomeçar um novo ciclo. Mas um novo ciclo de Sertão lavado com a terra e com a alma. Com a humildade e com a esperança. Com a fé e com a determinação.
Agora é trabalhar com denodo e aguardar os festejos juninos época de muito forró e comidas típicas a se perder de vista.
Esperamos que um novo grande ciclo de bonança aja sobre o semiárido, permitindo a renovação da têmpera sertaneja e do capital fugidio dos roceiros. Vamos ver se agora São Pedro costura a boca da seca por um longo tempo deixando reinar a alegria do homem e da Natureza.
Com sofrimento e tudo, orgulho de ser nordestino e sertanejo.