FAZENDO MOSAICO Clerisvaldo B. Chagas, 15 de fevereiro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.843 MOSAICOS. FOTO...

FAZENDO MOSAICO


FAZENDO MOSAICO
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.843

MOSAICOS. FOTO: (GAZETA DO POVO).
O piso das casas de Santana, após o uso do cimento, entrou em um tipo de moda muito interessante. Pessoas mais abastadas da cidade começaram a usar, em lugar do cimento comum, ladrilhos chamados mosaicos. O mosaico era um pequeno bloco de cimento e outras misturas, de aproximadamente 20 cm2. Era grosso com superfície polida, continha variadas cores e desenhos criativos. Com a moda em expansão, principalmente pelo efeito positivo e belo em salões e residências, foi implantada uma fábrica em Santana do Ipanema. Por pequena que fosse a unidade, mas representava um passo no modernismo, no progresso e economia local.
Conhecida como “A fábrica de mosaicos”, estava situada no Bairro São Pedro e pertencia ao cidadão denominado Zezito Tenório (o mesmo que cedeu a maior parte das terras para o atual Bairro São José). Foi de grande valia essa fábrica que fez a evolução do conforto caseiro, criou empregos e movimentou o comércio da construção. Não sabemos as razões, mas a fábrica de Zezito Tenório cerrou as suas portas. Ainda hoje o lugar é marcado com uma parede em preto, nas proximidades da Biblioteca Municipal Adercina Limeira.
Com a evolução dos tempos, o mosaico foi substituído pelo chamado “piso”, mais fino e mais polido, feito de argila cozida. O mosaico era encerado nas residências, formando um brilho muito bonito e chamativo. O piso de hoje já chega com o brilho de fábrica e alguns são até vitrificados. Portanto, a fábrica de mosaicos de Zezito Tenório, foi também ponto de referência tanto do Bairro São Pedro, quanto da cidade.
E foi assim que no chavão de “bater às portas”, desapareceram conquistas que representavam os passos para frente como fabriquetas de calçados, aguardente, refrigerante, colorau, vinagre, móveis, cordas, colchões, sola e outras que não encontraram respaldo das autoridades. A cidade perdeu todo seu processo nascente de industrialização.
Há pouco ainda havia várias casas em Santana do Ipanema, ostentando os charmosos blocos de mosaicos da fábrica de Zezito. Foi em palestra na Biblioteca Adercina Limeira que historiei por completo o Bairro São Pedro e sua importância no desenvolvimento de Santana do Ipanema, para os alunos da Escola Líder. 
Acho que não existe nenhuma pedra de mosaico em exposição no Museu Darras Noya.

OS BALÕES DE SENHORA SANTA ANA Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.842 ...

OS BALÕES DE SENHORA SANTA ANA


OS BALÕES DE SENHORA SANTA ANA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.842

CAMINHÃO: LUGAR EXATO DE SOLTURA DE BALÕES.  Foto: (Domínio Público).
Não posso dizer com certeza se as festas de padroeiros e padroeiras do Sertão de Alagoas eram todas iguais. Contudo, nos novenários à Senhora Santa Ana, sempre havia banda de música que tocava fora e dentro da Matriz. Havia ainda o foguetório que saía do Beco de São Sebastião e o “carro de fogo” que navegava com velocidade num arame estendido defronte a Igreja. Com fogos também era descerrada a imagem da santa que ficava enrolada num mastro de madeira. O fogo ia subindo e desenrolava a imagem sob aplausos da multidão. A parte dos fogos tinha os fogueteiros profissionais responsáveis que vieram de muito antes do meu tempo e que, praticamente, foi encerrada com o “Zuza Fogueteiro”. O Zuza, gordinho, alto, branco e simpático, morou por último no final da Rua Tertuliano Nepomuceno, centro de Santana do Ipanema.
O balão tradicional não faltava. Era manipulado e solto por trás do hoje extinto, “sobrado do meio da rua”, precisamente por trás da última casa comercial, “A Triunfante”, de José e depois Manoel Constantino. O papel delicado quase sempre tinha as cores azul e branca. Habitualmente o balão ia aos céus durante a celebração da novena. Formava-se uma pequena torcida ali no ponto do balão, onde estava armada a “onda” e o “curre” (carrossel). É que precisava muita habilidade dos encarregados para desdobrar o balão, esticá-lo, por fogo sem queimar suas paredes, erguê-lo no ar e aprumá-lo para a subida triunfante sob palmas e gritos de triunfo.
Havia profissionais para tudo, na cidade: fogueteiro, ferreiro, flandreleiro, retelhador, sapateiro, barbeiro, amolador... Mas nunca me foi dito quem era o artista dos balões. Só poderia ter sido uma pessoa de muitas nuances e amor no coração para confeccionar uma coisa tão mimosa, frágil e bela.
E lá ia aquele artefato se equilibrando no ar, subindo, subindo, subindo... E a luz segura do seu bojo ia ficando cada vez mais longe e se apequenando até tornar-se apenas um pontinho luminoso misturado com as estrelas no céu profundamente azul.
Havia ainda o leilão. Mas aí era outra coisa. Quem seria o artista dos balões? Saudade.

                  
                    

PAGINANDO OS CARNAVAIS Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.841 BACALHAU...

PAGINANDO OS CARNAVAIS


PAGINANDO OS CARNAVAIS
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.841

BACALHAU DO BATATA. FOTO: (G1).
Siloé Tavares – o deputado estadual santanense – estivera no comando do combate violento do Impeachment do governador Muniz Falcão.  Mudando da violência para cena doce, o deputado compadre de meu pai, construiu com festas todos os dias, a segunda igrejinha do serrote do Cruzeiro. (O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema). Não era de se esperar que um homem sério e rouco fosse capaz de brincar o Carnaval. Mas estava ali no meio da rua para quem quisesse ver. Siloé e seus amigos foliões fundaram o “Bloco do Bacalhau”. A turma tinha um estandarte onde um bacalhau centralizava ladeado por recipientes de vinagre e azeite. E se havia mais de uma estrofe na música do bloco, não foi registrada. Mas o mote de guerra era repetido infinitas vezes:

“Olha o bacalhau
Pra nós é um colosso
Azeite com vinagre
Salgado ou insosso...”

Este conjunto de folia, anos 60, foi apenas mais um dos tantos e tantos blocos carnavalescos da minha terra, descritos desde a década de 1920.    Quando o bloco era organizado, listava casa de pessoas influentes, para visitá-las durante o trajeto das ruas. Essas pessoas preveniam-se e aguardavam a passagem do bloco com espaço, bebidas e tira-gosto. Antes dos anos 20, os foliões costumavam invadir o sobrado do coronel Manoel Rodrigues da Rocha e dançavam no salão principal do casarão. Depois, a casa do padre Bulhões também era muito visitada onde o tira-gosto era pão de ló.
Os carnavais, tanto no interior do Brasil, quanto nas capitais, ora se apagam, ora se acendem. Mas tanto os fracos quanto os fortes movimentos de Momo, trazem suas histórias coloridas como suas roupas e estandartes. Quem gosta da folia, vai recordando suas aventuras repetidas a cada mês de fevereiro, ocupando a mente com suas fantasias. Em Santana do Ipanema, cada um que conte as piruetas e os amores dos antigos carnavais, aumentando aqui, esticando mais ali, na ressurreição de foliões como Seu Carola (ô), Silóe, Nozinho (ô), Lucena, Chico Paes, Agenor e muitos outros que ficaram famosos na cidade. Sei lá...

“Olha o bacalhau
Pra nós é um colosso
Azeite com vinagre
Salgado ou insosso...”