PARCIAL DA FEIRA DE SANTANA. FOTO: (B. CHAGAS). FEIRA, O ENCONTRO DO POVO Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2018 Es...

FEIRA, O ENCONTRO DO POVO


 
PARCIAL DA FEIRA DE SANTANA. FOTO: (B. CHAGAS).

FEIRA, O ENCONTRO DO POVO
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.981

Foi ainda no século XIX que a feira de Santana do Ipanema começou a funcionar aos sábados. O sábio conselho veio da boca do “santo padre Francisco”, um dos fundadores do município da Ribeira do Panema. Até hoje a feira funciona em dia diferente daquele assinalado como descanso, pelo mundo católico. Além do conselho cristão, o padre era visionário e sabia da dimensão futura da feira-livre e sua perenização. Não se sabe de nenhum contratempo que tenha tido a pretensão de mudança. As feiras dos outros municípios tiveram que concorrer com a de Santana, experimentando outros dias da semana, utilizando até mesmo o próprio domingo.
Com o passar do tempo, somente a feira do sábado não satisfazia nem a produtores rurais e nem a população local. Foi inventada, então, a feira da quarta como complemento da primeira. Como tudo deu absolutamente certo, ambas as feiras continuam até agora, início do século XXI. Não sabemos se ainda pela carência de produtos do campo, necessidade ou ambição comercial, quase todos os dias encontramos barracas espalhadas emendando ambas as feiras. Essa modalidade de comércio que vem desde os tempos medievais, não fica somente no interior. As capitais, mesmo com os seus mercadões com diversos títulos, também continuam com as feiras, sem prejuízo algum. Na capital, Maceió, encontramos a feira do Jacintinho, a feirinha do Tabuleiro e  a do Mercado da Levada que se tornaram permanentes.
É verdade que a feira é um local para ser administrado dia a dia pelos vários fatos novos que vão surgindo. Entre eles está o estacionamento de transportes coletivos e individuais. Entretanto, isso não deve causar nenhum transtorno se os administradores estiverem sempre atentos e dispostos às resoluções de problemas. Andar na feira, comprar na feira, encontrar-se na feira, para muitos é um prazer semanal causador de alegria. Outros não as suportam. Mas a feira é um fator de equilíbrio de preços entre a população e os tubarões.
Foi na feira do sábado passado, em Santana do Ipanema, quando os políticos na praça rasgaram o verbo.
Ô feiras abençoadas!

PADRE BULHÕES/ MUNDO NOVO E A MISSA DOS MATUTOS Clerisvaldo B, Chagas, 11 de setembro de 2018 Escritor Sím bolo do Sertão Alag...

PADRE BULHÕES/MUNDO NOVO E A MISSA DOS MATUTOS





PADRE BULHÕES/ MUNDO NOVO E A MISSA DOS MATUTOS
Clerisvaldo B, Chagas, 11 de setembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.980
 
Missa dos matutos na Matriz de Santana. Foto: (Clerisvaldo B, Chagas).
Nascido no povoado de Entremontes, Piranhas, o padre Bulhões foi pároco de Santana do Ipanema durante, aproximadamente, 30 anos. Foi a figura mais importante da “Rainha do Sertão” no período 1920-1950. A partir de 1936, passou a dividir seu prestígio regional com o, então, major José Lucena de Albuquerque Maranhão. Foi ele quem fez a segunda grande reforma da Igreja Matriz de Senhora Santana, como externamente ora se apresenta. Participou do movimento de resistência à entrada de Lampião a cidade em 1926. Movimentou Santana a favor dos flagelados da seca acampados no leito seco do rio Ipanema. Foi um dos membros fundadores da Escola Cenecista Ginásio Santana. Entre outras coisas, recebeu o filho do cangaceiro Corisco, para criá-lo.
Apesar de ter sido tão importante para a região, ninguém que o conheceu de perto escreveu a sua vida que daria um livro de memórias que honraria Santana do Ipanema. O padre gostava de repetir frases e dizia o que bem entendia, de bom ou de ruim. O povo ria das suas tiradas, tolerando o nervosismo do sacerdote perto da fase final da sua vida. Certa vez um matuto entrou na igreja, de chapéu, procurando fogo para acender o seu cigarro de fumo grosso. O padre via tudo da parte alta da nave. O matuto se dirigiu ao altar, onde havia uma vela acesa e começou a acender o “pacaia” e a baforar. O padre chegou de mansinho e indagou: “De onde você é?”. E o matuto respondeu referindo-se a um sítio da zona rural: “Sou do Mundo Novo, padre”. E o sacerdote, guardando o esporro que costumava dar nos esquisitos, disse exercitando a paciência: “Logo vi, logo vi, pois no mundo velho de meu Deus, não existe dessas coisas, não”.
São muitas as histórias do padre que muito fez por Santana. Em sua homenagem, a ponte que liga o Comércio ao Bairro Camoxinga, chama-se “Ponte Cônego Bulhões”, simplesmente apelidada pelo povo de “Ponte do Padre”. Continua ainda hoje as missas do sábado, dia de feira, celebrada às 9.30. O povo da zona rural aproveita a vinda à cidade para assistir a celebração que por isso ficou conhecida como “a missa de matuto”
Não gosto de perder a missa dos matutos.                                             


A SURPRESA DE SETEMBRO Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2018                                       Escritor Símbolo do S...

A SURPRESA DE SETEMBRO




A SURPRESA DE SETEMBRO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2018
                                      Escritor Símbolo do Sertão Alagoano                                     
Crônica: 1.979
MINHA RUA. FOTO: (CLERISVALDO B. CHAGAS).

Meu amigo, setembro desta vez resolveu fazer diferente. Quando todo o Sertão reclama da seca e o governo inicia os preparos de carros-pipa, o mês em curso mostra a outra face. Desde a madrugada do sábado para o domingo, o fervilhar na telha acompanhou a madrugada. Naquelas horas misteriosas não poderia a temperatura está em menos de 18 graus. Pense no quentinho dos lençóis da sua cama e a frieza danada das horas mortas lá fora. E no decorrer de todo o domingo, seus planos de sair de casa escorrendo pelo meio fio, lhe empurrando novamente para a cama, para a preguiça, após um cafezinho quente. Manhã, tarde e noite, nenhum pé de pessoa na rua, como costuma dizer o sertanejo.  Uma solidão sem fim... Uma saudade do não sei o quê.
Abro o portão da minha casa; a chuvinha cortando sem parar contraria o mês da primavera. E para provar as palavras acima decantadas, meto a máquina entre o líquido cristalino dos céus e zás!... Carimbo atestado cinza do tempo chuvoso, do calçamento molhado, da nostalgia da rua deserta. Que vontade medonha de cantar velhas melodias, de fazer um martelo agalopado com o tempo; de beijar, copular, dormir... O balanço das estações modernas contraria a climatologia de Maju. E o nervosismo reinante no espaço mexe com o interior de cada um. E os gatos? Por onde andam os gatos espiões dos muros? Na certa, enroscados na quentura dos fogões de pedra, nos panos velhos dos donos, nos sonhos distante das caçadas. Ainda é resto de inverno e nem se pode dizer que o tempo estar errado.
Nessa segunda, tudo voltará à velha rotina. O padeiro buzinará logo cedo com sua irritante corneta. O leiteiro rondará na sua moto esquisita. O famoso carro do ovo não deixará de aparecer e, as mães passarão com as crianças para a escola. As ruas continuarão com o zum-zum-zum de sempre e nós vamos escalando a esperança para ir à frente. Uma esperança que de vez em quando morre e ressuscita como Jesus. Assim é a vida jogando para cima e para baixo os desenganos.
É dia de trabalho, gente!
Deixemos os mistérios para o Mestre dos Mundos.