SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
VOCÊ CONHECE? Clerisvaldo B. Chagas, 5 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.383 (FOTO: B. CHAGAS). Con...
VOCÊ CONHECE?
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.383
Conheci
o início da formação do paraíso no rio Ipanema, quando estive lá em uma pesca
de esgotamento de poço. Um dia inteiro esgotando águas de pequenas poças e um
fim de tarde com peixe para dar e vender. Lembro-me que fui a convite de Luiz
Fumeiro, o fundador do time Ipiranga. Já havia avenidas de mato ralo, algumas
rochas descobertas, várias em formato de panelas com se tivessem sido
esculpidas pelo homem. Fiquei encantado. Tempos depois passei ali na minha
caminhada a pé pelo rio Ipanema, das nascentes a foz, o lugar havia evoluído.
Cerca de vinte anos depois, a transformação foi enorme. O rio Ipanema escavou
cerca de 1 km do leito, descobrindo rochas de todos os tamanhos. As plantas
começaram a nascer pelos arredores, na areia, pelas frestas das rochas,
surgindo muitas espécies da caatinga: rasteiras, cactáceas, xerófitas e
arbóreas com altura de 15, 20 metros. Entre os desenhos das rochas fios d’água
e poços formam um conjunto incrível que duvido seja menos belo do que os
jardins da Babilônia.
O
Ipanema cheio é um rio comum, ele seco é um jardim em diversos trechos do
Sertão. Revelamos esse paraíso para os santanenses, tivemos lá várias vezes,
inclusive com Dona Joaninha – saudosa líder comunitária – e a reportagem da TV
Gazeta. O lugar passou a ser um refúgio natural para os animais como serpentes,
teiús, raposas, gatos do mato, aves e pássaros, alguns levados e soltos ali
pelo próprio IMA. Uma família que mora às suas margens, usa e defende o trecho
como propriedade particular proibindo as ações predatórias do homem.
O
trecho do rio Ipanema é chamado de “Cachoeiras”, localizado logo após os
subúrbios Maniçoba/Bebedouro. Enquanto o trecho urbano do Ipanema estar
recebendo toneladas de fezes pelos esgotos da cidade e pela própria responsável
pelo saneamento – segundo denúncia de vereador na tribuna – o paraíso das fezes
e o paraíso verdadeiro dividem o Pai de Santana entre inferno e céu. Conheça as
“Cachoeiras”.

O PÉ DE PICA DA PREFEITURA Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.382 Antiga pre...
O
PÉ DE PICA DA PREFEITURA
Clerisvaldo
B. Chagas, 2 de outubro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.382
Após
a primeira reforma da prefeitura de Santana do Ipanema, em 1938, para a época,
o ambiente ficou bastante agradável. Chamava atenção os grandes janelões de
madeira que abriam e fechavam através de cordões robustos permitindo a entrada
intensa da claridade natural. As laterais do prédio suportavam bem o movimento
de pessoas e, tanto nessas laterais quanto no pátio frontal havia várias
árvores ajardinando o edifício. Mas, apesar da beleza das árvores, havia um,
porém. Algumas delas botavam frutos estranhos.
Eram relativamente pequenos, duros e esverdeados. Possuíam formato de
duas glandes, uma para cima, outra para baixo. Ninguém nunca definiu o nome
científico das árvores safadonas. Nem também se sabia se teriam sido plantadas
naquela reforma ou muito depois.
Homens
feitos mostravam com malícia aos adolescentes, os frutos em formato de cabeça
de pênis. Estes era colocados na mão fechada escondendo uma parte e mostrando
apenas a outra, o que de fato se assemelhava ao órgão sexual. Tanto havia
admiração de quem conhecia o troço, quanto risos sem-vergonhas depois. Naquele
tampo havia certo cuidado para não ser mostrados às mulheres e gerar
constrangimentos. Mas também havia aquelas que agiam semelhante aos homens. As
árvores permaneceram na prefeitura por longo período. Para evitar maiores
constrangimentos e repercussões negativas ao poder público, as árvores foram
derrubadas a golpes de machado, tudo indica no governo municipal Genival
Tenório.
“Como
se chama essa árvore?”, indagavam os curiosos. A resposta era quase sempre a
mesma: “Um pé de pica”. E Assim, como
ninguém sabia o nome verdadeiro do vegetal, o “pé de pica” ia varando as
gerações. Após sua erradicação, acabou-se o constrangimento feminino e até o
prédio ficou mais iluminado.
No
primeiro governo Isnaldo Bulhões, o prédio da prefeitura sofreu uma segunda
reforma que pareceu muito adiantada para a época, porém, atualmente, bem que a
prefeitura ficou pequena para tantas atividades. Já está obsoleta. Mas, mesmo
que seja construído um edifício nova geração de arquitetura, estar banido para
sempre o
charmoso
e safado Pé de Pica.
O CICLO DOS HOTEIS Clerisvaldo B. Chagas, 1 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.381 Antigo Hotel Lopes...
O
CICLO DOS HOTEIS
Clerisvaldo
B. Chagas, 1 de outubro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.381
Parece que o ciclo das coisas que cercam os
homens, é igual ao próprio ciclo da vida humana. Hoje refletimos sobre os
hotéis, em todos os lugares do Brasil substituídos por simples pousadas. Voltando
os tempos em algumas décadas, tínhamos em Maceió o magnífico Hotel Bela Vista,
onde a cabeça de Lampião passou uma noite, imediatamente a ser levada para
Salvador. Foi demolido. O Parque Hotel,
onde se hospedavam os prefeitos do interior em missões na capital, deixou de
existir. O não menos famoso Hotel Lopes, final e início de linha das antigas “sopas”
Santana – Maceió e vice versa, parou de funcionar. Um grande hotel que no
momento nos foge o nome, situado na Rua do Sol, também na capital, tão bem
frequentado, cerrou suas portas com fim melancólico, abandonado à própria sorte,
foi aos poucos sendo transformando em coisas. Todos eles tinham nome firme
espalhados no estado.
Em Santana do Ipanema não foi diferente, fechou
o Hotel Central, um dos mais antigos de cidade e conhecido como Hotel de Maria
Sabão. Deixou de existir o Hotel Santanense no Bairro Monumento, chamado Hotel
de Dona Beatriz. Antes mudara de dono, depois... O adeus para sempre. Seguindo
a sequência, encerra as atividades o Hotel Avenida, ainda no Bairro Monumento,
apelidado o Hotel de Seu Leusínger. E por fim o Hotel conhecido como de Maria
Valéria, à Avenida Nossa Senhora de Fátima. Também fecharam alguns pequenos hotéis
e hospedarias sem nomes no lugar Maracanã e na periferia do quadro da feira
semanal.
Após certo período sem hotéis, começam então, a
aparecer as pousadas, muito mais simples, sem almoço, sem jantar, apenas com
pernoites e café da manhã acompanhado de preços populares. Santana se encheu de
pousadas, sendo raríssimo a implantação de hotéis. Em Maceió, após a fase das
pousadas, voltas à moda os grandes hotéis de luxo internacionais, dessa vez não
mais no Centro, mas, principalmente, nos balneários onde imperam o luxo do
litoral.
Cada um desses antigos hotéis tinha seus
acervos orais de histórias e mais histórias que mereciam ser contadas de outra
maneira. Mas os fantasmas que habitavam as ruínas, foram espantados para sempre
com o novo ciclo das coisas.
Todo somos vítimas dos freios de arrumação que
mexe com a vida dos humanos e dos seus temporários bens.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.