ANCORETAS Clerisvaldo B. Chagas, 4 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.668   Está muito difícil nos ...

 

ANCORETAS

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.668

 




Está muito difícil nos tempos atuais, encontrar um marceneiro para consertos. Antes, marceneiro para consertos de pequenos objetos, era um em cada esquina de Santana do Ipanema. Atualmente, com ideias de criação de polo moveleiro, nem polo, nem ideia e nem nada. Alguns marceneiros tentam desafiar o tempo fazendo peças de encomendas até porque é difícil concorrer com a organização desses profissionais de Arapiraca. Portanto, o amigo irá bater muita perna para encontrar quem conserte um tamborete, uma perna de mesa, uma cadeira quebrada... É como se a época dissesse: Tudo que quebrar na sua casa, jogue no lixo, compre outro na loja e pague até em doze prestações.

Dentre os fabricos de selecionados marceneiros dos anos 60, estavam os fabricantes de ancoretas – pequenos barris para transporte d’água em jumentos – Feitas com madeiras arqueadas e presas por arcos de metais, a ancoreta vinha com a tampa e o suspiro também de madeira. As pessoas menos letradas chamavam o pequeno barril de “ancorota”. O usuário ainda rodeava a tampa de madeira com um pedaço de pano velho para evitar vazamento,  como se usa hoje o tal veda-rosca. Quando a tampa original era perdida, usava-se o sabugo em seu lugar e no lugar do suspiro. As ancoretas eram utilizadas para transportar água do rio Ipanema para as residências. Havia na cidade, mais de cem botadores d’água e seus jumentos de raças pegas ou canindés.  Quatro ancoretas ficavam acopladas em ganchos de ferro na cangalha do animal, que ainda tinha manta por baixo da cangalha e cabresto de corda de caroá. O dono do jegue conduzia ou não vasilha e funil para encher as ancoretas nas cacimbas do rio seco.

Os mais humildes, no lugar das ancoretas, usavam latas de querosene ou de outra coisa numa plataforma de madeira, penduradas por cordas de caroá no pau da cangalha, chamada caçamba. Na ladeira que fica defronte o Mercado de Carne, tinha o marceneiro Lourival que fabricava ancoretas na sua oficina em casa Homem idoso, tranquilo e educado. Depois que chegou em Santana a água encanada, tudo o que disse acima foi desaparecendo. No final do século XX, havia marceneiros que fabricavam ancoretas pequenas de imburana-de-cheiro para vender a donos de bares. Era o barrilzinho de cachaça e que tinha uma torneira para alimentar os beberrões. Por hoje basta.

ESTÁTUA AO JEGUE AO ANOITECER EM SANTANA DO IPANEMA. (FOTO:   B. CHAGAS)

 

  MARÇO, OUTONO, CINZAS Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.666   Finalmente pa...

 

MARÇO, OUTONO, CINZAS

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.666


 

Finalmente passou o mês pesado e mais curto do ano. Vamos iniciando uma nova marcha completamente estranha com incógnitas mais severas sobre o dia de amanhã. Ganhamos da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente e Recursos Hídricos um Kit de camiseta e boné dos Profetas das Chuvas. Uma lembrança do recente encontro sobre o clima na área sertaneja. Muita chuva em fevereiro, mas também altíssimas temperaturas durante os dias, variando entre 36 graus a 24 durante às noites, no contraste. Março é um mês comprido, psicologicamente o mais comprido do ano e sem nenhum feriado para amenizar o batente. Março, tradicionalmente é um mês severo de estiagem, porém marca o início do outono, estação de começo das nossas chuvas no Sertão a partir de maio.

Os alastrados do antigo Loteamento Colorado estão floridos e frutificados, os pássaros se deliciam com seus frutos roxos e o vento sopra bem pelo relevo da colina. Será o anuncio de bom inverno?  E nessa Quarta-Feira de Cinzas, marcou as cinzas antecipadas do Carnaval e, infelizmente o triunfo do COVID l9 em nosso estado. Mas o nosso Soberano tem o poder de mandar a pandemia para um lugar distante do Universo onde não passa ninguém e frear a sede de ambição dos que pretendem dominar o mundo. Enquanto isso vamos espiando os movimentos mágicos das nuvens que trazem o pão aos nossos sertões nordestinos. Joelhos ao chão, olhares nas variações do tempo.

Passado o dia tão aguardado da Quarta-feira de Cinzas, lembramos quando as igrejas da cidade ficavam lotadas de fiéis para a tomada de cinzas na testa. Uma lembrança e advertência que todo somos frágeis e que voltaremos a virar pó. Uma quarta-feira triste de fim de mundo. Tudo, tudo está diferente já nos antecipavam as forças do Universo. Mas mesmo com todas as tristezas da terra, prossegue o mês de março a sua marcha inexorável.  Início de Quaresma, um período longo e santo perfeito para orações, meditação e oportunidades de abandonar o negativismo da vida. Tempo de fortificar a alma e garantir a luz. Quem sabe! Em meio à guerra e pandemia não aparece um facho luminoso no final do túnel!

Louvado seja o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó... E nosso também

ANOITECER NO COLORADO (FOTO: GUILHERME CHAGAS).

 

  VOLTANDO AO BAIRRO ISNALDO BULHÕES Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.665 Se...

 

VOLTANDO AO BAIRRO ISNALDO BULHÕES

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.665



Segunda de Carnaval, para tirar a monotonia do peito, fomos almoçar no topo da colina do Bairro Isnaldo Bulhões (antigo loteamento Colorado). Subimos todos os patamares com a mesma alegria de outras vezes, pois estávamos novamente em contato com à Natureza. Após o almoço fui gozar a beleza dos arredores daquele monte com 340 metros de altitude. No topo da colina mesmo, na última rua, somente duas casas habitadas e abaixo dessa rua, casas e mais casas em construção preenchendo aos poucos os terrenos vermelhos e baldios. Ao lado, limite com uma fazendinha que nos encanta bastante com o mesmo padrão de zona rural. Mais uma vez ficamos mostrando ao neto e família da capital, cenas da fazendinha.

Ao entardecer, galináceos deixando o abrigo e se espalhando pelos arredores, ciscando e catando bichinhos. Para eles, na hora aprazada, o galo pintado comandou a volta ao galinheiro, sem ninguém mandar. Ali estariam ao abrigo contra cassacos e raposas dos arredores. Vacas e Bezerros também se recolhiam no galpão de alvenaria. Mais perto de nós, formigas, abelhas, maribondos, inúmeras aves logo identificadas ou não: bem-te-vis, azulões, corujas... Para fazerem parte de um céu que se ornamentava no horizonte onde as primeiras luzes se acendiam nas habitações dos sítios rurais, lá longe, lá embaixo... Que maravilha de se vê! De um lado os sítios e fazendas, do outro, as milhares de lâmpadas acesas no centro da cidade.  E a ingênua pergunta repetida: Será que estamos em Santana, mesmo?

Deixamos nos encantar com o arrebol do lado dos sítios e fazendas. Cadê vontade para descermos até a realidade pela AL-220? Devaneio interrompido, descemos a colina com o cruzar de aves notívagas que igual a nós, penetravam nas trevas. Nem só de beleza de praia vive o mundo! Morando lá bem no alto você ainda compra ovos frescos de galinha de capoeira, leite verdadeiro tirado na hora e ainda adquire adubo para vicejar seu jardim. De sobra arranjamos por ali o melão-de-são-Caetano que prolifera nas cercas de arame e se tornou febre na Internet com o seu poder curativo.

Dia magnífico e pessoal, mas que não resisti em dividir com os nossos leitores do blog.

Amar a Natureza é amar o Criador. Desculpe a emoção.

ALASTRADO EM LAJEIRO. AO FUNDO MÉDIO, SERROTE DO CRUZEIRO, AO FUNDO DISTANTE, SERRAS DA CAIÇARA E DO POÇO RESPECTIVAMENTE. (FOTO B. CHAGAS).