NA TERRA DA MARTA Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.680   O município de D...

 

NA TERRA DA MARTA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.680



 

O município de Dois Riachos, entre Cacimbinhas e Santana do Ipanema, tirou a sorte grande. A terra da jogadora Marta acaba de inaugurar o asfalto que liga a BR-316 ao povoado Pai Mané que possui um dos maiores açudes de Alagoas. O governador prometeu e cumpriu com intensa rapidez essa incrível obra. Um dos pontos turísticos altamente valorizado daquele município, forma parceria natural agora com a Pedra do Padre Cícero já consolidada pelo turismo religioso e pelas levas e mais levas de romeiros que prestigiam anualmente o local. Coincide que a entrada de acesso ao Pai Mané, fica bem vizinha à Pedra do Padre Cícero.  Isso permite que o visitante visite os dois lugares em uma só viagem e com todo conforto viário possível.

São 5,7 km de estrada inaugurada que assim consolida o trio econômico do próprio Dois Riachos: o açude, a pedra e a feira de gado, atrativos de além fronteiras. Para melhor informar, cidade e município são banhados pelo riacho Dois Riachos que empresta o seu nome como afluente poderoso do rio Ipanema. Este é mais uma atração histórica e estética da cidade. Ultimamente a Terra de Marta – que tem faixa receptiva na entrada do comércio – vem se destacando no sertão de Alagoas, desenvolvendo e atraindo cada vez mais gente para turismo, negócios e lazer. Portanto, a ligação asfáltica ao povoado Pai Mané, soa como uma ordem de serviço para outros importantes povoados sertanejos, como São Félix, Óleo e Pedra d’Água dos Alexandre, em Santana do Ipanema e muitos outros da região, cansados de poeira e lama.

Sem querer endeusar o atual governador, nunca se fez tanto pelas estradas sertanejas e pelo Sertão, no todo. Mas o governador vai renunciar para concorrer ao senado. Quem irá assegurar um novo “boom” sertanejo? Quem garante? Sem apontar erros, apenas benefícios, meu pai dizia que “um bom administrador mora longe um do outro, um aqui outro na Mata Grande”, exemplificava. Os demais povoados sertanejos não contemplados com acessos asfaltados, certamente ficarão arrepiados com um novo gestor estadual seja ele quem for. Mas, como define a sabedoria popular nordestina: “é melhor uma esperança longa do que um desengano cedo”.

Afinal, a pisadinha de espera sertaneja é secular.

Virá por aí um bom administrador ou apenas um Zé Banana!

ACESSO AO PAI MANÉ (FOTO: NENO CANUTO/DIVULGAÇÃO).

 

 

  AGUARDANDO PELOS PÁSSAROS Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.679   Tive q...

 

AGUARDANDO PELOS PÁSSAROS

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.679


 

Tive que deixar outros afazeres e correr para à novidade. Cedo ainda no domingo passado quando o bando de espanta-boiadas passou em alarido, dessa vez foi diferente. O bando não apenas passou. Voltou rápido por algumas vezes repetindo a algazarra nos céus. Oque eles estariam tentando dizer? Era uma festa e tanta. Acostumado com os sinais do Sertão, na flora, na fauna, nos astros... Notava a mensagem de intensa alegria dos também chamados quero-quero. Resolvi aguardar para saber da notícia boa anunciada, ou para mim ou para todos. E o certo, amigo, é que todo o alarido dessas aves, era o anúncio do início do outono naquele mesmo dia.

Já na quarta-feira à tarde, após excelentes pés d’água – três ou quatro com pequenos intervalos – e com direito à trovões, o bando passou novamente no alarido normal de saudação à chuva. Lembro-me então da frase do Gonzagão: “Deus é bom, o homem é mau!”. Depois do grosso, veio uma chuvadinha que durou à tarde inteira, a   temperatura dos 36, 37 caiu para 27 graus centígrados e o tempo deu ares de inverno com todas as características. Como os climas do mundo estão se transformando, difícil uma resposta da Natureza sobre regiões específicas do globo. Será que teremos um período chuvoso antecipado? Dizia o padre Cícero Romão Batista: “Choveu, plantou”. Embora aqui no Sertão estejamos comendo feijão verde em pleno mês de março, o produto é oriundo de regiões outras de irrigação. Geralmente o feijão-de-corda vai antecipando o inverno, matando a fome e revolucionando a carestia das feiras interioranas.

Ensolarado foi o dia da quinta-feira seguinte, parecendo nada ter acontecido. Apenas uma Natureza calma agradecida pela chuvarada da quarta. E com tanta coisa acontecendo também tive uma boa no campo literário. Os pássaros estavam certos. Vamos continuar torcendo para que tenhamos um ano de fartura no campo e que esta fartura reflita na cidade, como sempre. Por enquanto vemos o caminhão-pipa encostado. Perde o dono de ganhar dinheiro, mas ganha o povo com as bênçãos do céu. Vamos continuar aguardando os desígnios de Deus e a volta alegre e contagiante dos pássaros que ornamentam o mundo.

NATUREZA VERDE EM TORNO DE SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

  É SERVIDO? Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2678   O serviço de ordenha no ...

 

É SERVIDO?

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2678


 

O serviço de ordenha no Sertão ainda obedece ao ritual dos nossos antepassados, de modo geral. Algumas fazendas se modernizaram, porém, o pequeno produtor continua no antigo sacrifício e romantismo repaginando. O empregado, vaqueiro, morador ou o próprio dono da fazenda, levanta-se ainda com o escuro para se dirigir ao curral. Caso seja tempo de chuvas, o sacrifício dobra dentro do lamaçal com esterco. Seu equipamento é um banquinho ou tamborete, um pedaço de corda, um balde curto e um balde grande. Amarra as patas traseiras da rês, puxa nas tetas com técnica, enche o balde curto e vai despejando no balde maior. Quase sempre fica à frente das patas traseiras. A corda evita surpresas e a posição também, embora já tenhamos visto mulheres estrangeiras ordenhando por trás da vaca.

O chamado tirador de leite profissional, tem que ser bom na munheca para dá conta de dezenas de vacas. É um empregado diferenciado e que sabe todos os truques da vaca em lactação. Outra coisa que sabemos é que tudo é leite das vacas que comem no mesmo pasto, usam da mesma ração, bebem da mesma água, mas algumas têm o leite muito mais saboroso dos que as suas parceiras de cercado. Esse tema faz lembrar uma página do livro “Lampião em Alagoas”, quando numa certa manhã, já no claro do dia, passa o bando de Corisco e Dadá e vê minha tia Doroteia, ordenhando, sentada no banquinho e saia rodada. O chefe do bando passa direto sem mexer com ninguém, aponta para Doroteia e diz: “Veja ali aquela dona, parece uma princesa!”.

Quando íamos ao curral de ordenha, levávamos sempre os nossos copos para a bebericagem do leite quentinho do peito da vaca. Uma delícia e que nada acontecia aos outros, mas a mim a diarreia era certeira após alguns poucos minutos. Mas é muito bom quando o vaqueiro diz: “Vou arranjar o leite mais saboroso de todos para você”, aponta com o dedo e diz o nome da vaca. E para quem é da capital e pensa que leite verdadeiro vem da caixinha, precisa visitar um curral de gado bem sertanejo na hora da ordenha. Faça como nós. Veja o leite espumante, quentinho na hora...

Você também pode levar um tamborete e aguardar a sua vez, sentado.

Hummm!... Uma delícia!...

É servido?

FAZENDA (FOTO: PINTEREST)