CAÇADAS CONTINUAM Clerisvaldo B. Chagas, 9 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.698   Quando o caç...

 

 

CAÇADAS CONTINUAM

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.698




 

Quando o caçador chegava do mato, da caçada, “desfilava” orgulhoso pelas ruas e pelo comércio com vários nambus e nambus-do-pé-roxo (menor) pendurados em torno da cintura. Desfilava é um modo de dizer, mas ali tinha muito orgulho ao mostrar a todos o resultado do seu trabalho. Geralmente as caças já estavam todas encomendadas ou quase todas.  E o caçador sentia prazer ao ouvir quem passava dizer: “cabra que atira bem no voo”. E atirar bem no voo era a principal virtude do caçador. Estamos falando do profissional a exemplo do saudoso Mário Nambu, o único que cantava melodias de Augusto Calheiro na cidade com o seu vozeirão. Tempos de natureza ameaçada e sem leis. As leis eram apenas as dos proprietários das terras: aceitavam ou não as caçadas.

Faz bastante tempo que não vemos caças nos bares como tira-gosto. Se ainda matam nambu, é coisa escondida dos que moram na caatinga. O que surge com frequência são os pássaros para vender nas feiras. Muitos já vêm com a gaiola caprichada para valorizar ainda mais a ave canora que varia no preço conforme a espécie e o canto. A variação vai de 500,00 ao valor de um automóvel, por isso os viciados procuram burlar a Lei. Vez em quando se noticia à apreensão de aves selvagens nas feiras do Sertão e Agreste. Os pássaros são levados para as reservas mais próximas onde pelo menos ganham a liberdade.  A presença do Nambu, da codorniz, vai ficando cada vez mais rara no comércio. Talvez também nas matas nativas.

Não faz tanto tempo, passávamos na chã de Belém e havia o “Bar do Nambu”. Não foram poucas as vezes em que passamos ali indo e voltando de Maceió e o bar resistindo. Nunca paramos para verificar e nem comer um nambuzinho torrado. Nem sabemos se ainda existe. Na verdade, depois das leis de proteção ambiental, não fica fácil desafiá-las. Portanto, o jeito é ir comprando codorna de criatório, cujo sabor também é excelente, além dos ovinhos pintados que dizem ser afrodisíacos. Falar nisso, lembramos as incumbências de pelar juritis no quintal de casa. Mas isso era no tempo que podia e caçadores diziam que era a caça mais saborosa da caatinga. Devia ser mesmo.

O nambu possui várias denominações conforme os estados brasileiros: Nambu, Inhambu, Lambu, Chororó, Inhambu-Chitã, Perdiz e tantos outras regionalistas. Quer dizer do tupi: ave do voo curto.

NAMBU (WIKIPÉDIA).

  ESPIANDO O GADO Clerisvaldo B. Chagas, 6 maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.697   Maravilha o poder da ...

 

ESPIANDO O GADO

Clerisvaldo B. Chagas, 6 maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.697




 

Maravilha o poder da Web. Inúmeras postagens de vídeos por todos os lugares, principalmente as divulgações amadoras sobre aspectos de feiras e feiras de gado. As feiras de gado estão mostradas pelos estados de Pernambuco e Alagoas, pelo menos são as que mais aparecem. É óbvio que estamos vendo uma melhora significativa no aspecto físico, na qualidade dos bichos, na distribuição do espaço e em mais caprichados currais. Muitas delas respeitando o espaço de cavalos, bovinos e animais menores, mas ainda não vimos postado, um sistema de alimentação, bebida e sombra para isto, a não ser das árvores surgidas do acaso. Feira de gado deveria ser igualmente a uma exposição agropecuária com toda a estrutura para o bem estar animal.

Destaque em Alagoas é a Feira de Gado de Dois Riachos e a chamada Feira dos Cavalos no distrito palmeirense de Canafístula Frei Damião. E a feira no geral que era coisa da Idade Média, para surpresa de muitos, resistiu à modernidade do Supermercado, do Mercadão, do Mercadinho, do hiper e de outras formas de vendas nas cidades e capitais. Os destaques são justamente as Feiras Camponesas e as feiras de gado que ninguém vai levar uma vaca para vender no Mercadinho. Ao contrário de quem pensava que as feiras iam acabar, viu o diferente: cada vez mais revigoradas e divulgadas. No caso da feira de animais de porte, entra e circula milhões de reais nesses municípios que descobriram a mina. Isso sem contar com as prestações de serviços nos entornos dessas feiras, consideradas comércios miúdos, mas que arrecada muito dinheiro e assegura a dinâmica do movimento feireiro.

Almoço quase sempre com galinha de capoeira, a bebida, os artigos de couro, os doces diversos e até cangas, vara-de-ferrão e acessórios para montarias, tapiocas, milho assado, água de coco e muito mais. Como foi dito, parece um negócio miúdo, porém bastante dinâmico e que assegura a sobrevivência de inúmeras famílias e o próprio andamento da feira. Esse movimento que teve início defronte os castelos medievais, portanto, atesta a força da compra livre e da validade desse sistema secular. Nem o moderníssimo sistema de compras pela Web conseguiu abalar as feiras de gado nordestinas. Para quem gosta do ramo, uma grande atração pessoal.

CANAFÍSTULA FREI DAMIÃO (FOTO: TRIBUNA DO SERTÃO).

  POVOADO ÓLEO Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.696   Entre nomes de sítios...

 

POVOADO ÓLEO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.696




 

Entre nomes de sítios e povoados santanenses um nos chama à ordem, mas só sabe a origem da sua denominação quem já leu da minha autoria algo a respeito. Continuo com um trabalho rural em mais de 60% e interrompido que fala sobre o significado dos nomes dos mais de 130 sítios e povoados do município. O mistério do povoado Óleo é um deles. Estranho nome povoado Óleo! Localiza-se bem perto de São Félix. Antes, 2 ou 3 casas num terreno insalubre, esburacado, dentro de   olaria. Hoje, segundo Jorge Santana, secretário, maior do que o tradicional povoado São Félix. Sua evolução aconteceu com bastante rapidez graças aos inúmeros benefícios solicitados pelos seus representantes, a luta do seu povo e a boa vontade da gestora municipal.

Pois bem, o vereador Jaime Costa tinha uma fazenda ali perto e sempre passava pelo futuro povoado. Certa feita viu alguns trabalhadores deixando o trabalho na hora da refeição e disse: “Olhem ali a turma do Óleo!”. Estava o vereador referindo-se a uma comparação que se diz na cidade com frequência: Turma do óleo, aqueles que trocam o óleo dos automóveis nos postos de gasolina e outros serviços relativos. O apelido pegou imediatamente, segundo contou-me de viva voz o saudoso vereador.  E assim, de um lugar que não tinha nada de óleo e sim, barro de olaria, passou a ser chamado estranhamente: “povoado Óleo”.

Sendo o povoado Óleo no mesmo roteiro do povoado São Félix, para os lados da serra do Caracol (falada no primeiro documento sobre Santana do Ipanema), naturalmente é contramão e só vai lá quem tem negócio; mesmo assim encontrou fôlego suficiente para crescer e progredir. Como existe quase uma conurbação entre ambos os povoados, esta conurbação acontecerá em breve. E para quem não sabe, conurbação (palavra feia!) é a ligação de uma cidade a outra devido a expansão das duas, o que pode acontecer também entre povoados. Quando o asfalto for para aquelas bandas, com certeza chegará garbosamente até o lugar Óleo, quem duvida? A propósito, seguindo margeando a serra do Caracol, além do povoado Óleo, pode se chegar por entre grotas e montanhas, às terras queridas do município de Dois Riachos.

MUDANDO O ÓLEO (IMAGEM: PIXABAY).