TRAIPU Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.770     Os três rios mais ...

 

TRAIPU

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.770

 

 


Os três rios mais importantes do Sertão alagoano são: Traipu, Ipanema e Capiá, pela ordem: início de Sertão, médio Sertão e Alto Sertão.

“O rio Traipu nasce no extremo ocidental da serra do Gigante, a noroeste de Bom Conselho, em Pernambuco. Vem para o sul e é atravessado pela BR-316 junto à fazenda São Francisco, a oeste da serra do Gravatá, continuada pela da Brecha. Este rio marca, embora grosseiramente, no trecho inicial, o sertão e o agreste alagoanos, mesmo que uns poucos quilômetros abaixo entre em plena caatinga, pois o sertão e o agreste alagoanos interpenetram-se numa forma ondulante de avanços e recuos, dificultando uma determinação precisa de suas áreas.

Por se encontrar nas proximidades deste limite, apresenta um vale com certa umidade e, ao lado da dessegregação mecânica do seu leito rochoso, já se nota a influência de processos de decomposição química dos minerais menos resistentes a ação das águas. Mas é um rio sertanejo autêntico, mesmo com mais resíduos de água acumulada nas aluviões do vale.

A conquista das suas margens pela pecuária, com a palma da fazenda aludida vem explicar esta condição de umidade de seu vale.

Sua extensão fica em torno de 80 quilômetros e tem como afluentes da margem direita, os rios: Mares, Torta, Galinha e riacho do Sertão; Pela esquerda: Salgado, Campos, Tingui, Craíbas, Sal e Priaca.

Deságua junto à cidade de Traipu, recebendo a invasão do rio São Francisco, pela formação de alagado na sua parte baixa”.

(prof. Ivan Fernandes Limas -1965).

Aprecia-se melhor o rio Traipu, ao se passar pela BR-316, na entrada de acesso a Minador do Negrão. Ali, uma ponte proveniente da antiga estrada de rodagem foi descartada e substituída por uma nova para acompanhar a pista. A ponte descartada continua servindo a carro de boi, burros, cavalos e pedestres, ao lado da outra. De ambas as pontes se avista bem a calha do rio Traipu.

Também pela Al-220, Batalha – Arapiraca, a estrada corta o rio. O seu afluente riacho do sertão, ali abastece um dos maiores açudes de Alagoas: o açude de Jaramataia.

 

LEITO SECO DO RIO TRAIPU VISTO DA BR-316, EM 2016 (FOTO: B. CHAGAS/REPENSANDO A GEOGRAFIA DE ALAGOAS). INÉDITO.

 

  O ARTESÃO Clerisvaldo B. Chagas, 19 de setembro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.769     Fiz uma nova visita...

 

O ARTESÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de setembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.769

 

 Fiz uma nova visita de cortesia ao artista plástico Roninho Ribeiro. Sua oficina, localizada à avenida Castelo Branco, Bairro São José, estava repleta de peças encomendadas e à venda ocupando todos os recantos das prateleiras e do piso. Fiquei admirado com o volume produtivo do artesão que hoje tem preferência pela sucata, embora seja pintor chargista em tela e mexa com os mais diferentes tipos de matéria-prima. O mundo preferencial de Roninho é o Sertão Nordestino, assim como o meu mundo, porém, repleto de cangaceiros e tipos esquisitos que povoam a mente fértil do artista. Vizinho ao seu local de trabalho, está sendo construída há, alguns meses, o complexo da Praça São José, em reforma profunda, talvez isso seja um estímulo para tanta produção em benefício da Arte pelo escultor santanense.

Quase sempre Roninho estar viajando para expor seus trabalhos em inúmeras cidades de Alagoas. Piranhas e Maceió têm sido praças muitas vezes visitadas pelo artista, aproveitando cada evento relacionado à arte. RR é irmão de outra fera da arte, Roberval Ribeiro, hoje estabelecido com a Empresa ROBRAC, continua em pleno vigor esbanjando talento sob encomenda. Os estilos são diferentes entre os irmãos Ribeiro, o que proporciona muito mais opções para o belo mundo das incríveis transformações. Mas ainda na Oficina ou Atelier do Roninho, vejo as novidades entre as peças de cangaceiros, heróis, bandidos e tipos populares, são as      esculturas em madeira representando gamelas que atualmente são modas no ambiente de apartamentos.

Na esquina entre a CONHB e o conjunto São João, o alto da residência de Roninho deslumbra na paisagem possante da margem direita do rio. As barreiras paralelas ao Ipanema e o casario rumo ao Hospital e a serra da Remetedeira, parecem inspirar o dia a dia do artesão do cangaço. Interrompo o artista que não pode perder tempo, pois vai aperfeiçoando as peças de encomendas coestaduanas e a expectativa aguçada de novas visitas. Aproveito o ensejo e encomendo duas peças para futuro ex-votos. O artista abraça o desafio e eu desço a colina montado na esperança do seu manuseio.

Como é fácil para Roninho fazer um mundo de faz de conta!

Encontro nas obras da praça, personagem semelhante aos do atelier.

É a vida que imita a arte ou a arte que imita à vida?

ARTESÃO RONINHO RIBEIRO (FOTO: B. CHAGAS).

 

  GLU-GLU-GLU Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.768   Não amigo (a), vo...

 

GLU-GLU-GLU

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.768

 


Não amigo (a), você não estar vendo nenhum título estranho nesse trabalho. É mesmo o som emitido pelo peru nos terreiros das nossas fazendas sertanejas e nordestinas. Embora vá ficando cada vez mais raro, aqui, acolá, encontramos terreiro rural como antigamente, repleto de galinhas, galo, peru, patos, gansos, capãos, pintos, frangos e pavão. A raridade acontece por conta da mudança de hábitos com o tempo. Ninguém quer mais ter trabalho com o criatório, mas comprar tudo pronto no comércio fornecido pela indústria. Milho desolhado, xerém, castanha, ovo de granja, café em pó e assim por diante. Corríamos atrás dos perus somente para vê-los fazer glu-glu-glu ou quedávamos na admiração da sua roda exibidora de penas e marcha miúda.

O peru é descendente do peru selvagem da américa do Norte, gênero Meleagris gallopavo, pode viver na fazenda até dez anos e pesar em torno de 12 quilos. Encontramos o peru preto e o marrom nos terreiros e vamos descobrir o branco nas granjas especializadas. O peru é encrenqueiro, arenga sempre com o galo e com o pavão e tal os gansos, costuma alarmar com a presença de estranhos. Era sempre reservado para a alimentação das grandes festas das fazendas: batizado, casamento e noivado e como reserva para a grande festa de Natal. Apesar de tudo, nem todas as pessoas apreciam a carne de peru e nem os ovos da perua que não é como a galinha que põe todos os dias. Carne e ovos deliciosos!  Naturalmente estamos falando dos produtos da fazenda e não da industrialização.

O peru já foi bastante valorizado, tanto pelo sabor quase exótico quanto pelo volume de carne encontrado na sua carcaça. Vendidos nos povoados e vilas o “peru sevado” eram servidos aos padres que antes andavam pelos sítios rurais casando, batizando, pregando, principalmente em vilas, fazendas e povoados. Sentar ao lado do padre, além de muito prestígio, ainda era a sorte grande para comer peru, capão e galinha gorda especialmente enchiqueiradas.

A beleza da ave depende dos olhos de quem a vê, pode ser bela ou feia, mas não se pode comparar com o pavão, embora seja bem caprichoso no eriçar das penas. Mas se o amigo (a) não gosta da ave encrenqueira, a casa aceita.

Por hoje, chega de tanto glu-glu-glu.

PERU MARROM (FOTO: WIKIPÉDIA).