SOBRE MIM
Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
ENCERRAMENTO Clerisvaldo B. Chagas, 18 de outubro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.785 Foi encerrada com...
ENCERRAMENTO
Clerisvaldo
B. Chagas, 18 de outubro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.785
Foi
encerrada com procissão de muitos veículos neste último domingo, a grandiosa
Festa de São Cristóvão, em Santana do Ipanema, uma das maiores do Sertão
alagoano. A procissão dos condutores entrou pela noite com muitos cânticos e
foguetórios, levando muitas saudades para os festejos ao santo no ano que vem.
Muitas pessoas, além de acompanharem o cortejo, aproveitaram para pagar ou
renovar promessas ao santo padroeiro da Paróquia de São Cristóvão, no Bairro
Camoxinga. Cada vez mais vai sendo firmada a tradição que atrai devotos de
todas as cidades sertanejas. Os devotos já não se conformam com apenas veículos
motorizados e participam dos festejos a pé, a cavalo, de carroça de burro, bicicleta
e carro de boi, demonstrando que todos são condutores e merecem a proteção do
transportador do menino Jesus.
E
no mês que nunca chove, desta feita choveu levemente na parte da manhã, como se
a chuva quisesse aguar a passagem da procissão que iria ser realizada no turno
vespertino. De qualquer maneira é sempre um êxito total da Igreja Católica
durante a já famosa Festa de São Cristóvão, que além dos seus atrativos
religiosos e internos, conta com a parte profana que toma três ou quatro ruas e
mais o Centro de Convivência onde ficou armado para jovens e adultos, um parque
de diversões. Após as solenidades religiosas, a festa profana segue noite a
dentro nas barracas, nos bares, nas ruas, no parque, com a culinária nordestina
a todo vapor junto aos diversos tipos de bebidas
Assim
vai passando da metade do mês do outubro, com o tempo mudado num processo
climático que favorece amplamente o Sertão. A Matriz de São Cristóvão, situa-se
no bairro Camoxinga em lugar privilegiado e por elas já passaram inúmeros
párocos que vão deixando marcas indeléveis na Paróquia.
Santana
vai vivendo entre o trabalho e as festas como a de senhora Santana, a da
Juventude, a da emancipação e outras que trazem felicidade momentâneas para o
sofrido guerreiro sertanejo. Não são poucos os santanenses que se encontram em
outras cidades, estados ou regiões, mas não deixam de comparecer aos festejos
promovidos por ambas as paróquias da cidade. O hino a São Cristóvão é uma das
atrações máximas cantado e decantado pelas multidões e que ressoa
indefinidamente após as solenidades.
Orgulho
em ser santanense.
MATRIZ
DE SÃO CRISTÓVÃO, EM DIA COMUM. (FOTO; B. CHAGAS).
MARIA DE BARRO Clerisvaldo B. das Chagas, 17 de outubro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.784 Uma das c...
MARIA
DE BARRO
Clerisvaldo
B. das Chagas, 17 de outubro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.784
Uma das coisas curiosas do Sertão, sem dúvida
alguma, é o ninho, também chamado casa, do João de Barro. Motivo de admiração
de nativos e forasteiros, de canções e de repentes de violeiros nordestinos.
Como pode um casal de passarinhos fazer uma casa de barro, apenas transportando
argila e construindo com o bico? Em algumas regiões do Brasil, a fêmea é
conhecida como Joaninha de Barro, mas em nosso Sertão alagoano ela é chamada de
Maria de Barro. Pássaro canoro, plumagem bela e discreta é muito respeitado
pelo homem do campo que não o ataca e vê nos seus atos um grande exemplo da
grandeza de Deus. Possui o apelido de “pássaro-arquiteto”, “pássaro-construtor”,
“pássaro-engenheiro” e “pássaro-pedreiro”.
Muita coisa se fala sobre o João de Barro,
verdades e lendas. Uma delas é que o casal não trabalha dia de domingo. É o
homem do campo quem afirma, mas os pesquisadores dizem que trabalha todos os
dias quando está construindo a casa. É verdade, porém que, à semelhança dos
papagaios e araras, o casal é monogâmico e só arranja outra companhia se por
acaso morrer o parceiro ou a parceira. A casa do João de Barro, erguida pelo
casal, possui dois cômodos, sendo um deles uma espécie de sala de visitas, que
é uma passagem para um quarto onde é feito o ninho que tem uma entrada muito
apertada para evitar predadores. O João de Barro e a Maria de Barro, tanto
trabalham quanto cantam, momentos em que deslumbram cada vez mais o observador.
A fêmea põe e choca os ovos, três a quatro,
cujos filhotes irão nascer catorze dias após. As penas do João e da Maria de
Barro têm a cauda avermelhada, peito branco e o restante cor de terra ou
ligeiramente marrom. Alimentam-se de larvas, insetos e grãos. A casa de barro
tem a entrada sempre virada contra o vento e a entrada pode ser mais à direita
ou mais à esquerda, conforme as habilidades para o trabalho. O João de Barro
costuma fazer a limpeza da sala, retirando fezes e as jogando fora. A
arquitetura é realizada quase sempre num galho mais robusto com formação de
forquilha. De qualquer maneira o casal de pássaros não faz o ninho às
escondidas, é sempre visível ao homem e aos bichos.
No Brasil inteiro o casal João e Maria de
Barro, é símbolo de AMOR
JOÃO E MARIA DE BARRO (CRÉDITO: PINTEREST).
CARRO DE BOI – ALGODÃO Clerisvaldo B. Chagas, 14 de outubro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2783 Nada mai...
CARRO DE BOI – ALGODÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de outubro de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2783
Nada
mais bonito de que um carro de boi carregado de palma forrageira gemendo pelas
estradas do sertão. Muito mais bonito ainda e esperançosa, era uma carga de
algodão no rumo das algodoeiras, sinônimo de esperança e progresso para o
campo. Roçados enormes alvos e repletos de algodão fizeram feliz a área
sertaneja do meu estado, por muitas e muitas décadas. Vi muito, morador de
fazenda enchendo e socando sacas de algodão. Sacos enormes de estopa que em
comprimento tomava toda a mesa do carro, eram pendurados nas linhas dos
telhados dos armazéns, bocas abertas, escoradas por rodas finas de pneu e o
agricultor ali dentro do saco, de pé, recebendo o algodão e o apiloando com os
pés. Tempos depois, o saco era pesado em balança de peso de chumbo, empilhado
para “ser levado à rua”.
E
o carro de boi em frotas, seguia para a vila, para à cidade, onde era vendida a
mercadoria nos armazéns ou diretamente às algodoeiras que transformavam o
produto em capulho, retirando o caroço vendido como ração para matar a fome do
gado leiteiro.
As
máquinas complexas daquelas indústrias, Santana do Ipanema, Olho d’água das
Flores, já deixavam o algodão preparado em fardo envolvido com fita de metal.
Ali aguardavam os caminhões para o transporte aos grandes centros do País.
Muito dinheiro circulando, fazendo enricar cada vez mais o chamado industrial
do algodão e impulsionando para cima o homem do campo. O fechamento de todas as
indústrias têxteis de Alagoas, depois o inseto “bicudo” que arrasou os
algodoais Sertão/Agreste, deixou a grande região nordestina gemendo até hoje.
Verdade
que não vínhamos tantos empregados assim nas algodoeiras, mas os campos
formavam muita gente para a colheita; cada lote de 100 trabalhadores era
chamado “batalhão”. Homens e mulheres protegidos do sol com chapéu de palha e/ou
panos amarrados à cabeça, bisaco grande a tiracolo. Tempo depois das tragédias,
inventaram o plantio de sorgo, mas não deu certo. Partiram para o incentivo à
mamona para a indústria do biodiesel, mas não houve êxito. Naturalmente a
mamona ou carrapateira prolifera por todos os quintais de Santana do Ipanema e
até no leito seco do rio Ipanema, nos trechos urbanos mais poluídos. Usada como
produto medicinal, era a mamona que, com a extração do seu óleo, azeitava o
eixo do carro de boi, tornando-o cantador; ainda iluminava nas candeias e em postes
de rua.
CARRO
DE BOI, TRANSPORTE DO ALGODÃO (FOTO: COMUNIDADE COEP).
Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.