VEM-VEM Clerisvaldo B. Chagas, 2/3 de janeiro de 2023 Escritor símbolo do sertão alagoano Crônica:   2.823 Vivo sempre escutando/A...

 

VEM-VEM

Clerisvaldo B. Chagas, 2/3 de janeiro de 2023

Escritor símbolo do sertão alagoano

Crônica:  2.823

Vivo sempre escutando/A cantiga de vem-vem/Quando ouço ele cantando/Penso ser você que vem.

Você já ouviu o canto do Vem-Vem? Já ouviu a música cantada por Luiz Gonzaga: Vem-Vem? É música saudosa, dessas tipo roedeira, que representa muito bem o sentimento sertanejo e a crença no pássaro incrível, também chamado em alguns lugares de Pitiguari. Sua presença ocorre em quase todo o Brasil, mas queremos apresentá-lo no folclore sertanejo e na saudosa música cantada por Gonzaga, imortalizando mais um personagem das caatingas. É chamado de Vem-Vem porque quando uma pessoa está pensando em outra, distante, às vezes na sua vida surge o passarinho cantando, cujo canto é interpretado como vem, vem. E não demora muito, a pessoa ausente chega à casa do ouvinte esperançoso do vem-vem.

Não bastasse as aves também imortalizadas por poetas, escritores e repentistas, chega o Pitiguari marcando presença. Existem as aves agourentas de morte (já expostas aqui), as que avisam sobre a proximidade da seca, os bichos que prenunciam chuvas de inverno e trovoadas, as que denunciam o inimigo humano e o Pitiguari avisando da chegada de um ausente. O Vem-Vem, Cyclarhis guianensis, mede, aproximadamente, 15 centímetros e pesa 28 gramas. Macho e fêmea são semelhantes e se alimentam de invertebrados, lagartixas e frutas. Tem domínio em todos os biomas brasileiros e a crença semelhante em todos eles.

Você já percorreu o “Reino Sertanejo” com todos seus mistérios do tempo da flora e da fauna?  Cada vez em que você palestra com um agricultor, com um benzedor, com um garrafeiro ou com um simples habitante da caatinga, descobre tanta coisa nova para você e que algumas delas, pode até mudar a sua vida para melhor. E sobre o Vem-Vem, conheci-o pela primeira vez como Pitiguari, no romance “Curral Novo”, do saudoso escritor palmeirense, Adalberon Cavalcanti Lins. Mas nem só de Vem-Vem vive a saudade sertaneja. E quanto o Sertão alagoano, continua cada vem mais bonito com esse tempo atípico, jamais visto pelos mais velhos.

Hoje está nublado, frio e úmido em pleno início de janeiro, pode?

VEM-VEM (CRÉDITO: WIKIPÉDIA)

  SOB O CÉU AZUL DA SEMENTEIRA Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.822   ...

 

SOB O CÉU AZUL DA SEMENTEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.822



 

Dia 28 de céu azul, limpo, maravilhoso e sol moderado, excelente para um passeio nos campos. Foi nesse tempo em que deixamos a cidade em busca da zona rural. Mato chovido e campos verdes, perfume da mata nas narinas ansiosas e árvores frutíferas por toda parte, íamos em direção ao sítio Sementeira localizar uma devota do padre Cícero Romão. Conseguimos o primeiro objetivo e fomos recebidos com intensa alegria e gentilezas, até conseguirmos da senhora procurada, um leque de depoimentos de graças obtidas por ela. A devota contava graças alcançadas, se emocionava, chorava e interrompia o diálogo, por minutos... Isso também fazia emocionar seus entrevistadores. Ao fim de uma longa conversa todos estávamos felizes, radiante com tudo que estava acontecendo.

Com mais duas graças alcançadas, catalogamos com numeração, título e foto, avançando assim em nossa proposta inicial, contínua e imutável. Passamos em mais da metade do livro que está sendo arquitetado “100 Milagres Nordestinos”, inéditos. Estamos bem próximo dos ¾ dos testemunhos propostos e ainda falta visitarmos a Associação de Romeiros da cidade de Ouro Branco, cujos associados vão a pé a Juazeiro todos os anos. Entretanto, ainda nos falta também uma visita a um sítio rural distante de Santana e ouvir um grande empresário santanense que também sempre está indo a pé a Juazeiro. Estamos prevendo que o livro estará encerrado antes da grande festa da pedra do Padre Cícero, dia 20 de julho, onde o livro será distribuído gratuitamente aos devotos em geral, aos depoentes dos milagres e ainda o envio do livro à Diocese do Crato, Ceará.

Como é prazeroso pesquisar! Pesquisar qualquer coisa a que você se propôs; e quando as descobertas são realizadas ao vivo na zona rural o prazer se apresenta dobrado. Mas é bom saber que são importantes o amor ao que se faz, paciência, algumas condições financeiras e de transportes, claro, além do tempo disponível. Mas como advertimos outra vezes, pesquisar é como pescar ou caçar. Dia não se pega peixe, é o dia do peixe. Dia você retorna abarrotado da sua pesca. Porém, não deveremos apenas confiar na sorte, mas sim, planejar o mínimo para o êxito que vai coroar o seu dia.  

Esquecemos de pedir autorização sobre divulgar o nome do nosso parceiro na Sementeira que estava com esposa e filho naquela empreitada.

ESTÁTUA AO PADRE CÍCERO DIANTE DA SUA IGREJINHA NO BAIRRO LAJEIRO GRANDE. (FOTO: B. CHAGAS).

  NO TEMPO DA CACHAÇA Clerisvaldo B. Chagas, 28 de dezembro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.821 Vamos escreve...

 

NO TEMPO DA CACHAÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de dezembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.821


Vamos escrevendo para uma cidade sem memória e uma juventude que não encontra a história do município. Com essa conversa atual de rota da cachaça, em Alagoas, lembramos mais uma vez que tivemos uma cidade fabril, inclusive com fabriquetas de aguardente. O senhor João Aquino tinha uma fábrica de refrigerante, “Guaraná Globo”. O senhor Júlio Pezunho tinha uma fábrica de colchões, o senhor Antônio tinha uma fábrica de vinagre. No bairro Floresta havia uma fábrica de cordas. Três fábricas de calçados, uma fábrica de bolos e duas fábricas de carne-de-sol. Quanto ao fabrico da aguardente, em Santana do Ipanema, servia bem para abastecer o mercado local. Quanto a qualidade, nunca ouvimos falar sobre se o líquido era bom ou ruim.

Na esquina da Travessa Antônio Tavares para a Rua Nova, casa comprida de Manoel ou José Lopez, dizia o povo que se produzia cachaça.  No comércio, muito mais abaixo da igrejinha de São Sebastião, o irmão do padre Bulhões, Antônio Bulhões mantinha uma fábrica de cachaça e fazia as entregas no caçuás em lombo de jumento. Por trás da atual Loja Maçônica, “Amor à Verdade”, havia a destilaria do senhor Sinval, morador da rua Nova, jovem ainda, bigode a Castro Alves e que gostava de recitar poesias do poeta Zé da Luz. Algumas dessa fabriquetas de aguardente também produziam vinagre. Ainda não vivíamos o auge de marcas de aguardentes famosas e fabricada em larga escala pelo estado vizinho de Pernambuco, mas já se falava numa tal de “Azuladinha das Alagoas”.

Quanto a fruta jurubeba, produz uma bebida também chamada jurubeba e está incluída nas bebidas alcoólicas do estado. Embora houvesse muitas plantas nativas jurubeba na região de Santana do Ipanema, a bebida era importada e de cunho popular. E nas margens da rodovia Palmeira dos Índios – Arapiraca, via Igaci, proliferava a planta jurubeba ao longo de toda rodovia. Surgiu uma fábrica no distrito Canafístula, Palmeira dos índios, cujo depósito de madeira era tão alto que parecia uma louvação à bebida. Tempos depois fomos visitá-la, mas a fábrica de jurubeba havia cerrado suas portas.

Atualmente se fala muito em rota da cachaça na região agrestina, porém, Santana do Ipanema não possui mais nenhuma fábrica de aguardente.

Entretanto, com fábrica ou sem fábrica, com destilaria ou sem, os bebinhos da Terra de Senhora Santana continuam sem trégua na rota da cachaça.

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