ZUMBI NO IPANEMA Clerisvaldo B. Chagas, 14 de julho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.927   Eu ainda não ha...

 

ZUMBI NO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de julho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.927

 



Eu ainda não havia ingressado no Ginásio Santana, quando alunos daquele Estabelecimento de Ensino, aproveitaram uma aula de história e montaram uma peça teatral sobre o herói negro Zumbi dos Palmares. Deve ter sido um grande sucesso, mas eu não me encontrava presente. Contudo, vi quando desceu do Ginásio aquela turma de estudantes pretos de carvão em direção ao banho noturno no rio Ipanema. O aluno Marcos, que fazia o papel de Zumbi, era muito alto, trabalhava nos Correios e, parecia ainda comandar os comaradas fora do palco. Desceram pela rua que antecede o Bairro São Pedro, onde havia a bodega de “Seu Carrito”, e foram para os poços e cacimbas limpar a cara do pretume. Nossa! Até à noite o Ipanema estava à disposição de quem dele precisava.

 

Quando as lavadeiras do rio Ipanema denunciaram na delegacia que os machos estavam tomando banho nus no poço dos Homens, o delegado civil José Ricardo, proibiu a prática no poço. Os gaiatos da cidade, todos “filhos de papai”, vestiram-se com terno e gravata e desceram para o poço dos Homens, conclamando a população para os acompanharem ao banho. Não vi o movimento, mas sim a notícia. O certo é que os rapazes mergulharam no poço dos Homens de terno e gravata, sim. A repercussão humorística ganhou todos os quadrantes de Santana do Ipanema e não faltavam risos frouxos na urbe. Foi terrível para o delegado. Não houve, porém, nenhuma consequência danosa a qualquer das três partes envolvidas. Somente comédia.  Muita comédia!

 

Tudo já foi contado por aqui. O Ipanema sempre abraçando e sendo o ponto de diversão santanense. Foi por isso que o famoso e boêmio sapateiro “Tarde Fria”, correu da polícia, por isso ou por aquilo, sendo perseguido de perto pelos policiais. Tempo de inverno, Panema cheio, e a polícia pega-não-pega “Tarde Fria”.  O sapateiro aprumou pelo Beco São Sebastião e foi bater nas pedras lisas do poço dos Homens. Dali pulou com terno e tudo e a polícia esbarrou na água. Na outra margem, surgiu o boêmio todo molhado e deixando a água escorrer tenho abaixo. Acenou para os soldados e saiu cantando para os lados onde morava: “Tarde Fria, sinto frio na alma, só você vem e me acalma...”.

Ah! Nunca é demais falar no rio Ipanema.

RIO IPANEMA (FOTO: SÉRGIO CAMPOS).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  SISAL – AGAVE Clerisvaldo B. Chagas, 13 de julho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.926   Agave é um gênero ...

 

SISAL – AGAVE

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de julho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.926

 



Agave é um gênero de planta da subfamília Agavoideae, originária do México, Estado Unidos, América Central e América do Sul. Aqui no Brasil, tem a Paraíba e a Bahia, como grandes produtores. É planta, sim de região seca, fibrosa que nasce em touceira arredondada, folhas duras e longas com espinhos fortes na pontas. Aqui no sertão de Alagoas, chamamos o Sisal de Agave e. se tem alguma diferença nunca notamos nada. Nem todos os lugares do nosso sertão produzem agave. É uma planta que serve para fazer barbante, corda, tapete, sacos e artesanato. Uma extensa plantação visa vender o produto para se fazer cordas, principalmente em épocas que ainda não havia a corda sintética. Dizem que o México faz tequila com o agave, mas nunca vimos falar nessa invenção em nossas plagas.

O município de Senador Rui Palmeira, quando ainda estava em formação, se chamava “Usina”, istó é, local de fazer corda, usina de fazer corda e cordão. A agave tem a vantagem de ser plantada em larga escala, enquanto outras plantas contribuem mais como espécies nativas coletoras.  Somente conheci em Santana do Ipanema, uma fabriqueta de corda a céu aberto, muito rudimentar e que se localizava no Bairro Floresta, margem do Ipanema. Mas ao mesmo tempo em que falo sobre esse tema, recordo da minha própria pessoa, montado numa cangalha de jegue, repleto de produtos da roça em caçuás e trilhando pelos caminhos de barro vermelho do roçado; tudo isso no sopé da serra Aguda. Sim, lembro que o tangedor do animal se chamava Cololô, filho de Sérgio, nosso caseiro.

E como já foi dito aqui sobre várias indústrias insipientes de nossa terra e do sertão inteiro, os proprietários dependiam unicamente da própria sorte. Nada de incentivo do poder público e, se havia algum incentivo de determinado “coronel” era para tomar-lhes o pouco que possuíam. Vez em quando precisamos de uma corda para colocar no punho da rede, um rolo de barbante... Mas que pena, estarmos comprando produtos de outros estados e de outras Regiões Geográficas, porque nunca houve a valorização pelo que é nosso. Já se fala (pesquisadores brasileiros) em novos e surpreendentes produtos feitos com a agave.

E agora José?

Morrer na faca cega.

PLANTAÇÃO DE SISAL – AGAVE (ROBSON DE ANDRADE SANTOS – WELLINGTON BRANDÃO).

 

 

  ARTESÃO SELEIRO Clerisvaldo B. Chagas, 12 de julho de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.925   Se um artesão já...

 

ARTESÃO SELEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de julho de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.925



 

Se um artesão já é uma pessoa inspirada e habilidosa, imaginem um artesão seleiro! É que um sela para chegar à vitrina, passa por várias etapas que impressionam em cada detalhe. E ao terminar o fabrico de uma sela, simples ou de alto luxo, podemos dizer sem errar que estamos diante de uma verdadeira obra-de-arte. Existem inúmeros especialista espalhados por todo o território nacional, nodadamente, em regiões onde o cavaleiro é um destaque nato. E nesse trabalho dos profissionais do couro, especialmente o seleiro, existem pequenas máquina que ajudam aqui ou ali, mas estamos mais focados no seleiro do sertão nordestino, aquele que confecciona à mão todo o seu trabalho.

Tivemos grandes artesãos do couro, em Santana do panema, como Mestre Alexandre, Gervásio e Nestor Noia, mas não podemos afirmar que eles fossem seleiros. Aliás, pegamos a imagem de Nestor Noia, do nosso tempo e, por ter sido um tipo marcante, demos a ele outro nome e o fizemos motorista de caminhão de couros e peles, no romance “Fazenda Lajeado”, (ainda inédito). Interessante na arte, são os nomes das inúmeras peças que compõem uma sela como: assento, estribo, suador, pito, barrigueira, paralama, virola, aba traseira, margarida, aba do suador, cabeça, garganta, argola dianteira, argola traseira, aba de assento e correia de paralama... Não iremos detalhar a função de cada peça que podem ter denominações diferentes nos vários tipos de selas e em outras regiões do país.

Uma sela tem validade pelo menos de uns quinze anos, dependendo também do zelo do dono. Pode custar na faixa entre 400,00 a 600 reais. Mas, conforme coisas extras que se pede, pode alterar bem os custos básico do artefato. Um trabalho bem feito exige qualidade, beleza e conforto, coisas que não faltam nas mãos de mestres famosos ou não. A beleza complexa da arte da sela, não deve encobrir a confecção da cangalha para animais cargueiros, pois nessa particularidade o artesanato, também têm seus mestres tão famosos e procurados quanto os seleiros. A cada ano aumentam as encomendas de sela no país para o vaqueiro, para o trabalhador da fazenda, para o esportista e para o competidor de corridas...

Deus semeou talento nos quatro cantos da terra.

SELA (IMAGEM PIXABAY).