OS
CONTRASTES E OS HOMENS
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de fevereiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.259
NATUREZA EM SANTANA |
Do
restaurante, eu contemplava a paisagem do rio e os quintais da casa. Entre os
frutos do pomar destacava-se uma goiabeira esguia e quase pelada. Mesmo assim
estava repleta de frutos amarelinhos e apetitosos. O dono se aproximou e disse
que os produtos da goiabeira já haviam sido coletados. Indaguei, então, por que
aquelas goiabas do olho do pau continuavam ali. Ele me respondeu que os frutos
da parte superior eram dos passarinhos.
De fato, havia pássaros cantando e saltitando em ambos os quintais emendados.
Como na vida dificilmente se acha uma resposta dessa, fiquei surpreso com o
amor do homem à natureza e à educação com as aves canoras. Fora preciso berço
para se chegar à sabedoria.
Mas
não encontrei o mesmo carinho em reserva particular sob a tutela do governo. Os
pássaros e outros animais selvagens apreendidos nas feiras, são recolhidos e
jogados na reserva. Não somente na que eu visitei, mas também nas demais
reservas sertanejas. Muitas vezes animais diferentes de várias regiões. Não
existe recepção alguma aos novatos. Nenhuma assistência à saúde. Não se procura
saber sequer se existe alimento na área. Não se vê um só fruto no mato seco,
mas as criaturinhas de Deus batem asas para o matagal. Que adianta tirar os
pássaros das mãos dos contraventores e soltá-los sem o mínimo de assistência?
Foi por isso que indaguei ao proprietário da reserva sobre o descompromisso com
o meio ambiente. Nesse momento colhi o desabafo da sua revolta com o governo.
Quanto
ao problema da proibição, parece que não tem quem consiga êxito na empreitada.
Um pássaro raro custa uma fortuna. As aves canoras asseguram um comércio seguro
de muito dinheiro. Visitei um cidadão em Arapiraca apaixonado por esse tipo de
comércio. Passarinhos por todos os lugares da casa. Ia falando sobre cada um
deles, exaltando suas qualidades e dizendo o preço aproximado de cada. Havia
uma variação entre 1.500 a 5.000 reais. Já enjeitara tanto naquele e naquele
outro. Como poderia sair daquele comércio apaixonante? Tratamento de primeira
qualidade, mas sem a liberdade para as criaturas.
Sei
não... Fazer o quê, se nem todos eram sábios como o dono do restaurante!...
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