quarta-feira, 14 de junho de 2023

 

O CALUNGA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2023.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.906

 



Em torno dos anos 60, o caminhão ainda era em nossos sertões, uma novidade boa e agradável. É certo que ele veio desde o início do século XX e fazia muito sucesso por onde chegava. Fazendo serviços básicos para o sertão era uma espécie de substituto dos almocreves (tropeiros) e suas maravilhosas tropas de burros. O escritor santanense Oscar Silva já falava do caminhão em seu romance “Água do Panema”, com base nos anos 20 e 30. As estradas dos antigos carros de boi iam se alargando dando passagem ao veículo motorizado que transportava diversos tipos de mercadorias entre as regiões do estado. Nos anos 30, os caminhões levaram nordestinos para a Revolução Paulista, trouxeram de Piranhas as cabeças de Lampião, Maria Bonita e nove sequazes, foram essenciais para as indústrias e comércio geral da época.

Portanto, nos anos 60 o motorista de caminhão (não o dono), tinha bastante prestígio popular. Cada caminhão, além do motorista, tinha um empregado fixo encarregado da carga e descarga do veículo, além de ser o encarregado de colocar o “cepo”, por trás do pneu, para maior segurança dos estacionamentos em aclives e declives. Esse subalterno não tinha tanto prestígio assim, mas tinha muita amizade e conhecimento no meio em que vivia. Era denominado por todos de “calunga”, “calunga de caminhão”. (Na língua banto significa lugar sagrado).  O calunga se encarregava do cepo, da cobertura da caga com a lona, dos cuidados grosseiros do caminhão. Geralmente era alto, preto e forte, mas também havia o tipo caboclo.

Vem à lembrança ainda de caminhoneiros conhecidíssimos na   década de 60 como José Cirilo e Plinio, irmão de Eduardo Rita. Seu Plinio como era conhecido, gostava de narrar suas aventuras com o caminhão marca Chevrolet, Narrações perfeitas que imitavam o caminhão carregado, chorando nas subidas e as marchas usadas, como a “prise”. Quanto ao calunga, por si só já era uma denominação engraçada. Atualmente o caminhão não é mais novidade, mas ainda encanta muitos pretensos motorista tanto no Brasil quanto na América Latina. Falar nisso, depois explicaremos as diferenças entre América do Sul, América Latina, América do Norte e América Central.

Hoje os caminhões são verdadeiras máquinas de avanço tecnológico, não existe mais auxiliar, profissão extinta.

Quem viu CALUNGA, viu, quem não viu, não mais verá.

CAMINHÃO CHEVROLET 1959 (PINTEREST).


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