O
CALUNGA
Clerisvaldo
B. Chagas, 15 de junho de 2023.
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.906
Em
torno dos anos 60, o caminhão ainda era em nossos sertões, uma novidade boa e
agradável. É certo que ele veio desde o início do século XX e fazia muito
sucesso por onde chegava. Fazendo serviços básicos para o sertão era uma
espécie de substituto dos almocreves (tropeiros) e suas maravilhosas tropas de
burros. O escritor santanense Oscar Silva já falava do caminhão em seu romance
“Água do Panema”, com base nos anos 20 e 30. As estradas dos antigos carros de
boi iam se alargando dando passagem ao veículo motorizado que transportava
diversos tipos de mercadorias entre as regiões do estado. Nos anos 30, os
caminhões levaram nordestinos para a Revolução Paulista, trouxeram de Piranhas
as cabeças de Lampião, Maria Bonita e nove sequazes, foram essenciais para as
indústrias e comércio geral da época.
Portanto,
nos anos 60 o motorista de caminhão (não o dono), tinha bastante prestígio
popular. Cada caminhão, além do motorista, tinha um empregado fixo encarregado
da carga e descarga do veículo, além de ser o encarregado de colocar o “cepo”,
por trás do pneu, para maior segurança dos estacionamentos em aclives e
declives. Esse subalterno não tinha tanto prestígio assim, mas tinha muita
amizade e conhecimento no meio em que vivia. Era denominado por todos de
“calunga”, “calunga de caminhão”. (Na língua banto significa lugar
sagrado). O calunga se encarregava do
cepo, da cobertura da caga com a lona, dos cuidados grosseiros do caminhão.
Geralmente era alto, preto e forte, mas também havia o tipo caboclo.
Vem
à lembrança ainda de caminhoneiros conhecidíssimos na década de 60 como José Cirilo e Plinio,
irmão de Eduardo Rita. Seu Plinio como era conhecido, gostava de narrar suas
aventuras com o caminhão marca Chevrolet, Narrações perfeitas que imitavam o
caminhão carregado, chorando nas subidas e as marchas usadas, como a “prise”.
Quanto ao calunga, por si só já era uma denominação engraçada. Atualmente o
caminhão não é mais novidade, mas ainda encanta muitos pretensos motorista
tanto no Brasil quanto na América Latina. Falar nisso, depois explicaremos as
diferenças entre América do Sul, América Latina, América do Norte e América
Central.
Hoje
os caminhões são verdadeiras máquinas de avanço tecnológico, não existe mais
auxiliar, profissão extinta.
Quem
viu CALUNGA, viu, quem não viu, não mais verá.
CAMINHÃO
CHEVROLET 1959 (PINTEREST).
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