SOMBRINHAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2010)
Vou conversando sob o sol forte da capital. Os assuntos são vários, mas de repente entro na matéria sombrinha. Nunca mais havia visto mulheres de sombrinhas. Será que elas não usam, em Maceió? A pessoa me explica isso e aquilo, mas não fica bem clara a ausência do objeto nas ruas. Talvez para me contrariar, encontramos na esquina uma senhorita portando uma. Ficamos admirados e alegres com a prova repentina. Não resisto, paro a mulher e falo da conversa que eu vinha puxando. Ela ri. Fica feliz por ter sido parada por desconhecidos para trocar gentilezas. Diz que gosta de usar aquela armação, novamente ri e vai em frente. Vejo elegância intransferível na mulher que usa bolsa a tiracolo, suspensa ao ombro, ou a sombrinha aberta, protetora do sol e da chuva. Toda mulher fica elegante ao usar bolsa; toda mulher é bonita usando sombrinha. São duas coisas completamente desiguais do sapato alto que tanto classifica o bom gosto quanto ressalta o ridículo. Depende da pessoa e das circunstâncias.
Ninguém se arrisca a dizer quando surgiu a sombrinha. É certo, contudo, que a arte registra a sua existência no Egito, China e Pérsia. No Egito as sombrinhas serviam ao faraó com uma serva encarregada dessa tarefa. Depois o seu uso passou a Grécia e Itália servindo aos dirigentes também com sentidos simbólicos. Para eles havia uma relação entre o arco celeste e a soberania. De qualquer maneira, a sombrinha, primeiro funcionou para as classes altas entre gregos e romanos. Somente veio a se popularizar na Europa, durante a Renascença Italiana. Mesmo assim já havia se tornado comum durante todo o decorrer do império romano. A França propagou o seu uso no século XVII e, a vizinha Inglaterra, a partir do século seguinte.
Vendi muitas sombrinhas, guarda-chuvas, chapéus, capotes e lonas. Inclusive vejo nos caminhões de hoje as lonas com a mesma marca de quando eu as vendia. Será que ainda vou conhecer a fábrica de lonas “Locomotiva”? Os panos das sombrinhas raramente vinham com estampas. Eram lisos de variadas cores e cabos curvos. Como havia ainda poucos automóveis, as mulheres usavam e abusavam do seu uso, tanto no período chuvoso quanto na estiagem. Era um prazer pegar uma carona na sombrinha, como meio de conquista. Lembro de dois consertadores desses guarda-sóis femininos da minha terra: Josefina, a “Zifina”, avó do escritor Oscar Silva e o Salvino, que morava numa rua transversal a São Paulo, Bairro São Pedro. Ambas as pessoas eram funileiras, também chamadas no Sertão de flandreleiras. Pela sua atividade, Salvino ganhou o apelido de “Sombrinha”. As sombrinhas foram surgindo depois com os cabos sem curvaturas, evoluindo até embuti-los. Fora os raros consertadores fixos, apareciam nas ruas, de vez em quando, consertadores de fora que passavam anunciando a arte, assim como os amoladores (imortalizados por Jackson do Pandeiro). Houve uma queda no uso das sombrinhas que ressurgiram décadas atrás com belíssimas estampas como gostam as japonesas. Novamente o seu uso parece rarear. Venturosos os guarda-chuvas que encontraram suas SOMBRINHAS.
Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2010/08/sombrinhas.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário