LAMPIÃO, GATO BRABO E O POVO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de fevereiro de 2012.
O caso Eloá caiu no gosto da mídia brasileira, principalmente durante o julgamento do assassino. Algumas emissoras, com os últimos acontecimentos pífios, resolveram, então, se aferrar ao julgamento do jovem Lindemberg dando ênfase extra, mastigando o filme por quase 24 horas diariamente. Agora, com os meios de comunicações disponíveis, a sociedade pode acompanhar de perto tudo que tem vontade e até com grande precisão. Em décadas passadas não havia, claro, o aparato que se tem hoje e, o máximo que se podia fazer, era ditar os acontecimentos em páginas de jornal ou em raras revistas. Nem sempre os matutinos chegavam no mesmo dia durante a circulação. Lugares longínquos quando recebiam impressos, liam a data de três dias, uma semana, um mês antes. A repercussão de casos como o de Eloá, ficava restrita à cidade do acontecimento e, quando muito ao município.
Em Santana do Ipanema (Al) também houve tumulto defronte a casa do seu primeiro juiz, Manoel Xavier Acióli ─ nomeado em 1924 ─ quando a multidão exigia a soltura do preso Josias Vieira, conhecido na serra da Remetedeira e na cidade como Josias Mole. Josias, como o apelido atestava, era um pobre rapaz, pacato e humilde que defendera o pai quando este levava uma surra do vizinho. Anunciado o óbito, Josias é preso, revoltando o povo que o conhecia como um bom rapaz que não merecia a prisão. Pressionado por todos os lados, o juiz Acióli resolveu soltar o prisioneiro. Uma vez na rua, Josias transformou-se de humilde e pacato em arruaceiro e arrogante. Uma vez que havia matado um e ganhara o beneplácito social, dava um trabalho danado à polícia. Preso pela segunda vez, quando quase não sai mais da cadeia. A se ver livre e moído de cacete, Josias desapareceu de Santana do Ipanema, indo bater em Piranhas onde, por qualquer tolice matou o segundo. Dessa vez foi pedir abrigo nas hostes de Lampião. Ao contar sua história a Virgolino, foi submetido a teste em tiroteio com a polícia e foi aprovado. Recebeu novo apelido de Lampião. Ao invés de Josias Mole, como antes, passou a ser conhecido como Gato Brabo. Josias esteve em Juazeiro com o chefe e teve seu nome registrado no Cordel. Foi ele quem guiou Virgolino à invasão à vila de Olho d’Água das Flores em 1926, quando o bando deixou o Juazeiro do Norte com o chefe travestido de capitão.
Gato Brabo ia ficando famoso no bando quando resolveu desertar. Disfarçou-se de barbeiro, mas foi reconhecido e preso, após um esboço de reação, perto de Arapiraca. Nos dias aproximados da morte de Lampião, Josias deu entrevista ao Diário do Recife, falando nas perversidades de Virgolino. Algumas pessoas afirmaram que Lampião, no dia em que invadira Olho d’Água das Flores, não tentara entrar em Santana, graças ao Josias que aconselhara o desvio. Assim, Lampião ganhara um guerreiro e perdera um desertor. Sobre a multidão pressionando o juiz, o caso Josias Mole tem certa semelhança com o de Lindemberg. Depois vem uma costura com agulha de saco entre LAMPIÃO, GATO BRABO E O POVO.
Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2012/02/lampiao-gato-brabo-e-o-povo.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário