PRESENTE PARA GREGO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de fevereiro de 2012.
Nenhum brasileiro gostaria de viver o drama da Grécia no presente momento. Já sofremos enormemente parte das dores que afligem os nossos irmãos do outro lado do Atlântico. Os apertos desconcertantes ministrados pelo FMI, ainda repercutem na mente dos que sofreram em suas unhas quando o fundo dava as suas ordens no Brasil. Ninguém sabe quando vai melhorar as agruras nas terras de Sócrates e nem quando chegará à paz necessária para se viver. O parlamento daquele belo país já aprovou o plano de austeridade e resgate financeiro, levando o povo às ruas num protesto violento. Geralmente a má administração pública sempre desemboca no mar que afoga pobres e funcionários públicos. É igual a chavão popular sem limite algum de repetência. Para quem não faz bem o dever de casa, recebe a visita do senhor “Gringo”, com gravata comprida e óculos de grau mais seu contemporâneo caderno de fiados. Começa examinando a pele e espichando o couro do paciente em soluços terminais. Surgem receitas de injeções miraculosas cujos efeitos são alérgicos para as classes básicas da pirâmide. Uns troços que amargam e queimam o porvir, o futuro, a esperança.
Para continuar na zona do Euro, a Grécia baixou o pescoço para a canga da austeridade financeira, motivo de protesto e gritaria da sua população que fica sem entender o desmantelo. A exigência dos credores foi de fato crua e refletiu sem doce, sem mel, sem o açúcar na capital Atenas. A noite violenta caracterizada pelas manifestações traduz a negativa popular contra a beberagem que chega pelos carrascos. As vítimas de situações como essa, já sabem que irão para a tortura da demissão de emprego, cortes no salário, problemas com a previdência, com a aposentadoria, com a alimentação e tudo o mais que gira em torno da sobrevivência. Quando as autoridades condenam o vandalismo em uma democracia, esquecem o desespero de milhões de famílias que receberão as ferroadas que vêm de cima. Seria a mesma coisa de espancar mandando a vítima sorrir. Vem da boca do primeiro-ministro que os três objetivos do plano aceito pela Grécia, são o saneamento das finanças públicas, o restabelecimento da competitividade do país e o reforço do seu sistema bancário. Para isso o ministro irá receber a bolada para o equilíbrio ou para continuar a danação que maltrata o povo do Mediterrâneo.
Entre a cruz e a espada, o medo triste da bancarrota; do fantasma da crise que passou a morar nos corredores da Europa; da reação popular que vai bater os ossos de raiva com a crise interna. O país aguarda a dinheirama que deve chegar logo para pagar seus credores ansiosos. Enquanto isso, vamos mudando os ditados inventados pelo povo. Antes, uma oferta que iria dar trabalho, mas camuflada em coisa boa, era chamada “presente de grego”. Agora é o próprio FMI quem embrulha a “macumba”, ornamenta o pacote, borrifa extrato de rosas e escreve no cartão: PRESENTE PARA GREGO.
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