FOGO NO GELO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2012
Quem contava as maravilhas da Antártida, era o meu professor que depois se tornou famoso, Douglas Apratto Tenório, no Colégio Guido de Fontgalland, em Maceió. Apontador na mão escorregando pelo mapa do “Continente Gelado”, Apratto, discorria em complemento ao meu velho “mestre-enciclopédia” Alberto Nepomuceno Agra, do casarão Ginásio Santana. Certo de que falava para uma turma pequena, mas interessada, Douglas mantinha uma linha séria e agradável para os amantes da natureza. Víamos o branco do gelo nas palavras do professor e sentíamos a ambição do mundo pelos recursos do subsolo daquele continente. O professor casava suas aulas de Histórias com as da Geografia; na verdade, exibia ambas as matérias apaixonantes, uma vez que o casal há muito já existia. Falava no acordo entre os países exploradores da Antártida, da dificuldade de funcionamento dos motores na baixa temperatura, da fauna marítima, da participação do Brasil nos estudos científicos na base que assegurava sua fatia de pesquisas.
Agora vamos observando com tristeza, cerca de cinco anos de estudos em diversas áreas do conhecimento, sendo transformados em cinzas. Essa quentura sinistra no gelo do Sul da Terra parece tramar contra os avanços bem sucedidos do Brasil, parecendo coisa proposital. Vai lembrando a destruição da base de Alcântara que impôs sérias consequências às nossas pesquisas do espaço; o misterioso surgimento do “bicudo” no Nordeste destruindo seus algodoais concorrentes dos campos americanos. E o pior é que o incêndio que será investigado pela Marinha Brasileira, levou a vida de duas pessoas da Estação Comandante Ferraz. A retirada às pressas do pessoal da base para o país chileno, foi uma grande frustração e nos pareceu com uma humilhante derrota e vergonhoso carão de adulto para criança. Só quem vive montado na paciência da pesquisa, décadas seguidas, sabe o que é a dor de perder cinco anos de laboratório e anotações. Nesse caso, a única vitória foi o resgate das vidas dos que sofreram com o sinistro do deserto de gelo. Por outro lado, pode ser que a tragédia desperte a vontade de muitos mais cientistas brasileiros por atuações nos segredos do “Continente Branco”.
Ficam registrados os nossos lamentos e a torcida pelo recomeço de nossas ações em torno do Polo Sul. Fazer o quê. Estão lembrados do Instituto Butantã? As chamas parecem inimigas do País em todos os setores de estudos. Será o Benedito?! Base de Alcântara, Instituto Butantã, estação da Antártida: fogo no ar, fogo na terra, FOGO NO GELO.
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