LAMPIÃO,
POEIRA E BALA
Clerisvaldo B.
Chagas, 9 de maio de 2014
Crônica Nº 1. 185
ANTIGA RUA DA POEIRA QUE ESPEROU LAMPIÃO EM SANTANA DO IPANEMA. HOJE CALÇADA, COM O NOME DE MANOEL MEDEIROS AQUINO. Foto: Clerisvaldo. |
O negócio estava feio. Dizem que quando o povo fala, ou é
ou está para ser. Portanto, o apavoramento da população santanense,
justificava-se, pois, apesar da existência do Tiro de Guerra, no centro da
cidade, ninguém havia traçado estratégia militar para enfrentar o bandido
Lampião.
O bandoleiro
descia de Pernambuco, vindo do Juazeiro, onde conseguira uma falsa patente do
exército. Com apenas 102 homens bem montados e municiados com as armas que
recebera para combater a Coluna Prestes, Lampião abandonou o plano. Repara se
ele iria enfrentar cerca de oitocentos homens experimentados no gatilho! Deu
meia volta em Pernambuco, raivoso por ter sido enganado com o caso da patente e,
deixou apenas uma frase de efeito e nada mais, se referindo a Carlos Prestes: “Vou olhar se esse Prestes, presta mesmo!”
Não podendo enfrentar os homens da Coluna, preferiu atacar
Alagoas, onde matou fazendeiros e um cabo, primeiramente.
Houve debandada em Santana. Algumas famílias correram
para o mato e duas, em automóveis, preferiram o agreste de Palmeira dos Índios.
Mas um grupo de homens resolutos convocou pessoas e armas
formando uma força de 25 cadetes do Tiro de Guerra, 14 praças da Cadeia Velha,
da Rua do Sebo e, mais alguns civis. Entre os últimos estavam o padre José
Bulhões, Ormindo Barros, Firmino Rodrigues da Rocha, Joaquim Ferreira da Silva,
Pedro Rodrigues Agra, e Joel Marques. Os cadetes tinham no comando o brigada
Antônio Ribeiro Cavalcante e, os policiais, o delegado civil Bertoldo Rodrigues
Machado. Inúmeros rifles saíram das residências inclusive também com o
incentivo do juiz Manoel Xavier Accioly.
A resistência santanense partiu para a Rua da Poeira
(hoje, Manoel Medeiros de Aquino), entrada oeste de Santana. Era a tarde de
5.6.1926. O pessoal passou o resto da tarde e a noite inteira na espera, mas o
bandido não apareceu, com sua força dobrada em relação à defesa.
Lampião e sua legião de demônios, entretanto passou ao
largo, cometendo seus atos infames nas caatingas indefesas do município e foi
invadir Olho d’Água das Flores, na época pertencente a Santana, situada a 4
léguas da sede e, também indefesa.
Não sei se o bandido, estuprador, ladrão, assassino e assaltante
venceria o fogo que não houve. Mas que a resistência estava aguardando, estava.
Mesmo assim a Rua ficou na história com as conversas sobre LAMPIÃO, POEIRA E
BALA.
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