O VALENTÃO E A
QUIROMANCIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de janeiro de 2016
Crônica Nº 1.499
Recordando
personagens do Sertão, uma coisa puxa outra. Revejo pelo tempo o senhor José
Menezes, que vendia redes, aos sábados, na feira de Santana. Aos domingos,
aquele homem branco e sério, desfilava pela Rua Antônio Tavares – onde residia –
muito duro, rifle surdo às costas e bornal atravessado. Mas esse não é o alvo
da história.
Vizinho de terras de
meu avô morava um valentão, arruaceiro e assassino que também andava com rifle
às costas e punhal na cinta. Cismou com um dos meus tios, homem pacato, sábio e
trabalhador. Rondava-o constantemente.
Certo dia em que o meu tio fora dar água ao gado no açude, o valentão o
esperava na porteira da barragem, armado como sempre. Meu tio completamente,
desarmado, usou a sua força espiritual, passou pelo valente, deu água aos
bichos, retornou sem que o bandido esboçasse nenhuma reação.
Era mês de outubro.
Apareceu no sítio um estrangeiro quiromante, cujo apelido era Alemão. Leu a mão
de todos os que estavam na casa – menos a de meu pai que se encontrava ausente –
falando do início, presente, futuro e final da vida de cada um. Todos os tios
tiveram o final profetizado pelo estrangeiro.
Quanto ao tio marcado
pelo inimigo, disse-lhe o Alemão: “No mês
de novembro não passe do terreiro de casa; no mês de dezembro não saia de
dentro de casa nem para o terreiro; aguarde a notícia do mês de janeiro que seu
perseguidor irá desencarnar”. Assim procedendo, meu tio aguardou.
Em janeiro, aquele
valentão acostumado a acabar a feira de Olho d’Água das Flores, cortando a
pulso e à faca, os cabelos dos feirantes, recebeu um convite do major Lucena
Maranhão. Integrou-se numa volante e numa suposta diligência para os lados de
Maravilha e ali deixou a Terra.
Não só no fabrico de
peças e motores, mas também na Quiromancia, alemão é garantido.
Nem tudo é engodo e
safadeza.
Fui.
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