segunda-feira, 8 de agosto de 2022

  

BEXIGA LIXA

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de agosto de 2022

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2.748

 

Já abordamos esse assunto há muito, mas com o surgimento da Varíola do Macaco, vamos voltear. No final dos anos 50 para os anos 60 a varíola surgiu aqui no sertão de Alagoas. O povo mais humilde chamava a doença de bexiga, o que já estava acostumado a xingar as coisas com esse e o nome peste. As pessoas ficavam completamente pintadas, com ênfase para os indivíduos negros. Quase sempre a bexiga era caso certo de morte, então, os doentes eram levados para o rio Ipanema, a cerca de 3 km da cidade rio acima, onde havia uma loca e ali era depositada a pessoa que ficava à mercê da Natureza. A comida levada pelos familiares era empurrada para dentro da “loca dos bexiguentos” com uma vara, segundo os mais velhos.

Depois chegou à vacina que também era aplicada nas escolas. Do produto não temos lembrança, mas o procedimento da vacina era aplicado com uma pena de escrever, no braço, o que deixava uma marca para sempre, pois eram feitos arranhões na pele que deixavam a cicatriz. Diziam que a doença pegava pelo vento, daí, contato com o doente apenas quando a pele do infectado estivesse completamente murcha daquelas manchas róseas que pintavam todo o corpo da vítima. O sertanejo costumava xingar as pessoas e coisas com os nomes: peste, doença do rato e bexiga lixa. Portanto parece ter sido um castigo divino contra esses impropérios bárbaros. Aliás, o nome “peste”, é o mais citado do Brasil pelos alagoanos em momentos de ira.

Como dizem que a moda sempre estar voltando, a doença parece também possuir os seus ciclos. A Varíola do Macaco é a cópia da varíola dos anos 60, pelo menos externamente. Quanto à vacina ainda não foi divulgada e se foi não teve a ênfase merecida. Só não acreditamos que iremos voltar a usar no braço a aposentada pena de fazer caligrafia.

Continua no leito do rio Ipanema, no chamado poço Grande ou poço do Boi, a loca dos bexiguentos e que outros dizem tratar-se de uma pirâmide alienígena. A loca fica na parte inferior da pirâmide vigiada por urtigas e marimbondos em tempo de estio. Ilhada pelas águas barrentas do Panema, em tempo de cheias.

PEDRA DOS BEXIGUENTOS EM 2006 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 

 

 


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