CONTINUAR A JORNADA (Clerisvaldo B. Chagas. 22.12.2009) Sendo esta a semana do Natal, nada mais gratificante de que a reportagem da Rede...

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(Clerisvaldo B. Chagas. 22.12.2009)

Sendo esta a semana do Natal, nada mais gratificante de que a reportagem da Rede Record, com o título: “Os Sete Milagres de Jesus”. Um presente máximo para quem se interessa pela religião. Curiosidades sobre a parte física da antiga Palestina onde viveu o Mestre. A apresentação aconteceu domingo passado à noite, com segurança e didática dignas dos maiores elogios. Afinal, muita gente esquece o verdadeiro dono da festa que o deus comércio quer trocar por Papai Noel. Para muitos cristãos supérfluos, o velhinho europeu é quem tudo comanda numa fantasia exagerada que supera o sentido do Nascimento. O mal não está em reconhecer o ancião de barbas brancas, está em elevá-lo ao pedestal que não é dele. Jesus está em poucos lares, Noel em todas as vitrinas. E se os adultos esquecem quem os convidou para os festejos, imaginem as crianças ansiosas pelos embrulhos.
Lembramos perfeitamente de duas coisas marcantes na adolescência. Havia duas farmácias importantes em Santana do Ipanema que chamavam atenção com objetos à parte. Uma delas era o busto de um negrão lustroso envergando resistente barra de ferro. Essa estatueta fazia parte de propaganda de certo xarope e já foi motivo de crônica neste espaço. O outro objeto era um cartaz com alegoria sobre a porta estreita e a porta larga que se tornou tradicional na Farmácia Vera Cruz. O motivo era uma alusão ao comportamento humano com a advertência: “Entrai pela porta estreita”. A preocupação consumista parece que vai tornando a porta estreita mais estreita ainda. E como “A” puxa “B” e “B” puxa “A” de novo, não custa nada lembrar a passagem de Jesus na casa de duas amigas. Enquanto ele palestrava sobre a vida com uma delas, a outra se preocupava em cuidar da casa. E a segunda recebeu amistosamente uma advertência sobre o que era mais importante.
Dizia Nelson Gonçalves em uma das suas belíssimas canções:

“Esses moços
Pobres moços
Ah se soubessem
O que eu sei (...)”.

Não, não somos contra a fantasia do Papai Noel. Mas não podemos esquecer que é para o filho de Deus todo o aparato, toda honra e toda glória dos preparativos de dezembro. Quem conhece a sugestiva frase de lameira de caminhão: “Eu não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono”? Bem elaborada, não? Ah, com seria bom se esse reconhecimento também fosse feito no Natal!
É tempo de reflexão; de um balanço profundo nos proveitos e desperdícios de 2009. E que as lembranças das boas semeaduras não aconteçam somente na missa do galo, na leitura da porta estreita ou em lameira de caminhão. “Ah esses moços (...)”. Vamos CONTINUAR A JORNADA.




PRESTAR ATENÇÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 21.12.2009) Sempre soubemos que as piores situações da vida deixam resíduos positivos. Assim co...

PRESTAR ATENÇÃO

PRESTAR ATENÇÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 21.12.2009)

Sempre soubemos que as piores situações da vida deixam resíduos positivos. Assim como a bateia do faiscador deixa passar a água suja e retém o ouro, as vicissitudes também deixam a sabedoria.
Vendo por um ângulo a conferência de Copenhague, foi um fracasso. Olhando por outro lado, um degrau acima. Nunca na história da humanidade houve tanto interesse e participação como no encontro da Dinamarca; nem mesmo durante e após os dois conflitos mundiais. Estamos em uma nave só, chamada Terra. Não existe uma segunda morada para o homem. Caso a ela aconteça algo, todos pagarão o mesmo preço nem que seja de forma diferente. Acontece que os ricos ainda querem manter a pose, como aquele que pensa enganar a morte mandando o outro primeiro para o cadafalso. Quando o navio submerge também vai o comandante.
Resvalando do assunto climático realizado na Dinamarca, notamos claramente a política vacilante do presidente americano. Com o congresso ou sem ele, Obama continua com sua dúbia política inicial. É como se tivesse medo de um escorrego que manchasse a elegância da vitrina. A nação mais poderosa tem um peso, sim; por isso todos esperavam melhor posicionamento naquela conferência. Entretanto, como dissemos em nossos trabalhos anteriores, o mundo já iniciou uma nova ordem que só os americanos não veem ou não querem ver, porque eles sempre ficaram dentro da bolha. As nações se fizeram ouvir. As forças intermediárias de Brasil, Índia, China e África do Sul, mostraram aos ricos que está havendo uma revolução em busca de novos assentos para lideranças globais. Os pobres também resistem. A transformação já está sendo feito e será consolidada nos próximos cinco ou dez anos. É irreversível.
O Brasil está sabendo aproveitar o momento. Ou fracassando ou não a conferência do clima, o País sai com a voz ouvida e respeitada, tanto pelos pobres quanto pelos ricos mais os seus colegas emergentes. Como disse o ministro espanhol, o Brasil já é presente de um futuro que nunca chegava. Agora a República passa a fazer o papel de ator global, queira ou não o Tio Sam. Após a rodada de Copenhague o mundo não será mais o mesmo no assentamento da poeira. E os países desenvolvidos ─ graças às explorações de colônias nas Américas, Ásia e África ─ irão sentir seus antigos escravos à porta querendo ser também sócios do mundo. A conferência para o clima deixa um leque de novas posições políticas, sociais, econômicas que irão criar sulcos profundos na Geopolítica. Se as nações pobres e emergentes saem desanimadas sobre acordos ecológicos, o ensaio dos movimentos em blocos mostra o contrário. Novas forças são incorporadas ao torneio mundial de quebra-de-braço. De agora em diante é só PRESTAR ATENÇÃO.


VIRADA NO CÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009) Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada...

VIRADA NO CÃO

VIRADA NO CÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009)

Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada para ser cidade, quando aconteciam os trabalhos de rodagem da BR-316. A primeira ponte na BR sobre o riacho Dois Riachos foi o marco da sua fundação. Atualmente a ponte não faz mais parte da BR-316, mas foi conservada e continua servindo na periferia, sendo uma relíquia e peça de museu a céu aberto. Adquirindo terras de Santana do Ipanema e de Major Isidoro, o antigo povoado Garcia, passou à condição de município de acordo com a lei estadual Nº 2238 de 7 de junho de 1960, desmembrando-se de Major. O que mais chama atenção em Dois Riachos ─ cidade com mais de 10.000 habitantes e situada a 245 metros de altitude ─ é sua feira de gado. Apresentada semanalmente entre o riacho de origem e a BR-316, a feira tornou-se a segunda do Nordeste nesse tema. Já foi motivo de várias reportagens e é hoje importante fonte de pesquisa econômica e social do povo sertanejo. Mantendo sua tradição pecuarista, o município conta anualmente com uma festa de vaquejada que atrai autoridades de Alagoas e pessoas de várias partes do Nordeste. Como orgulho maior, a cidade exibe agora uma faixa permanente na entrada, exaltando a jogadora melhor do mundo, sua ilustre filha Marta.
E por falar em Marta, quem assistiu Brasil X China, na noite da última quarta-feira, teve o prazer de verdadeiro espetáculo. Primeiro foi a própria China quem proporcionou a satisfação, por ser um país asiático com futebol e pessoas características. Depois a própria vontade de vê o futebol feminino se desdobrando. Diga-se com sinceridade, o Brasil não foi essa coisa toda no primeiro tempo; mas no segundo foi. Um espetáculo para macho nenhum botar defeito. Dois Riachos deve ter ficada eufórica diante da telinha vendo sua filha famosa fazendo misérias em campo. Cristiane foi um espetáculo à parte nessa partida do “Torneio Internacional Cidade de São Paulo”. A bonita jogadora está “comendo” a bola. Retranca chinesa no primeiro tempo, ousadia no segundo para assegurar a vaga na final, a China apenas valorizou a vitória brasileira. Com Marta fazendo dois gols (sendo um de pênalti) e Grazielle um, o Brasil fica mais fortalecido no Torneio. Quanto a Marta, deve ter enchido de mais orgulho os riachenses. Com jogadas espetaculares e encantadoras, a camisa 10 deve ter afastado de uma vez por todas a discriminação que rondava o futebol feminino. Uma Pelé de verdade. E usando a nossa expressão sertaneja nordestina emprestada à novela, estava VIRADA NO CÃO!