NÃO ME FALE EM CAMINHÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 5.2.2010) DO CD “SERTÃO BRABO, dez poemas engraçados” Eu era um matuto besta Morava no Tra...

NÃO ME FALE EM CAMINHÃO

NÃO ME FALE EM CAMINHÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 5.2.2010)
DO CD “SERTÃO BRABO, dez poemas engraçados”
Eu era um matuto besta
Morava no Travessão
Sonhava ser motorista
Porém cadê condição
Aprendi jogar bozó
Quase que fico zoró
Mas comprei um caminhão

Foi quinze dias colado
Sem encontrar nenhum frete
Mas um dia apareceu
Maneca de Zé pivete
Veio meu carro alugar
Mode o seu time jogar
Com o time da Marinete

O time e toda mundiça
Subiu na carroceria
Cinco entraram na boleia
Foi a maior correria
Atropelaram o pãozeiro
Derrubaram o xangozeiro
Pai de santo da Bahia

Corri pra o radiador
Botei água da bodega
Danei a chave no bicho
O peste quage não pega
Pra frente voou a tampa
Lascou a testa de Vampa
Cunhado de Joana Cega

Depressa tamo atrasado
Motorista da mãe Tonha!
Gritou um caboco forte
Com o rabo chei de maconha
Uma bicha venta torta
Me impressava na porta
Com a cara mais sem vergonha

O carro veio tremia
Quage que poca o pneu
Bem no miolo da rampa
Deu um estouro e morreu
A mãe do goleiro Maia
Quebrou o cordão da saia
Pulou de riba e correu

Bote o cepo Zé Ligeiro!
Berrei lá da direção
O fubek tava bebo
Meteu o fucim no chão
Nisso com sua mão tola
O cabrunco do baitola
Quase me arranca o travão

O dono do time tava
Com dor de barriga e gogo
Mas levantava a bandeira
Um carçolão cor de fogo
Quando a torcida mandava
O ponteiro esquerdo cheirava
Para dá sorte no jogo

Bem no descer da ladeira
Vomitou um desportista
Quebrou pedal, faltou freio
Deu cento e vinte na pista
O caminhão barrufava
Um doido em riba gritava
Empurra o pé motorista!

Uma velhinha banquela
Baforava doutro lado
Um fumo de corda bruto
Fedorento, desgraçado
Vi fumaceiro no mundo
Chutou dois tiro do fundo
Tava de fole furado

Pular do meu caminhão
Era essa minha ideia
Porém um macaco prego
Subiu no vão da boleia
Abraçou um crioula
Mordeu a mão do baitola
Ficou fungando na veia

O meu mundo veio abaixo
Com a barra da direção
Entremo duzento metro
Só de toco e cansanção
Caímo bem num chiqueiro
Matemo o rebanho inteiro
Quinze porca e dois barrão

Gandula quebrou a perna
Zefa perdeu o corpete
Ouvi dizer mate o cabra!
Fiz dois ou três cacoete
Do time fi duma égua
Corri mais de meia légua
Pra não entrar no cacete

Não quero ser mais choufé
Moro aqui no Travessão
Comprei um revólver taurus
Um cano grande do cão
Paguei caro a Zé Celeste
Prometo atirar num peste
Que me fale em caminhão

FIM

DOMÍNIO TRESLOUCADO (Clerisvaldo B. Chagas. 4.2.2010) Afeganistão , país montanhoso (85%) da Ásia Central, é um dos mais pobres e inóspitos ...

DOMÍNIO TRESLOUCADO

DOMÍNIO TRESLOUCADO
(Clerisvaldo B. Chagas. 4.2.2010)
Afeganistão, país montanhoso (85%) da Ásia Central, é um dos mais pobres e inóspitos do mundo. Seu clima é formado de verões quentes e invernos frios, caracterizando assim o tipo continental. Além da pobreza, o país, frequentemente recebe abalos sísmicos, já incorporados como castigos naturais por aquele povo tão sofrido. Afeganistão, cuja capital é Cabul, já recebeu várias invasões desde os tempos mais antigos. Atualmente produz o ópio que abastece os países da Europa.
Dizem que a primeira derrota dos Estados Unidos foi no Vietnã. É fácil entrar em qualquer país, difícil é sair. No Vietnã foram os nativos que deram o sangue pela sua nacionalidade, derrotando o gigante do norte, apesar da alta tecnologia. Não existem mais guerras de confrontos tipo exército x exército. As guerras atuais são pulverizadas em guerrilhas, principalmente pelos invadidos. Essa estratégia foi usada por Lampião que, para sobreviver com um bando respeitável, foi obrigado a dividi-lo em subgrupos de cinco ou seis homens. A antiga União Soviética não soube se espelhar na derrota americana do Vietnã e cometeu o mesmo erro invadindo o Afeganistão em 1979. Foi a guerra de um exército preparado para outro exército e não para enfrentar a guerrilha. Conflito longe da imprensa, pouco se sabia do palco da luta. Extenuados, os soldados soviéticos retiraram-se do Afeganistão derrotados após uma briga de dez anos. Os Estados Unidos ajudaram à guerrilha, inclusive tendo Osama Bin Laden como combatente. E agora, quanto tempo faz desde a invasão do Iraque? Quantos jovens iniciando a vida foram deixar seus corpos em solo iraquiano? Os Estados Unidos continuam na política de fomentar guerras contra outras nações contrárias as suas idéias. As montanhas do Afeganistão que derrotaram os soviéticos continuam as mesmas, engolindo mais rapazes da América. Mais da metade da população daquele país fugiu para outras nações. Entretanto, não faltam guerrilheiros determinados contra os invasores. Onde os Estados Unidos buscarão motivos para novas ocupações? Na Coréia do Norte? No Irã (que ele mesmo armou anteriormente)? Na Venezuela? Quando é que esse titã vai saciar a sua sede vampiresca? Até mesmo a ajuda ao Haiti, foi fantasiada de invasão militar arrogante como se fosse um alerta para países como o Brasil, tipo: “quem manda aqui sou eu!”
É de se lamentar tanta força dirigida para o nada. Para a ambição comercial e à tola vaidade que desequilibram as mentes. Enquanto isso se acumulam problemas que parecem insolúveis como a fome no Haiti, na Ásia, na África. Roda o mundo nas leis disfarçadas de quem pode mais. E poder não é para construir. Parte do planeta vive na era espacial, muitas fatias permanecem na Pedra Lascada. Sim, talvez se não fosse o império americano fosse outro: russo, chinês, indiano ou mesmo brasileiro. Criam-se tecnologias, mas continuam as intenções de DOMÍNIO TRESLOUCADO.



REVIVENDO O CANGAÇO (Clerisvaldo B. Chagas. 3.2.2010) Entre o povoado Candunda e a região da ribeira do Capiá, alto Sertão de Alagoas, vi...

REVIVENDO O CANGAÇO

REVIVENDO O CANGAÇO

(Clerisvaldo B. Chagas. 3.2.2010)

Entre o povoado Candunda e a região da ribeira do Capiá, alto Sertão de Alagoas, viveu um cidadão de sobrenome Rodrigues. Homem rico, respeitado e misterioso, dependia da agropecuária. Lampião passava pelas imediações de vez em quando, mas, usando seus dons ofertados por Deus, Rodrigues tornava-se invisível aos olhos do “Rei do Cangaço”. Não concordava com as tropelias do bandoleiro. Certa feita, Lampião acampou ali por perto e mandou chamá-lo. Dessa vez o fazendeiro resolveu comparecer e apresentou-se ao chamado do bandido. O capitão afastou-se com o visitante ficando sob árvore frondosa nas proximidades. Disse que tinha conhecimento dos dotes de Rodrigues e queria apenas que ele copiasse uma reza forte das muitas que sabia. O fazendeiro alegou não saber escrever. Pediu para que Virgulino anotasse que ele iria ditando. Assim foi feito. Naturalmente Rodrigues não deve ter ensinado o pulo do gato. Lampião pediu também consentimento para levar o filho do fazendeiro, conhecido por Rodriguinho. O pai alegou que a decisão era do filho. E assim Rodriguinho partiu com Lampião, passando certo tempo no cangaço. Sua especialidade era atirar de longe nos bodes da caatinga, quebrando duas patas com um tiro só. Aquilo entusiasmava o capitão. Cansado das maluquices do cangaço, entretanto, Rodriguinho desertou. Lampião – que não perdoava desertores – andou algumas vezes na fazenda de Rodrigues, manso, maneiroso, querendo notícia do filho, pois gostava muito dele”. O pai, macaco velho, desconversava, alegando sempre que não sabia onde se encontrava o rapaz. Rodriguinho, sob a proteção do velho, nunca mais em vida viu Lampião. Rodrigues morreu com 102 anos, tendo anunciado com bastante antecedência o ano, o dia e à hora da passagem. Tudo se cumpriu.
Rodriguinho constituiu família e, já em idade avançada, o tempo do cangaço bateu novamente em sua porta. Com uma neta casada com um sujeito perdido, teve que ver e aguentar muitas coisas para continuar em paz. Um dia o marido da neta partiu para a última ofensa. Após desdenhar do passado de Rodriguinho como cangaceiro, ameaçou bater no velho e partiu para a ação. Mas o agressor só teve tempo mesmo de erguer a mão. Caiu para trás ao receber as balas de um revólver 38, após o velho limpar a vista e não tremer as mãos. Polícia e Justiça quiseram cair em cima, porém, o homem que mandava em São José da Tapera e região interferiu: Como poderia a polícia prender um ancião que defendera a própria vida para não ser desmoralizado? E assim o caso não deu em nada.
Se Rodriguinho tinha um nome de guerra no bando de Virgulino, meu narrador não lembra mais. A vida desse moço faz parte do todo que embasou as hostes lampionescas. Nem mesmo após os arrependimentos ninguém está livre das tentações; nem com idade avançada. Essa narrativa veio a lume, graças à boa vontade de “Tonhe Véi”, homem decente que ajudou a preencher com família a ribeira do Capiá. Entre tantas e tantas histórias narradas envolvendo Lampião, incluímos a do cangaceiro anônimo Rodriguinho REVIVENDO O CANGAÇO.