AMOSTRA GRÁTIS (Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2011)        Tudo conferido, despedimo-nos do índio e do filho e iniciamos a noss...

AMOSTRA GRÁTIS

AMOSTRA GRÁTIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2011)

       Tudo conferido, despedimo-nos do índio e do filho e iniciamos a nossa marcha seguindo o sangradouro da barragem, beirando cercas de arames farpados de criatório bovino. 6 horas foi o início da caminhada.
       Em pouco tempo encontramos as escarpas. O Ipaneminha, apenas um filete, tão puro, tão cristalino, meteu-se por dentro da grota, em emaranhados de uma vegetação de árvores e arbustos de folhas marrons escuras e marrons claras. Parecia preservada. Nessa época, estava quase toda seca. Encontramos inúmeras espécies da Caatinga e outras típicas da Floresta Tropical.
       Destacamos imensas dificuldades na descida íngreme da grota. Os malotes às costas dificultavam o nosso equilíbrio. Esbarrávamos nas árvores, nas pedras, nos cipós, em nossas corridas curtas, sem querer, que o declive impunha.
       Quando nos era permitido, chegávamos perto do filete e, quase euforicamente, bebíamos aquele líquido gelado, transparente que naquelas circunstâncias parecia néctar.
       O filete escorria aos nossos pés. Ipaneminha sombreado, sozinho, murmurando pelo pedregulho, consciente do seu destino. Desejamos que todos os santanenses estivessem conosco naquela hora sagrada e solene onde só a Natureza mandava.
       (...) O rio não oferecia mais nenhuma novidade. Só o lastro contínuo de areia grossa, margens desmatadas, muita cerca e raríssimas cabeças de animais domésticos. Nem passarinho, nem raposas, nem mesmo cobras. Era o sertanejo um exterminador da fauna e da flora que fazia dó!
       Fomos anoitecer num joelho do rio onde havia um pequeno gramado com uma fila de quatro ou cinco algarobeiras ralas. Breve, estávamos sob a lua cheia. Armamos as nossas redes nas árvores e fizemos uma fogueira. Pelo cansaço, era para eu ter adormecido imediatamente, como uma pedra. Mas o descampado do desmatamento não me deixou pregar o olho até às 4 da manhã. O vento soprava forte, uivando virado nas seiscentas pestes! Meu companheiro repousava como um justo e não haveria vento nenhum do mundo que impedisse aquele “tanque de guerra” de dormir.
       Foi a pior noite das duas viagens. Só consegui adormecer lá para as 4 da manhã quando o vento parou sua latomia e sua frieza. Mas logo cedo estávamos com os pés na estrada.
Aguarde.


DILMA NO EXTERIOR (Clerisvaldo B. Chagas, 2 de fevereiro de 2011).        Dilma sabe bem o que pretende e, pelo jeito, conhece todos os cam...

DILMA NO EXTERIOR

DILMA NO EXTERIOR
(Clerisvaldo B. Chagas, 2 de fevereiro de 2011).

       Dilma sabe bem o que pretende e, pelo jeito, conhece todos os caminhos. A decisão da primeira viagem para fora do país, como presidenta, para os entendidos é uma forma bem ampla de se mandar um recado para a quem interessar possa. A preferência pela Argentina pode ser resumida de várias maneiras. Não indo logo a Europa, Dilma evita valorizar aquele continente em detrimento ao seu. É como se dissesse que ele é importante, mas já não representa o grande foco de atração como há pouco tempo, para países sul-americanos. Para os Estados Unidos, acostumados com as vassalagens do sul, não tão antigas assim, Dilma declara indiretamente o fim do beija-mão latino. Fez o que o Tio Sam costuma fazer com seus novos presidentes, prestigiar primeiro os seus vizinhos. Isto é, “aguarde sua vez, você não é mais prioridade”. Obama deve ter engolido seca a petulância brasileira. Escolhendo a Argentina para seus primeiros passos, a Presidenta sabe que a nação vizinha, será sempre vizinha geograficamente. Sabe também que a Argentina é uma grande nação, tem enorme potencial e já viveu uma ótima fase desenvolvimentista. Dilma entende que sem a parceira vizinha, é impossível a pretendida união da América do Sul. É do seu conhecimento que a nação do Prata, no momento, é uma respeitável cliente dos seus produtos e, finalmente sabe que o Mercosul unido, representa força substancial para grandes entendimentos econômicos e políticos no Planeta. Em síntese, fortalecer a Argentina e aumentar sua autoestima, é tornar o Brasil muito mais forte diante das outras nações. Depois virá o afago ao Paraguai e Uruguai para arrumar a casa abaixo do Equador e alçar voos para onde achar conveniente. É a Geopolítica funcionando em favor da inteligência.
       O encontro com a presidenta Cristina Kirchner deixa, sem dúvida alguma, água na boca de outros dirigentes da América do Sul e mesmo do Caribe. O fato do encontro com as mães e avós da Praça de Maio é bastante representativo e soa como um aviso claro aos países que mantêm a ditadura e desrespeitam constantemente os direitos humanos. Entendam-se aqui direitos humanos como tolhimento da liberdade básica de cada cidadão nos países opressores. Pode-se até dizer que o movimento das ruas pela democracia egípcia ─ que tomou proporções gigantescas ─ tenha ofuscando a visita da presidenta Dilma Rousseff a Argentina. É verdadeiro sim a afirmativa, entretanto, o encontro com as mães, representa um apoio indireto ao povo do Egito que não suporta mais vê o rosto de Hosni Mubarak. Aliás, “o fora ditador”, iniciado na Tunísia, atingindo em cheio o país de Hosni, vai queimando a região com o grito há muito reprimido. A China mesmo retirou da mídia a palavra Egito. Mas como já havia sido aqui analisado, tudo é questão de tempo. De repente as coisas acontecem por que ninguém tem condições de barrar infinitamente o poder da comunicação. É ela a principal responsável da sede por democracia. Precisamos testar a presidenta no Brasil e a DILMA NO EXTERIOR.

QUEBRADORES DE PEDRA (Clerisvaldo B. Chagas, 1º de fevereiro de 2011).        Em Santana do Ipanema existe um lugar chamado Lagoa do Junco...

QUEBRADORES DE PEDRA

QUEBRADORES DE PEDRA
(Clerisvaldo B. Chagas, 1º de fevereiro de 2011).

       Em Santana do Ipanema existe um lugar chamado Lagoa do Junco. Um estreito patamar divide o relevo em morro, por trás, e em terreno descoberto acidentado, pela frente. O patamar forma rua de um lado só como se fosse à base do pobre casario distribuidor de mais dois ou três, morro acima, cujo topo também mostra ameaça de futura rua. Para melhor disfarçar a pobreza e o abandono, convencionou-se chamar àquele núcleo de bairro. A maioria dos seus habitantes vive em função dos granitos semeados lá em cima. Sua gente batalhadora na pobreza extrema recebe a denominação de “quebradores de pedra”. Poucas são as pessoas que possuem empregos no centro da cidade. Apenas enfrentam o dedo em riste discriminatório baseado na marginalidade. O sustento único dos seus moradores oscila de acordo com a vontade dos prefeitos de Santana. Uns compram pedras para calçamentos de ruas, assegurando a estabilidade da pobreza. Outros fecham as portas para o Junco, indo comprar a matéria-prima em cidades distantes, rebaixando a pobreza à miséria, nesse lugar dos excluídos.
       Lá na frente, a trezentos, quatrocentos metros, o progresso vai chegando às margens da BR-316. Primeiro a escola superior ESSER; depois o fórum de arquitetura moderna; o batalhão de polícia; o prédio singelo da SEFAZ; uma bonita escola municipal modelo; uma empresa particular de artigos marmóreos... E os terrenos marginais vão sendo ocupados pouco a pouco, esticando a cidade como borracha de peteca para as bandas dos Dois Riachos, de Maceió. O cimo do morro sem nome da Lagoa do Junco, decorado no alto pelo azul profundo, também funciona como excelente mirante para os quatro pontos cardeais. O medo e a falta de serviços especializados, não deixam que pessoas do centro conheçam o mirante, a Geografia do morro, a trajeto rua acima e o modus vivendi dos quebradores de pedras, do povo necessitado da Lagoa do Junco. Alguns poucos líderes do lugar, de maior discernimento, são disputados a peso de ouro nos períodos eleitorais. E como fala a sabedoria popular “casa de ferreiro espeto de pau”, os próprios moradores não usufruem das pedras quebradas por eles.
       Entre o progresso gerador na BR-316 e o fundão temerário da Lagoa do Junco, forma-se o vazio de um futuro incerto, onde o planejar é fantasia, onde a saúde vale não mais de que um simples cabo de marreta. Carros de luxo deslizam pelo asfalto vinte e quatro horas e os ônibus lotados estacionam diante da ESSER. Alunos e mais alunos entram e saem pelas portas escancaradas da UNEAL, procurando assento no país que se desenvolve. E de lá da Lagoa do Junco, da base, da ladeira, do cume, os olhos dos seus habitantes veem pelo dia, lacrimejam pela noite, juntos aos pirilampos, o progresso tão perto e tão longe dos QUEBRADORES DE PEDRA.