LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE Clerisvaldo B. Chagas, 08 de julho de 2011   Lampião , Candeeiro e Querosene iluminaram o cangaço e escure...

LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE

LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE
Clerisvaldo B. Chagas, 08 de julho de 2011

 Lampião, Candeeiro e Querosene iluminaram o cangaço e escureceram o mundo. Lampião, cangaceiro alvo das atenções mundiais, passou mais de vinte anos torturando, estuprando, matando gente. Eles e alguns dos seus asseclas esquartejavam pessoas como se esquartejam os bodes do Sertão. Para a felicidade da quietude nordestina, foi surpreendido e morto com sua companheira Maria Bonita no dia 28 de julho de 1938. Com ele, desencarnaram mais nove sequazes naquele alvorecer friorento de inverno. Candeeiro era uma espécie de secretário e tesoureiro particular da confiança. Viajava com o chefe e conhecia as transações com os fornecedores de armas e munição para Virgulino. Candeeiro estava presente naquele amanhecer fatídico que derrotou o mito do cangaço. Conseguiu escapar à hecatombe da grota juntamente com mais trinta e três companheiros que estavam no coito de Angicos. Depois resolveu entregar-se à polícia e foi recambiado de Santana do Ipanema, Alagoas, para à prisão em Maceió. Quanto a Querosene ─ o mais obscuro de todos ─ foi um dos responsáveis da outra frente de motivo para eliminar o chefe. Joca do Capim, vaqueiro da fazenda Novo Gosto, imediações de Pão de Açúcar, Alagoas, procurava um jeito de vingar-se do cangaceiro Querosene que estava saindo com sua mulher (mulher de Joca). A maneira encontrada por Joca do Capim, como era coiteiro de Lampião, foi trair o bando todo entregando a presença dos cangaceiros por ali ao sargento Aniceto, na cidade de Piranhas (AL). Com algumas tramas acontecidas no triângulo Piranhas, povoado Entremontes (AL) e Grota dos Angicos, Sergipe, livra-se o Nordeste da incômoda presença de Virgulino.
           Lendo o magnífico trabalho sobre a última semana de Lampião, na tese do escritor Frederico Bezerra Maciel: “Lampião seu tempo e seu reinado”, temos a lista de todos os cangaceiros que estavam ali acampados na madrugada do ataque alagoano: 44 pessoas no total, mas ali não consta o nome de Querosene, entre os 44 apresentados. Ora! O Joca do Capim havia perdido a paciência quando sua mulher, mais uma vez saiu de casa logo cedo daquele dia 27 de julho, para ir ao encontro de Querosene na própria fazenda Novo Gosto. Na noite daquele dia 27, Querosene não poderia ter dormido fora sem autorização. Onde estaria Querosene na madrugada do dia 28, momento fatal? Fora essa referência ao cangaceiro, ninguém mais fala sobre ele, nem no coito entre os listados, nem entre os mortos após Lampião e nem entre os que se entregaram às forças. Vamos às hipóteses: Primeira, pertenceria ao grupo de Corisco que foi dormir em Entremontes (AL). Segunda: Faria parte do grupo de Labareda que também não quis dormir ali dizendo que aquilo era “cova de defunto, compadre!” Foi pernoitar duas léguas abaixo em solo sergipano. Terceira: Pertenceria, por acaso, ao grupo de Moita Brava que inventara estar adoentado e conseguiu permissão para dormir fora? Moita Brava levou seu grupo também? Querosene foi com eles?
           Como um dos pivôs da perfídia, não podia faltar Querosene no bojo de Candeeiro nem na placa de Lampião. Um silêncio toma conta dos pesquisadores sobre esse cabra. Você sabe? Você viu? Ah! Meu amigo! Esse trio energético deu o que falar! Ora no claro, ora no escuro, vão piscando no outro mundo os cangaceiros LAMPIÃO, CANDEEIRO E QUEROSENE.
·         Na última semana de julho, publicaremos diariamente crônicas sobre o cangaço, durante os dias úteis, enquanto terminamos um livro sobre o assunto.

  

  O CHARME DA PROFISSÃO   Clerisvaldo B. Chagas, 7 de julho de 2011   Quando os automóveis foram surgindo com mais frequência nas cidades ...

O CHARME DA PROFISSÃO

  O CHARME DA PROFISSÃO
  Clerisvaldo B. Chagas, 7 de julho de 2011

 Quando os automóveis foram surgindo com mais frequência nas cidades do interior nordestino, surgiu a profissão do “motorista de praça”. Não somente pela condição financeira, mas também pelo entendimento e posição social, o automóvel era alugado (nunca alocado) por pessoas de classe média e alta. Essas maravilhosas máquinas que substituíam o carro de boi, o cavalo, o burro e mesmo os primeiros caminhões da década de 20, esbanjavam um encanto geral e um suave e doce prazer em suas viagens para fora da cidade. Até hoje o automóvel exerce um fascínio extraordinário sobre os homens, bem difícil de explicar. Imaginemos, então, no passado, a satisfação que dava em rodar dentro de um carro confortável, cheiroso, bem zelado, tendo como condutor um homem entendido a nossa disposição. No interior de Alagoas, em Santana do Ipanema, passageiros bem vestidos deslocavam-se com esse encanto para cidades vizinhas a visitar amigos, participar de batizados, casamentos, saborear buchadas em casas de compadres lá para as bandas de Maravilha, Ouro Branco, Poço das Trincheiras. Quando ainda não havia médicos na cidade, as viagens mais comuns ganhavam o destino de Palmeira dos Índios, núcleo urbano situado no agreste de Alagoas, sede do bispado, terra de Graciliano Ramos, e que funcionava como pequena capital.
       Os chamados “motoristas de praças” eram poucos. Entre eles ─ dividindo essa atividade com outras de maior dureza ─ três pessoas destacavam-se como pioneiras no ramo de conduzir passageiros com exclusividade: Mestre Abel e seu filho galã, Aroldo; Anedota, conhecido por Seu Dota, pessoa enriquecida, moradora do Bairro Monumento; e Zé V8, residente à Rua Nova. Mestre Abel exercia também a profissão de mecânico, o que lhe deu fama em toda a região. Seu Dota, enrascado com o nome próprio de Anedota, por causa da ignorância da época, preferiu o apelido, menos chamativo de Dota. E Zé V8, tinha seu vulgo associado ao motor tipo V8, do carro que dirigia. Como torcedor radical do time Ipanema, ao clube forneceu três filhos que se destacaram como atletas: Jair, Zuza e Joãozinho, craques que sabiam honrar a camisa do time “Canarinho do Sertão”, final da era 1950. Por falar nisso, Dota, já adiante no tempo, falava com orgulho que dirigira mais de vinte anos e nunca dera uma batida e nem sequer um arranhão. Foi quando um dos ouvintes da roda de amigos levantou-se e disse na brincadeira: “Também, como bater em outro carro se só havia o seu?”
         Somente agora, em torno de oitenta anos depois, é que o governo resolve regulamentar a profissão do antigo “motorista de praça”, chamado atualmente “taxista”. Segue para sanção o projeto que regulamenta profissão de taxista da autoria do ex-deputado Confúcio Moura. O profissional, além da habilitação deverá fazer cursos de relações humanas, direção defensiva, primeiros socorros, mecânica e elétrica básica de veículos. Em municípios com mais de 50 mil habitantes será obrigatório o uso do taxímetro.
         Os profissionais do volante talvez possam respirar melhor com profissão reconhecida, mas agora numa luta insana entre eles mesmos, pela concorrência desleal de táxis no mercado. Bons tempos sem acidentes de trânsito, os de Seu Dota. Também, “de carro só havia o dele!” Ainda hoje, mesmo com menor intensidade, ainda existe o CHARME DA PROFISSÃO.


BESOURO QUENTE Clerisvaldo B. Chagas, 6 de julho de 2011.   Acompanhando a evolução comercial do município de Santana do Ipanema, Alagoa...

BESOURO QUENTE

BESOURO QUENTE
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de julho de 2011.

 Acompanhando a evolução comercial do município de Santana do Ipanema, Alagoas, a bandidagem não podia ficar indiferente. Se os diversos atos marginais estão na mídia e dão moral ao mundo do crime, por que ficar paradão no tempo e no espaço? Com essa mentalidade anti-heroica, elementos da periferia santanense, começaram a aparecer como os destemidos para a própria comunidade. Esses movimentos isolados em forma de ilhas tiveram como antecedentes algumas poucas “ovelhas negras”, com um comerciozinho de maconha aguardando à porta, a chegada relâmpago do usuário. A rapidez de mãos treinadas capta o dinheiro no leste e solta a folha seca pelo oeste na Geografia singular dos dedos. A contínua ação dessa atividade proscrita parece não incomodar muito à sociedade que jamais pensou na evolução que se seguiu. Despreparada, juntamente com a ineficácia estatal, a aglomeração humana vai apenas de mãos atadas, contemplando essas ações com o fermento eficiente do crescimento. As ilhas insignificantes viraram arquipélago em mar tenebroso de ressacas.
          Nessa cidade sertaneja ─ a mais importante do Médio, Alto Sertão e parte do Sertão do São Francisco ─ tinha como ilhas as localidades Lajeiro Grande, Rua das Pedrinhas, Lagoa do Junco, Artur Morais, Rua da Praia e Cajarana. O isolamento local, entretanto, deu origem a uma rede marginal que interliga a cidade no seu todo. Seus tentáculos ganham os campos com essa evolução do submundo. A droga mínima agora é a cachaça pura que diante da valentia das novas drogas, virou água. Com as disputas dos rapazes em questão, O Bairro Artur Morais, em pleno centro comercial, parece ter conseguido a liderança sobre os outros. Está sempre na mídia com seus tiroteios permanentes a qualquer hora do dia ou da noite. Perambular por ali agora, somente com boas pernas, daquelas que superam com facilidade as carreiras dos jogadores Lucas e Ramires.
        Semana passada, durante certa reunião social e política, um cidadão presente recebeu um telefonema. A reunião foi interrompida para facilitar as coisas em relação ao receptor. Ao desligar seu diálogo inesperado, o pacífico indivíduo falou com a tranquilidade de sempre: “Não era nada; apenas um novo tiroteio que estar havendo no Bairro Artur Morais. Também, faltando teatro, praça, cinema e futebol, os coitadinhos não têm como brincar. Toquem a reunião e deixemos os bichinhos divertirem-se trocando figurinhas com música de besouro quente”.
          Ê cabra velho! Vamos sim, prosseguir a reunião. São apenas balas cruzando os ares, insetos pelados desprovidos de membros emplumados, e seus divertidos roncos de BESOURO QUENTE.