CABO DE VASSOURA Clerisvaldo B. Chagas, 12 de outubro de 2001           Daqui de Maceió, vou tendo conhecimento da morte de dona Ariste...

CABO DE VASSOURA

CABO DE VASSOURA
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de outubro de 2001
          Daqui de Maceió, vou tendo conhecimento da morte de dona Aristeia, em Santana do Ipanema, senhora de numerosa prole que ajudou a povoar à cidade. A Internet vai dando conta de tudo e os nossos contatos com a terrinha não ficam resumidos apenas nos recados de boca. Dona Aristeia, mulher valorosa, soube bem dirigir sua descendência para o destino de servir à sociedade, coisa que ela faz do modo mais natural possível. Muitos dos seus filhos são destaques no meio em que vivem e fora, honrando essa família tradicional em Santana do Ipanema.
          Mas também veio de Santana, semana passada, a cômica notícia para um Jô Soares ou outro Ás do humor nacional. Fugiu da delegacia da cidade, um bom punhado de presos, usando a mais inusitada ferramenta. Quer dizer, ferramenta mesmo não, mas será que poderíamos chamar de “maderrenta”? Tem-se “ferramenta” que é própria do ferro, deve existir “maderrenta” que vem da madeira. Estou certo ou errado, cabra velho? Bem, deixando de lado a tese da madeira, foi noticiado pelos sites locais e confirmado por representante da citada delegacia, a fuga dos bandidos que usaram um cabo de vassoura para furar a parede, ampliar o buraco e permitir a passagem do bando, chefiado por certo “Nego Cão”, traficante e matador do Bairro Artur Moraes.
          A fragilidade do cabo de vassoura é tanta que virou ditado popular. Quando se fala do homem sem caráter, do que não tem firmeza em suas ações, se diz que “fulano é fraco que só cabo de vassoura”. O leitor deve conhecer muitos cabras assim, coisa que não é, nem nunca foi novidade. Nesses casos, principalmente na ciência política, eles concorrem e vencem com vantagem de muitos corpos, os cabos de vassoura. Por outro lado, esse objeto comprido, roliço, para apoio da limpeza, tem uma serventia enorme no lar e nas ruas em mãos de donas de casa e de garis habilidosos. Para muitas mulheres, representam a primeira arma para bater no maridão, quando faz as suas gaiatices. Ainda bem que não são feitos de baraúna, angico, aroeira, pereiro...
          Entretanto, a notícia de que os presos de Santana fugiram graças a um cabo de vassoura, edifica esse objeto frágil que virou machão do dia para a noite. As fábricas de vassouras vão valorizar os seus produtos, fazendo incessante propagando das qualidades superiores dos seus cabos. “Fuja da cadeia, contando com o cabo de vassoura tal. Adquira o objeto nas melhores casas do ramo”. E assim vamos questionando sobre a eficiência do nosso sistema carcerário. E imaginando se tem um jeito para transformar a fraqueza dos homens fracos em robusto caráter do forte, destemido, eficaz arrombador de paredes, esse novo tipo que apareceu de CABO DE VASSOURA.


MAIOR IMAGEM DO MUNDO Clerisvaldo B. Chagas, 11 de outubro de 2011 A maior imagem do mundo de Senhora Santana Ana, a avó de Jesus, está lo...

MAIOR IMAGEM DO MUNDO

MAIOR IMAGEM DO MUNDO
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de outubro de 2011

A maior imagem do mundo de Senhora Santana Ana, a avó de Jesus, está localizada em Santana do Ipanema, no estado de Alagoas, Brasil. A cidade de Santana do Ipanema foi fundada em 1787, com a construção de uma capela nas terras do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia, adquirente de uma grande sesmaria na região denominada Ribeira do Panema. Após a construção da capela, ali foi entronizada a imagem de Senhora Santa Ana e São Joaquim, trazidas da Bahia pelo missionário Francisco Correia, a pedido da esposa do fazendeiro, primeira devota de Ana por aquelas bandas. Após esse ato inaugural, a região passou a ser conhecida, então, por Santana da Ribeira do Panema. O nome evoluiu juntamente com a transformação local, sendo hoje Santana do Ipanema, cidade polo, capital do Sertão alagoano.
No último decênio do século passado, o “Escritor Símbolo de Santana do Ipanema”, Clerisvaldo B. Chagas, lançou a ideia de se construir em um dos morros circundantes e tradicional religioso, serrote do Cruzeiro, a maior imagem de Senhora Santa Ana, do mundo. Seria uma justa homenagem à santa que deu origem à cidade e município que levam o nome da avó do Cristo. Houve a princípio um movimento religioso da Paróquia e da cidade em geral. A população encampou a ideia. Entre profissionais, primeiro foi construído um horto artificial. Em seguida a base segura na engenharia e, em terceiro, a construção do gigantesco monumento feito por escultores de gabarito.
O monumento fez com que a cidade desenvolvesse a modalidade de turismo religioso. O ano todo chega romeiros em Santana do Ipanema, fazendo o comércio e a economia local crescer de forma assustadora. Durante o mês de julho, durante os seus festejos oficiais. A cidade recebe centenas de ônibus e outros meios de transportes, lotados de romeiros. São milhares de pessoas que surgem em Santana para conhecer, fazer e pagar suas promessas com a milagrosa senhora Santana Ana. Inclusive já se fala no pedido do Papa anterior, que havia pedido por duas vezes uma sede de bispado em Santana do Ipanema, mas as autoridades da igreja ignoraram o pedido do Santo Padre. Pode ser que agora, com essa intensa romaria, o pedido saia dos arquivos alagoanos e seja feita o pedido de Roma.
Quem conhece Santana do Ipanema, sabe que nada disso que está escrito acima é verdadeiro. Foi apenas uma ideia que poderia ter sido realizada pelos devotos da santa e boa vontade das autoridades diversas e o povo em geral. Não basta uma ideia. É preciso a ferramenta para alavancar o pensamento, de quem a tem à mão. Infelizmente “eles” são ciumentos e esquivos. E as coisas boas para a minha terra vão ficando apenas nos sonhos, nas quimeras, nas cortinas diáfanas de poetas e afins. Perdemos a MAIOR IMAGEM DO MUNDO. 

OUVIDO DE TUBERCULOSO Clerisvaldo B. Chagas, 10 de outubro de 2011 A multidão estava ali defronte o mercado. Não consegui saber de fato...

OUVIDO DE TUBERCULOSO


OUVIDO DE TUBERCULOSO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de outubro de 2011

A multidão estava ali defronte o mercado. Não consegui saber de fato porque a multidão estava ali. Alguma coisa estava havendo para motivar o povo. Mas eu olhava para frente e nada distinguia. Quem estava ao meu lado não tinha cara de raiva, nem de interrogação. Os semblantes dos que estavam bem próximos, pareciam normais. Deu-me vontade de olhar para baixo, espiar para o chão. E lá estava uma banda de limão usada, concha para cima. Alguma coisa fazia vibrar a casca que provocava um ruído baixo, mas irritante. Um filete d’água passava perto, por entre os sapatos daqueles curiosos. Um homem muito conhecido, gaiato e inquieto, apontou-me com o dedo a casca. Nada disse, com a voz, mas eu ouvi e entendi.
─ A casca.
─ O que tem a casca?
─ Jogue.
─ Jogar em quem?
─ Jogue.
─ Não vou jogar casca em ninguém. Ninguém jogou nada em mim!
E o homem prosseguiu justificando, falando sem falar e eu entendendo. No beco havia muito lixo. No beco onde todos passavam. O beco era caminho de todos. Mas ninguém tirava o lixo. Mais lixo chegava ao beco. Todos passavam no lixo, menos o responsável dos responsáveis. Alguém ativa lixo em nós.
─ Quem?
E ele:
─ O “coroné”.
─ O “coroné!...” Ah, sim.
E eu peguei a concha de limão que ainda vibrava com seu ruído irritante e a joguei para frente em quem eu não via, mas uma coisa falava que eu estava jogando a concha no “coroné”.
Não existe segredo na política. Por mais secreta que seja a reunião, em poucos instantes o “coroné” vai saber. Ninguém sabe como ele sabe; ninguém vê como ele vê; ninguém entende como ele ouve. As ações do “coroné” não são boas. É ele quem coloca o lixo; é ele quem manda colocar o lixo; é ele quem entope seu caminho de lixo; ele quer você por sobre o lixo. Mas um dia ele vai saber que perto do lixo tem uma concha de limão, usada.  Essa casca está sequiosa para ser atirada no rosto do “coroné”! Você não pode deixar de juntar-se à multidão para atirar conchas vibrantes no “coroné”. Para se livrar do lixo. Do lixo que não lhe traduz. Do lixo que você não é. Não importa se ele vai saber, com seu nariz aquilino, com sua mão de ferro, com seu coração de onça, com seu “fio da peste” OUVIDO DE TUBERCULOSO.