SÓ NÃO ESTUDA QUEM NÃO QUER Clerisvaldo B. Chagas, 23 de março de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.864 Sempr...

SÓ NÃO ESTUDA QUEM NÃO QUER


SÓ NÃO ESTUDA QUEM NÃO QUER
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de março de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.864

Sempre estudei morando na cidade. Sei, entretanto das grandes batalhas pelo Saber, de alguns companheiros do meu tempo e de antes de mim. Pessoas que se tornaram importantes para à sociedade e todos os dias vinham de sítios pertos ou distantes, a pé ou a cavalo. Alunos que, solitariamente, desciam e subiam a serra do Poço, com 500 metros de altitude. Os que vinham de sítios como Queimadas do Rio, Batatal, Olho d’Água do Amaro, Barriguda, João Gomes, Lagoa da Pedra e tantos outros do nosso município. Tudo como adolescentes para enfrentarem o antigo primário, o Admissão ao Ginásio, às primeiras séries do Curso Ginasial. Sol de rachar ou muita chuva com lama nas estradas e córregos cheios.
Muitas são as aventuras contadas atualmente, como os mal assombros encontrados pelos caminhos, como por exemplo, o que se ouvia ao passar pela igrejinha das Tocaias e uma ou outra santa cruz de beira de estrada. Não havia transporte, merenda, financiamento de livros e cadernos. A palmatória e a régua de baraúna cantavam nas mãos e nas canelas. Alguns poucos chegavam dos sítios, não suportavam a escola e caiam na jogatina da sinuca. A grande maioria, porém, valorizava a luta por um melhor lugar no mundo. Essa foi uma fase difícil para os estudos, mas não conhecemos ninguém que tenha se arrependido em ter estudado.
Atualmente o governo fornece tudo. Manda buscar o aluno em casa, em qualquer lugar da zona rural. Nem o caminhão serve mais tem que ser de ônibus. O transporte vai buscar e levar no terreiro. A escola dispõe de ventilador ou ar condicionado. Livros de graça. Merenda da melhor qualidade. Laboratório de informática, segurança, cursos, visitas e passeios. Infelizmente ainda são muitos os que procuram apenas assistir a primeira aula, com um enfado e uma alergia à escola, própria dos lugares mais perigosos da periferia.
E se o governo fornece tudo ao aluno e este não corresponde, onde está o erro?
Educação, um desafio permanente.



OUTONO ESCASSO Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alag oano Crônica 1862 FOTO: (AGÊNCIA ALAGO...

OUTONO ESCASSO


OUTONO ESCASSO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1862
FOTO: (AGÊNCIA ALAGOAS).

De acordo com as várias afirmações dos entendidos, a coisa tá preta no velho sertão de guerra. No dia de São José não choveu no semiárido alagoano. Céu limpo sem as nuvens benfazejas e uma temperatura de lascar o cano. Foi três dias seguidos com 37 graus, em Santana do Ipanema, médio sertão, que quase se iguala à famosa cidade de Pão de Açúcar, às margens do Velho Chico. As nuvens fizeram um tampão tipo “efeito estufa”, e, segundo um trabalhador rural, “fez o matuto moer troncho”. Ouvimos um profeta da chuva descrever a posição de tal estrela dizendo que não tem jeito e que esse ano será escasso de chuva por aqui. Muita gente não quer sair de casa depois das dez horas e, pelo menos até às quinze.   
Alguns dias o céu vem tão azulado quanto à pedrinha quadrada do anil, outros dias o firmamento traz as enganosas nuvens de carregação. E o sertanejo, que vive da chuva e pela chuva, espia para cima várias vezes por dia, aguardando mágica mudança, milagre, num misto de fé e desafio. Não senhor, não foi por aqui o desfile do Canal do Sertão. E quem olha para as montanhas circuncidantes, vê o cinza querendo afastar o verde e tomar conta do cenário. Um roceiro das bandas do serrote dos Brás, sítio distante de Santana, fala que o lugar tem muitas cisternas e tal poço Camarão que nunca seca. E que quando vai chegando a esse ponto, Deus sempre providencia o abastecimento de cima.  
Repetem-se os ciclos de prosperidades limitadas e voltam-se aos ditados marcados, sulcados e sofridos: “o sertanejo está sempre começando”. Eleva o rebanho nos tempos de fartura, tudo perde na inclemência e renasce junto com o novo inverno, cada vez mais raro. E no período mais difícil, até que a água chega montada em caminhão, mas os animais não vivem somente de água.  
E se tudo falta na zona rural, sofre o comércio da região, quase sempre de modo geral, pois o geral é a própria natureza nos caminhos: Sol ou chuva. Estamos iniciando o outono. Da sua metade em diante, esperamos as água do céu e a emenda com o inverno, mas não está nada fácil. Quando havia acauã, inventava-se culpado. E agora? São José passou por longe.

MARTELO DA CULTURA Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica/poesia 1861 (Resumo) F...

MALTELO DA CULTURA


MARTELO DA CULTURA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica/poesia 1861 (Resumo)
Foto:( Turismomix).

Meu roçado não é tão diferente
Do barreiro do pote do caneco
Da foice do machado do xadeco
Da maniva do tronco da semente
Do chocalho malvado da serpente
Do boi do vaqueiro do gibão
É o livro a caneta o livião
A comadre que reza e faz a cura
Como posso falar da Agricultura
Se a Cultura é a roça do meu pão

No roçado tem casa de farinha
Casebre chamado pau a pique
O engenho colado ao alambique
O feitiço do Sol de tardezinha
Os quitutes cheirando na cozinha
Um cavalo ruim feio e chotão
O cachorro se coça no pilão
A morena ao vaqueiro ainda jura
Como posso falar da Agricultura
Se a Cultura é a roça do meu pão

O alarme do galo no paiol
Um caboclo valente e atrevido
Dão romance rural abastecido
Como a luz matutina é um farol
Poetisa mastiga o arrebol
É teatro novela de paixão
Escritores só bebem no Sertão
Da fonte literária bela e pura
Como posso falar da Agricultura                                    
Se Cultura é a roça do meu pão

Uma dona fazendo uma intriga
O pescoço comprido do socó
A cadela no rastro do mocó
Uma arenga uma foice e uma briga
O teiú por dentro da urtiga
A memória de Cosme e Damião
As voltas da onça no grotão
O menino pegando tanajura
Como posso falar da Agricultura
Se a Cultura é a roça do meu pão



A cultura se faz com marmeleiro
Alecrim quixabeira grão de bico              
Imburana folhagem de angico
Espinheira miolo de facheiro
Sacatinga bom nome cajueiro
Mulungu mororó salsa e pinhão
Goiabeira andu federação
Óleo de mamona e rapadura
Como posso falar da Agricultura
Se a Cultura é roça do meu pão