A BENGALA DO CAMPO Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.204 SERRA DO POÇO...

A BENGALA DO CAMPO


A BENGALA DO CAMPO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.204
SERRA DO POÇO, S. DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO)

Como professor de Geografia percorri inúmeras vezes o trajeto Santana do Ipanema – povoado Pedra d’Água dos Alexandre. Constatava muitas terras e poucos cuidadores. Até mesmo em império de terras, o mato tomava conta cobrindo tarefas e mais tarefas de palma forrageira. Velhice dos donos falta de mão de obra, êxodo da juventude. Sem mãos para agredir a natureza, surgiam bandos de pássaros das mais variadas espécies, cantando e agradecendo a falta de predadores humanos. Após a infância, nunca mais tinha visto aquilo.
Na serra do Poço, monte entre Santana e Poço das Trincheiras, notava o desmatamento, o abandono dos pomares pelo envelhecimento dos proprietários, falta de mão de obra e êxito da juventude. A maior fornecedora de frutas de qualidade da região estava combalida.
Na região do sítio santanense Olho d’Água do Amaro visitei um amigo que vivia sozinho, tipo ermitão. Cuidava da fazenda somente ele e Deus. Uma solidão que me deu medo. Os mesmos problemas das demais regiões refletiam-se nesse espaço entre Santana e Senador Rui Palmeira. A tese do envelhecimento do campo não tinha com quem ser discutida. Com prefeito? Com governador? Com faculdades? Um egoísmo domina o mundo e os jovens dizem: “cada um no seu quadrado”.
Agora o IBGE constata a teoria do geógrafo solitário, cerca de quinze anos depois. O campo está envelhecendo. Vários são os motivos, como alguns já citados acima. E para solucionar parte do problema só encontramos o incentivo do governo para fazer retornar ao campo os que fizeram cursos de agronomia, veterinária, zootecnia... E outras medidas que assegurem o futuro do trabalhador rural.
E para produzir nossa alimentação de cada dia, graças ainda a agricultura de roça, pois as grandes produções são exportadas para matar a fome do mundo.
A coisa é braba, Zé.





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FURANDO A CAATINGA             Clerisvaldo B. Chagas, 23 de outubro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.203 ...

FURANDO A CAATINGA


FURANDO A CAATINGA
            Clerisvaldo B. Chagas, 23 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.203

POVOADO BARRA DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO)
Para satisfação do povo sertanejo, o gove        rno vem através da “Agência Alagoas” (22) reafirmar que será entregue a pavimentação asfáltica Batalha – Belo Monte. Marca para 90 dias o prazo da entrega. O percurso de 27 quilômetros que liga as duas cidades, a AL -125, já teve concluído os serviços de drenagem e terraplanagem. Agora estar sendo preparada a base para recebimento do asfalto que ligará aquela rodovia à AL-220, em Batalha. O percurso era totalmente de barro com dificuldades em épocas chuvosas. Dentro de 15 dias será iniciado o asfalto com a devida sinalização. Quando o trecho estiver pronto, o tempo gasto para percorrê-lo ficará pela metade dos atuais 40 minutos.
Todo movimento de Belo Monte é por essa única estrada, mas a comunicação com outras cidades acontece através do rio São Francisco, principalmente com as de Sergipe. Hoje Belo Monte está mais integrada ao solo sergipano em todos os setores. Espera-se que essa realidade mude a favor de Alagoas após a pavimentação da AL-125. Bem perto de Belo Monte, a estrada se bifurca e um dos braços leva até o povoado Barra do Ipanema com a praia fluvial mais bela da região. É ali onde está o morro/ilha de Nossa Senhora dos Prazeres, cuja igreja no topo foi tombada pelo IPHAN. Como ninguém falou sobre o assunto, tudo indica que o acesso a Barra não será asfaltado.
Atravessando boa parte de caatinga ainda bruta, o trecho de barro Batalha – Belo Monte é perigoso devido ao seu isolamento. Aguarda-se para um futuro próximo um ganho exponencial para Alagoas, quando Batalha deverá incorporar essa nova economia. Saúde, turismo, educação e comércio terão uma dinâmica maior entre as duas cidades alagoanas. A previsão de entrega total da obra está prevista para o início de 2020, quando a nova realidade chegar à Bacia Leiteira.
No momento em que Alagoas é apontado em primeiro lugar no Brasil como melhor malha viária, a novidade soa bem aos ouvidos sertanejos. Uma vitória e tanta a ser comemorada com peixes, pitus e geladinhas na praia da Barra onde despeja o tão querido rio Ipanema.


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CARCARÁ, O IMPERADOR SERTANEJO Clerisvaldo B. Chagas, 23 de outubro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.202 C...

CARCARÁ, O IMPERADOR SERTANEJO


CARCARÁ, O IMPERADOR SERTANEJO
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.202
CARCARÁ. (FOTO/DIVULGAÇÃO).

“Carcará/pega mata e come/carcará/mais coragem de que homem...”.
A letra famosa é do santanense José Cândido. Mas para você que não conhece, apresentamos o predador dos ares.
O carcará (Caracara plancus) parente dos falcões é um velho conhecido sertanejo. Come quase tudo que encontra em suas caçadas: lagartos, insetos, roedores, cobras, sapos, passarinhos, pintos e até carneiros recém-nascidos. Também se alimenta de carniça tal os urubus, sendo vistos em margens de rodovias – aguardando animais atropelados – e nos campos de criação. Tem garras poderosas, segura a presa com elas e a rasga com o bico encurvado e robusto.
O carcará parece um religioso com um solidéu preto na cabeça. Suas penas são variadas em cores desde a proximidade do bico até a cauda. Aprecia sobrevoar em roças queimadas em busca de animais sobreviventes. Aprendeu a seguir as arações de terras com tratores, para atacar pequenos bichos revolvidos do solo. Assim como os gaviões, é um terror para quem cria galinhas e pintinhos nos terreiros. Não é surpresa encontrar o carcará caminhando nos lixões em busca de animais mortos e restos de comidas deixadas pelos humanos. Em Alagoas costuma frequentar a região da Bacia Leiteira, principalmente na rodovia entre Jacaré dos Homens e Jaramataia. É facilmente distinguível entre o gavião e outras aves pelo tamanho e características. Parece um imperador dono de tudo.
O carcará acompanha os urubus, passa muito tempo no chão e é excelente planador. Pode chegar a 124 centímetros de envergadura e cerca de 100 da cabeça a cauda. É conhecido como violento e cruel e o seu nome é usado em várias metáforas.
“Carcará come inté cobra queimada
Quando chega o tempo da invernada
O sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim não passa fome
Os borregos que nascem nas baixadas
Carcará
Pega mata e come
Carcará
Não vai morrer de fome...”.