TOCAIAS: O ECO DO PASSADO Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:2.506   Havia na r...

 

TOCAIAS: O ECO DO PASSADO

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:2.506


 

Havia na região santanense de Bebedouro/Maniçoba, uma família de artesãos em madeira. Ela trabalhava com réplicas das partes do corpo humano para pessoas católicas que precisavam pagar dívidas. As peças que mais víamos eram: cabeça, mãos e pés, denominadas ex-votos. Eu identificava todos os membros da família, mas havia um galego que parecia que as cabeças de pau, eram baseadas na sua própria figura. Peças rústicas, feias, mas com certeza bem recebidas pelos donos das encomendas. Não sei dizer se aquela era a única família que confeccionava ex-votos, em Santana. Ao visitar certa feita a Igrejinha das Tocaias, nos confins do Bairro Floresta, vi uma verdadeira montanha de peças deixadas pelos devotos e juntadas ao pé da cruz do pátio. Como era grande a fé dos que faziam promessas na Igrejinha das Tocaias, com o santo estrangeiro Seu Manoel da Paciência que representava Jesus!

Quem vê o cantor e milionário Amado Batista, com todo respeito, vê a cópia das cabeças feitas pelos artesãos da Maniçoba. Sem ter onde colocar tantas peças, zeladores da Igrejinha tiveram que se desfazer de muitas e guardar um pouco das mais conservadas. Estou falando isso porque iremos fazer um movimento entre escritores e sociedade para darmos a assistência devida à igrejinha que precisa de reforma e muito mais. Há um ano estive procurando um artesão em madeira e ninguém soube informar de nenhum. Acho que artífice para essa finalidade de seguidores católicos, não existe mais no município santanense.

Não sei se o assunto interessa ao amigo e amiga, mas é fremente que resgatemos e conservemos a Igrejinha das Tocaias, cuja história já foi contada em cordel, por nós. Único resgate desta saga desconhecida pelo nosso povo. Uma vez revelada sua história, falta agora restaurá-la e até propor um tombamento uma vez que o humilde templo não pertence a ninguém. Quanto aos que gostam de fazer promessa, sobre membros do corpo, estamos sem artistas, pelo menos na cidade, restando recorrer a artesãos em outros tipos de material como gesso, por exemplo.

A propósito, nosso singelo subúrbio Maniçoba/Bebedouro, sempre foi rico no artesanato em couro de bode, em palha Ouricuri e em madeira e renda.

Seria bom um levantamento pela municipalidade para registro e benefício dos artesãos e artesãs remanescentes.

IGREJINHA DAS TOCAIAS (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

  OS ARUBU COMEU Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.505   Seu Agenor era um ...

 

OS ARUBU COMEU

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.505


 

Seu Agenor era um verdadeiro cientista. Homem rude da nossa cidade, tomava conta do motor alemão da Empresa de Força e Luz que abastecia Santana do Ipanema com eletricidade. Era inventor e artesão, uma espécie de professor Pardal. Morou uma época em nossa Rua Antônio Tavares, vizinho de apenas duas casas. Sua esposa era chamada Mariquinha. O casal, quando do meu conhecimento, já era gente da terceira idade. Para mim, pessoas ótimas, mas eu não entendia o porquê de uma musiquinha que a meninada cantava na rua, entre tantas outras normais e chulas que se ouviam de adultos sem-vergonhas. Mas a melodia de Mariquinha, eu nunca soube do sentido e absolutamente nada. Cantava com os outros meninos como quem estava marchando:

 

Dona Mariquinha

Cadê Pompeu?

Pompeu foi pra rua

Os arubu comeu...

 

Quem era Pompeu? Apesar das cantigas acontecerem nas imediações da sua casa, Dona Mariquinha tinha duas filhas: Dedé e Lola. Dedé, solteira. Lola, casada com o músico chamado pelo povo de Zé Bicudo ou Zé de Lola. Salvo engano também era motorista de praça. Mas, nada de Pompeu! Quem diabo era Pompeu? Por que Pompeu fora para rua? Porque os urubus comeram Pompeu?

Quem for do meu tempo me explique direitinho esse negócio. Talvez o escritor Luiz Antônio, Capiá, saiba alguma coisa.

Lembro-me que a casa de Agenor, também foi habitada por Zé Bicudo e Lola, Dona Zora, Valmiro, atual prefeito de Poço das Trincheiras e outros bons vizinhos.

Voltando, porém, a Seu Agenor, um cientista que foi relevante para Santana do Ipanema, nunca vi uma homenagem à sua inteligência, nem sequer um beco. Diz-se no Sertão que “pão comido é pão esquecido”. Santana hoje, com energia elétrica de Paulo Afonso, prefere fazer de conta que Agenor não existiu. Para que serve um homem que garante energia para uma população durante quatro anos? Para que um cientista na cidade?

A história de Agenor para as novas gerações, nunca foram registradas em livros. Ela se mistura apenas com o enigma “sem importância” da melodia de dona Mariquinha:

 

Dona Mariquinha

Cadê Pompeu?...

 

INAUGURAÇÃO DO PRÉDIO NOVO DA EMPRESA DE FORÇA E LUZ, EM SANTANA DO IPANEMA, ENTRE 1961 E 1965. (FOTO: LIVRO 230/DOMÍNIO PÚBLICO/Acervo B. Chagas).

 

 

  RAINHA E PRINCESA Clerisvaldo B, Chagas, 5 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.504   Vamos esclarecer ...

 

RAINHA E PRINCESA

Clerisvaldo B, Chagas, 5 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.504

 

Vamos esclarecer geograficamente sobre Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema. Uma se diz Princesa e a outra Rainha do Sertão, onde está o erro?

Cognomes de pessoas e lugares são coisas tão antigas que suas origens se perderam no tempo. Apelida-se tanto para denegrir quanto para elogiar. Temos uma cidade vizinha a nossa no sertão de Alagoas que todos os elementos masculinos têm apelidos, até o prefeito. Temos ainda no estado vário cognomes e citamos como exemplo: “Maceió, Cidade Sorriso”. Maceió, Paraíso das Águas” e assim por diante. E quando se trata de Palmeira dos Índios, a tradição fala: “Palmeira, a Princesa do Sertão” e Santana do Ipanema, “A Rainha do Sertão”. Falaríamos dessa maneira uma princesa e uma rainha?

Vejamos sobre Santana do Ipanema. Foi cognominada primeiro “Terra dos carros de boi. Em seguida, “Rainha do Sertão” e agora “Capital do Sertão”. Todos justificados: o carro de boi nunca deixou de existir em grande quantidade. Rainha, pela beleza, principalmente nos dias atuais. E no caso da Capital, é por funcionar no sertão e alto sertão como a mais importante aglutinadora da área. Correta a sua posição que é no Médio Sertão Alagoano.

Vejamos agora Palmeira dos Índios: “Princesa do Sertão”. Princesa deve ter sido por sua merecida beleza. Sertão, creio basear-se ainda numa Geografia que não estava bem definida na época  do epíteto. Não existe demarcação de fronteira natural exata. Mas, em nosso estado, como dizia o professor Ivan Fernandes Lima com sua respeitada Geografia de Alagoas (1965) o Sertão alagoano – para quem trafega pela BR-316, vindo de Maceió para o extremo Oeste – a grosso modo se inicia no rio Traipu. Portanto, Palmeira dos Índios é agreste bem como Estrela de Alagoas, sua vizinha, que está situada quase no limiar da fronteira, o que eu não diria sobre Minador do Negrão que tem características totais do semiárido.

Visto o que foi apresentado acima, seria correto: Palmeira dos Índios, a “Princesa do Agreste”. Aliás, a segunda cidade em importância nessa faixa classificatória, perdendo apenas para Arapiraca, segunda capital de Alagoas com apelido ou sem apelido.  Caso você venha de Maceió para o extremo Oeste via Arapiraca, a primeira cidade sertaneja será Jaramataia, pertinho do limiar do agreste.

Esclarecida a dúvida, cada um coloca o cognome que quiser, tendo um respaldo seguro, melhor ainda.

“Princesa do Agreste”, “Rainha do Sertão”, duas tradicionais e gigantes cidades que honram e orgulham nossa gente.

TERRAS DE JARAMATAIA VISTAS DA AL-220. BARREIRO EM CASA DE FAZENDA. AO FUNDO, SILHUETA DO SERROTE DO JAPÃO (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).