SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
SANTANA: RUAS, RUAS E RUAS Clerisvaldo B. Chagas, 14 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica : 2.506 No gov...
SANTANA: RUAS, RUAS E RUAS
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.506
No governo Marcos Davi, Santana do Ipanema teve a
oportunidade em ser 100% calçada. No
início do seu governo, o gestor havia prometido pavimentar todas as ruas de
Santana, com paralelepípedos. Não temos a menor ideia do que aconteceu para o
prometido que estava sendo realizado a todo vapor, arrefecesse e deixasse de
ser cumprido. Fez muito, mas a meta prometida não foi alcançada. Entra prefeito
e sai prefeito, mas sempre aparecem novas ruas impulsionadas pelo progresso.
Você já pensou em uma cidade sem uma única rua no barro, na areia, na lama e sem
esgotos a céu aberto? Isso evitaria doenças e mais doenças que lotam as
unidades de saúde, proporcionando mais conforto para seus habitantes. Não
importa que uma rua seja pavimentada com asfalto, cimento ou pedras, contanto
que dê dignidade a seus moradores.
Atualmente a força do governo estadual tem beneficiado os
municípios com pavimentação de asfalto e pedras, o que não havia nos governos
passados. Daí o grande ensejo para a nossa cidade eliminar do mapa urbano
qualquer rua, grande ou minúscula sem calçamento cobrindo-as com
paralelepípedos. Veja a notícia dos sites locais: “O município será contemplado
com serviços de pavimentação de 122 vias urbanas, que equivalem a 18
quilômetros. Além disso, serão implantados cinco equipamentos de lazer, com quadra
e brinquedos infantis, que vão garantir opção de lazer público à população”.
Santana já era calçada com pedras brutas desde o seu período
de vila. A substituição do calçamento bruto por paralelepípedos, aconteceu na
gestão do prefeito Ulisses Silva. Daí em diante ficava proibido o trânsito do
carro de boi pelo novo calçamento. O aro de ferro da roda do veículo poderia
danificar a nova pavimentação. Os carreiros, passaram a imitar as carroças de
burro: Trocaram as rodas de madeira de lei por rodas de pneus e continuaram
rodando pelo centro da cidade. Mas, a grande maioria dos carreiros, abandonaram
as ruas de Santana, trafegando apenas da zona rural até o limite do rio
Ipanema. Assim fomos deixando de ser a terra dos carros de boi. Ainda existe alguns metros de calçamento
bruto como museu a céu aberto na final da Rua Barão de Rio Branco, acesso ao
rio.
RUAS, RUAS, RUAS...
Rua Antônio Tavares (Foto: B. Chagas/Livro 230).
SER OU NÃO SER Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.510 Os cangaceiros usav...
SER OU NÃO SER
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.510
Os cangaceiros usavam espinhos de mandacaru para palitar os dentes. As indústrias não fabricam palitos inspiradas nas cactáceas sertanejas. Entretanto, algum tipo de cola branca tem a ver com o aveloz ou labirinto como se chamavam no semiárido. Aproximadamente na década de 60, o sertão nordestino surgiu com essa planta para ser colocada junto as cercas de arame. A praga infestou o sertão, tanto que o transeunte da estrada sertanejas não avistavam mais as roças, as paisagens dentro das fazendas, todas rodeadas de labirinto. A planta crescia até mais de três metros de altura deixando as estradas como grandes túneis porque eram ladeadas pela planta. O labirinto produz um leite pegajoso que bateu no olho, cega. O labirinto (Euphorbia tirucalli) é um arbusto com mais de 40 denominações.
Para fazer as podas necessárias,
os raros homens que se prestavam a fazer esse tipo de serviço, usavam máscaras
de metal que cobriam completamente o rosto, deixando vidros no lugar dos olhos.
Vez em quando se ouvia dizer que Fulano ou Beltrano teriam ficado cegos com
leite de aveloz. Eu achava essa praga um absurdo. Algumas pessoas usavam o leite
pingando nas verrugas como remédios de cura. Porém, nunca testemunhei a
eficácia. Pensei que aquilo poderia ser aproveitada como cola. Décadas e
décadas depois, vim a saber que indústrias estavam usando justamente o leite de
aveloz como ingrediente nos produtos de colagens. Fui profeta realizado. Depois
da década do aveloz, os matutos começaram a se livrar daquela planta e as
estradas foram ficando limpa de um lado e do outro e aí já podíamos contemplar
as fazendas cercadas somente pelas cercas de arame farpado. A praga acabou, mas
revelando a surpresa do desmatamento que se escondia por trás do labirinto.
No caso daquilo que era considerado erva
daninha pelos criadores de gado, o mata-pasto, que se gastava fortunas para erradicá-los
das pastagens. Imaginei na época se aquela erva não serviria para outra coisa.
Descobri lá na frente que pesquisadores atestavam o valor nutritivo do
mata-pasto e assim ele foi incorporado à silagem para ração animal nos tempos
de estiagem. Vejam como a coisa muda! É quando o vilão passa a ser herói. E
assim poderíamos citar vário produtos da nossa caatinga, antes desprezados,
servindo de matéria-prima para as indústrias diversas, inclusive a farmacêutica,
mas cultivada e sem desmatamento
Voltemos ao passado dos
grandes filósofos: “ser ou não ser, eis a questão”
MATA-PASTO (FOTO: WIKIPÉDIA)
SANGUE RURAL Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.509 Sou do tempo em que...
SANGUE RURAL
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.509
Sou do tempo em que os
terreiros das fazendas se enchiam de galináceos: pintos, galinhas, galos,
guinés, capãos, pavões, patos, perus e guinés. Os cuidados de defesa eram
apenas com o gavião e com a raposa. Revejo-me aguardando o canto da galinha
para pegar ovo do ninho. Mulheres quilombolas chegando para capar os pintos
maiores e torná-los frangos e capãos. A cuia cheia de milhos e o sacudir de
mancheias quando o alvoroço da galinhada chegava para catar os grãos jogados no
terreiro. Vinham correndo, voando, uma por cima das outras disputando o milho
dourado produzido no local. Ti, ti, ti... Chamava a alimentadora. Gradeados gigantes de ripas prendiam os
capãos para cevá-los e transformá-los em delícias nas ocasiões especiais.
Revejo ninho enjeitado,
com caramujo para atrair a galinha. Rezadeira aplicando remédio caseiro contra
o gôgo no criatório. As batidas da mão de pilão pilando café com rapadura e o
aroma alcançando dezenas e dezenas de metros de distância. Roupas sendo lavadas
nos pilões de pedra, ruídos de cavalos comendo milho em aiós pendurados à
cabeça. Placas à querosene nos pregos das paredes. O vai e vem do balanço de
redes cearenses e as cantigas evocadas de mestres dos Guerreiros. Noites
tremendamente escuras e o medo no pé da goela. Arrebóis de lindas estampas e
garrinchas fazendo ninho nas biqueiras da casa. Abelhas sobrevoando pé de
coração da índia. Pancadas de chuva no telhado; cheiro gostoso da terra molhada
e fartura da roça transportadas em carros de boi.
A mente ainda vê o
homem arrancando mandioca na terra fofa. Senhoras rapando raízes para
farinhada. Pessoas tangendo o gado para longe da manipueira. Batalhões de
trabalhadores apanhando algodão com sacos brancos e fundos. Cantigas na roça do
“Mineiro ou Maneiro Pau”. Litros de gás óleo vendidos nas bodegas. Ensacamento
do algodão em estopa para venda às algodoeiras. Bêbados conversando miolo de
pote e cuspindo no pé do balcão. Cavaleiros esquipando seus cavalos baixeiros
de volta à casa após as feiras livres. Bois de cambão esticando correntes
puxando carros de boi lotados de mercadorias. Remoer de garrotes devorando
ração de palma santa. Carreiros elogiando as morenas do sertão e o musical no
mundo dos forrós que ilustravam as noites de escuro.
Ô sanfoneiro
Moça mandou lhe
chamar...
Para tocar um baião no
Ceará
Tu diz a ela
Que de pé em não vou lá
Eu só vou de avião
Se mandarem me
buscar...
Como deixar ausente o
vermelho e verde SANGUE RURAL?!
TERREIRO COM GALINHAS
DE CAPOEIRA (CRÉDITO: STOOK FHOTO)

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.