IMBURANA Clerisvaldo B. Chagas, 4 de abril de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.684 Existem árvores na caatinga,...

 

IMBURANA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.684



Existem árvores na caatinga, verdadeiras preciosidades pelo porte, pela utilidade, pela beleza. Pena que a mata nativa já tenha sido amplamente devastada, muito boa parte dela por completa ignorância dos nossos agricultores passados. Mas, sempre encontramos fazendas com reservas de mata nativa, conservadas pelo próprio fazendeiro. Nelas geralmente encontramos todas ou quase todas as espécies contidas na literatura da caatinga. Tivemos a felicidade de participarmos de uma visita a uma dessas fazendas no município de Poço das Trincheiras, durante uma pescaria magra de açude. Em torno da barragem havia uma reserva de mata deixada pelo matuto proprietário. Admiramos a exuberância da caatinga, extremamente verde com um complexo invejável de espécies e cuja penetração na mata era muito difícil.  

Encontramos logo no início a Imburana (Commiphora leptophloeos). A imburana pode ser de cheiro e de cambão. A primeira é muito valorizada, a segunda, nem tanto. A imburana é uma árvore de grande variação na altura. É bastante utilizada no Sertão em cercas de fazendas, em acessório de carro de boi e no uso de ancoretas para armazenagem de aguardente. Isto sempre como preferência a imburana-de-cheiro. Sua casca tem certa semelhança com o chamado “pau-ferro”, em algumas regiões denominado “Jucá”. Tem o seu tronco de película ligeiramente enrolada, num fenômeno único.  A imburana-de-cambão, não presta para muitas coisas, mas é utilizada em galhos tortos para fazer cambão, pelos vaqueiros. O cambão é uma peça que é usada no animal de porte para que ele não se distancie muito ou como castigo, daí o nome imburana-de-cambão.

No mundo sertanejo, quando um do casal quer ter o domínio absoluto sobre o outro, se diz: “quer botar cambão”. Em Santana do Ipanema havia um casal: Zé e Regina Cambão que moravam por trás do Comércio, na Rua Prof. Enéas. Extrema pobreza, ele varredor de rua, ela, prestando serviços com vasculhamento de casas. Ambos moravam numa pequena casa de taipa que havia ficado como peça de museu, defronte ao Poço dos Homens. Pois assim são as coisas simples, naturais e humanas do nosso mundo interiorano.

A propósito, imburana em Tupi é Árvore d’água, falso imbu.

Você aceitaria cambão?

IMBURANA-DE-CHEIRO (CRÉDITO EMATER)

  PONTE, PASSARELA, VIADUTOS Clerisvaldo B. Chagas, 31 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.683   Novamen...

 

PONTE, PASSARELA, VIADUTOS

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.683



 

Novamente viemos bater na tecla de pontes em Santana. Na década de 60, o prefeito Adeildo Nepomuceno Marques conseguiu uma ponte para o rio Ipanema, através do, então, governador João Batista Tubino. Após estudos do melhor local, optaram pela região do Comércio onde foi construída em 1969; contrariando a vontade do povo que preferia a ponte sobre o rio, na região antigamente chamada Minuíno ou região das olarias, antiga estrada para Olho d’Água das Flores, pelo Bairro São Pedro. Com a ponte, a margem direita do Ipanema, antes desabitada, hoje é dona dos bairros: Domingos Acácio, Paulo Ferreira, Santa Quitéria, Santo Antônio e Isnaldo Bulhões. O que não faz uma ponte!

Passados os mais de 30 anos, uma nova ponte no Minuíno é necessária. É necessária para desenvolver diretamente os bairros São Pedro, Santa Quitéria, Isnaldo Bulhões e Santo Antônio e no geral, auxiliar a mobilidade urbana e Santana do Ipanema. Ver o exemplo acima. Além disso, o rio que atravessa toda à cidade Oeste-Leste, necessita também uma outra ponte ligando diretamente a Avenida Castelo Branco – Bairro São José – às imediações do Hospital da Cajarana. No mínimo, uma passarela que evitaria cerca de 6 km de rodeio e aliviaria o trânsito pela ponte do Comércio. Viadutos curtos e longos são necessários em regiões de sufoco desta cidade ladeirosa. Temos que formar estruturas urbanas para hoje e para o futuro. Não podemos ficar só no feijão com arroz. Muito já foi feito, muito se tem a fazer.

Quando será construído um anel viário no Maracanã? Aqui não existem críticas à gestão municipal, porém, sugestões arrojadas para a realidade de Santana século XXI. Uma faculdade de Medicina continua a ser o sonho da cereja do bolo, mas é tão difícil assim? As aspirações santanenses por uma ponte no Minuíno – hoje com o nome de Passagem Molhada – é uma aspiração legítima em que a verba federal faria isso num piscar de olhos. Ali funcionavam as três olarias que ajudaram no crescimento urbano: de Zé Cirilo, de Eduardo Rita e de Seu Piduca. Aliás aquela parte da cidade bem que deveria ser chamada de Bairro Olarias, como no Rio de Janeiro, justa homenagem à tradição e seus heróis.

Construir pontes é erguer ideais.

RIO IPANEMA NA REGIÃO DAS OLARIAS (FOTO: JEANE CHAGAS)

  POU-POU-TÁ-TÁ... BUM! Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.682 As festas mais...

 

POU-POU-TÁ-TÁ... BUM!

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.682



As festas mais antigas da padroeira de Santana do Ipanema tinham um alto padrão de festejos que os tempos atuais não conseguem. Considerada a maior festa religiosa de Alagoas, era repleta de atrativos sacros e profanos que faziam da terra um paraíso. De Penedo vinham cantoras famosas para o coral da Igreja e banda de música. Na praça central, foguetório, balão, barco de fogo, estandarte aberto com fogos, banda de música, parque de diversão e uma infinidade de bancas defronte a Matriz, no Largo da Feira, a se estender pelas ruas José Américo e Tertuliano Nepomuceno. Os balões flutuavam a partir dos fundos do “sobrado do meio da rua” (“Casa A Triunfante” de José e depois Manoel Constantino). Já o foguetório acontecia a partir do Beco de São Sebastião, ao lado da sua igrejinha.

Antes da banda de música do maestro Miguel Bulhões, anos 60, 70, e que tocava tanto fora da igreja, quanto dentro, havia um fogueteiro famoso e muito querido pelo povo, mas não vem à memória o nome dele. Faleceu. Passou uns tempos sendo substituído nos preparativos e fogos da igreja, através do moreno Manoel Domingos que também ajudava nas missas. Depois surgiu o fogueteiro Zuza, principal personagem nesta crônica. O fogueteiro era importante porque raramente aparecia fogos de indústria. O fogueteiro do interior fazia tudo: foguete normal, foguetão, foguete de lágrimas e bombas de todas as espécies. A maior bomba não era atômica, mas só era lançada   bem longe da cidade, no rio Ipanema. Abalava tudo.

Zuza fogueteiro surgiu do nada. Aos poucos conquistou todo o povo santanense. Branco, forte (quase gordo) só andava sem camisa. Paciente e educado, morava numa esquina da rua Tertuliano Nepomuceno, onde fabricava seus artefatos. Podemos dizer que a última banda de música de Santana do Ipanema foi a do senhor Miguel Bulhões (seu filho Ivaldo herdou, mas durou pouco). E o último fogueteiro da terrinha foi o carismático Zuza Fogueteiro. Em se tratando de fogos, deixava a festa da Padroeira sempre na vanguarda. Quanto ao beco de São Sebastião, deva acesso à Rua Prof. Enéas, por trás do comércio, e ao rio Ipanema. Devido à multidão, era dali de onde ganhava asas os foguetes de Senhora Santana.

Deus o proteja e guarde por onde se encontrar.

·         O título da crônica refere-se ao foguetório do Zuza.

COMÉRCIO ATUAL DE SANTANA (FOTO: B. Chagas)