DO ALTO Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de abril de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2687 Fui forçado a passar uma t...

 

DO ALTO

Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2687





Fui forçado a passar uma tarde inteira no Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, devido à problema de hipertensão. Entretanto a tarde estava muito bonita e os arredores maravilhosos como sempre. O cenário santanense visto do Alto da Cajarana sempre foi magnífico, principalmente nesta época em que o tempo semeia o seu verde por todas as colinas da cidade. Os que estavam comigo repetiam sempre sobre a beleza da paisagem geral e faziam questão de fotografarem o que fosse possível. Vale salientar que estamos perto do final de abril e o relicário sertanejo mostra que vai haver bom inverno porque as provas já foram dadas. Somente o rio Ipanema ainda continua altamente poluído coberto de plantas aquáticas de poluição.

No sábado da Aleluia, fomos visitar o topo do Colorado, onde passamos o dia vizinho à Fazendinha, à 430 metros de altitude. Além de desfrutarmos a paisagem local, fomos também comer um churrasquinho que o dia estava para um bom vinho  para quem aprecia. Além disso, produtos da fazendinha foram introduzidos em nossa refeição como o saboroso queijo de coalho assado também em forma de churrasco.  Foi aí que o meu neto de Maceió se esbaldou nas diversas atrações do Sertão de Santana do Ipanema. Dia grande!  Nada ficamos devendo ao Xingó, à Pão de Açúcar ou a Piranhas, como o pessoal daqui costuma fazer. É de se registrar, entretanto uma temperatura nunca sentida antes.

À tardinha, o tempo começou a mudar, as nuvens borrifaram os arredores e um vento poderoso fez uma varredura muito boa, tornando o turno muito mais agradável. Na fazendinha, o galo comandou as galinhas tanto na pastagem pelo capinzal quanto na volta ao galinheiro. Vacas procuraram o abrigo de um galpão e o quero-quero chegou em bando fazendo alarido saudando a névoa finíssima que se formava. Num giro rápido vimos ainda guinés, patos, gansos, pavão, carneiros e outros animais domésticos que caracterizavam a fazendinha inspecionada pelo meu neto.

Em breve voltaremos ali, pois tem outro topo da fazendinha para conhecermos. Falam maravilhas do lugar.

A simplicidade ajuda a viver.

SERRA AGUDA E RESERVA TOCAIA. ARREDORES DA CAJARANA. (FOTOS: IRENE CHAGAS).

  COMPRAR CARVÃO Clerisvaldo B. Chagas, 7/8 de abril de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.686   Nesta época em que...

 

COMPRAR CARVÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 7/8 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.686


 

Nesta época em que o preço do gás está um absurdo lembramos dos tempos do carvão e da lenha. Lembramos também dos combates às atividades carvoeiras e ao desmatamento, com o incentivo ao uso do gás. E agora? Nem gás, nem carvão, nem a lenha. É para chorar? Um cabra lá em Maceió usava na sua padaria, plástico no fabrico do pão. Cheiro ruim danado na chaminé. Eu chamava o pão daquela padaria de “pão de plástico”. Em Santana do Ipanema, conheci dois pontos que permanentemente vendiam carvão: Na Rua Delmiro Gouveia e na Rua Tertuliano Nepomuceno. Tanto é que o saudoso Luís Lira (Lirinha) dono de casa de jogo, ao procurar o baixo meretrício, seguindo pela Rua Tertuliano, dizia a quem perguntava para onde ele ia: “Vou comprar carvão”, respondia rindo, de óculos escuros lentes verdes, tipo ‘ray-ban’.

A maioria do nosso carvão vinha de fornos do alto sertão, cuja caatinga estava também sendo devastada para fazer cerca, lenha, móveis, roças e inúmeros utensílios domésticos. Entretanto, a qualidade do produto, ninguém contestava até porque era feito pelas mais variadas espécies locais. A maior parte era entregue pelo fornecedor em sacos de juta e ficavam uns sobre os outros nas casas de venda aguardando compradores. Não sabemos se ainda hoje você encontra esse tipo de carvão na cidade, já clandestino. Caso queira um churrasquinho o sujeito tem que se conformar com o carvão fraco encontrado à venda em postos de gasolina: quantidade pouca, porém, bem embalado em sacos de papel grosso com a vantagem de não se melar na compra e nem no transporte. Na certa tem licença para plantio artificial.

O último movimento do carvão que vimos, era transportado em lombo de jegue, nas margens do rio São Francisco (Belo Monte) por meninos carvoeiros. Vale salientar que onde se usava o carvão para cozinha também se usava no ferro de passar. Já a lenha era mais usada nos sítios rurais; na sua falta usavam-se tábuas velhas, varas e até garranchos secos. Como dizem que a moda é cíclica, pode ser que o carvão e a lenha estejam de volta, mas de onde? Da caatinga nua

Nem sabemos afirmar se o tempo era melhor ou pior, mas, inspirado no Lirinha, os homens promíscuos pareciam felizes na compra do carvão.

INÍCIO DA RUA TERTULIANO NEPOMUCENO, EM INÍCIO DE NOITE (FOTO: B. CHAGAS).

  FUBA OU FUBÁ Clerisvaldo B. Chagas, 6/7 de abril de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.685 A Feirinha Camponesa r...

 

FUBA OU FUBÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 6/7 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.685



A Feirinha Camponesa realizada às sextas, defronte à Secretaria de Agricultura, em Santana do Ipanema, costuma fazer surpresas com produtos extintos da nossa culinária. Surpresas agradáveis como banha de porco, mungunzá, castanha assada, ovos de galinha de capoeira... E mais. Lembram-nos a fuba e o fubá. Aqui em nosso Sertão, fuba é a massa triturada do milho para se fazer cuscuz. Fubá (com acento) é o milho triturado ou pilado fininho para se comer puro, com açúcar ou com leite. Este desapareceu e só resta o fubá da indústria e que para nós é fuba. Mas onde se encontra o fubá? Foi extinto e, seu nome traz uma saudade danada do cuidado de não se engasgar ao comê-lo puro.

Todo mundo no Sertão sabe distinguir a fuba do fubá. E se a indústria quer saber mais do que o sertanejo sobre os produtos seculares da nossa gastronomia, continue mandando seu fubá para cuscuz. Ninguém vai brigar por uma pronúncia, mas mande produto bem e barato.

Veja o texto abaixo extraído do nosso livro parceria, Negros em Santana, publicado em 2012, pag. 34

Uma panela de alumínio vertical e comprida, pelas ruas de Santana do Ipanema, vai remando no alto de dois metros do   negro Fubica. A meninada já sabe. O brilho do metal anuncia um produto não inflacionado que resiste ao tempo. As crianças, os velhos, os adultos esticam as bochechas com apenas cinquenta centavos de fubá. O jovem preto, fino e atlético, é calado e paciente. Serve a sua eterna clientela o “pão” de cada dia. É o fubá trabalhado com capricho que sai limpo, cheiroso e fininho para a alegria dos citadinos. Pode ser comido puro, com açúcar ou com leite. Esse é um quadro das últimas décadas do Século XX. O negro Fubica vem de longe. Lá do povoado Jorge ou melhor, da antiga Tapera do Jorge. Nada existe de especial no quadro urbano apresentado. (...) uma cena do Brasil antigo na tela de um pintor francês. É Santana do Ipanema terminando o milênio com a presença negra e simpática dos seus alforjes históricos.

Você conheceu o Fubá sertanejo?