OS ARTISTAS DA PEDRA Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.702 Ficamos admirand...

 

OS ARTISTAS DA PEDRA

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.702



Ficamos admirando mais uma vez a cerca de pedra da figura, copiar colar. Uma arte praticada por vários escravos negros, denominados mestres. Essa arte tão admirável foi passando para alguns descendentes quilombolas chegando até os nossos dias e repassando também para outros tipos humanos de mestres, atualmente sumidos do mercado. Veio a cerca de pedra do tempo em que não havia cercas de arame farpado e, depois, mesmo com o arame de farpas, a abundância de pedra no local, a mão-de-obra disponível, a segurança e a economia, permitiram que surgissem esse tipo de cercado em variadíssimos recantos nordestinos. Sua altura está entre o peito e o pescoço de um adulto em pé. As pedras são incrivelmente encaixadas e o nivelamento da superfície da cerca é admirável.

As pedras são tão bem encaixadas que só as famosas pirâmides do Egito. Verdadeira obra-de-arte. Até animais maiores do que lagartixas não encontram como fazer morada onde não existe espaço para isso. Aí vem à lembrança de cerca de pedra existente em Santana do Ipanema, no lugar Barragem, no sítio Laje dos Frade  (município de Poço das Trincheiras) e mesmo na Fazenda Coqueiros, Reserva Tocaia e nos limites da Igrejinha das Tocaias, ainda em Santana do Ipanema. Não tem cimento, areia, barro ou outro material, apenas pedras e mais pedras encaixadas maravilhosamente umas nas outras. A longevidade dessas obras, como já vimos, é coisa para muitos séculos. Mais informações sobre elas permitirão a um guia embalar o turista no Sertão do Nordeste.

Ficamos encantados com a visita a Laje dos Frade, onde uma cerca de pedra limita um lajeiro enorme, cuja centro côncavo, acumula tanta água tal um barreiro. Lugar muito agradável, água límpida, recanto para lazer, descanso e até dormidas às sombras de árvores que se debruçam na cerca de pedra de fora para dentro. Uma felicidade permanente para a família de agricultores, logo por trás de casa.

Atualmente o homem procura compensar as cercas de madeira proveniente das devastações, com estacas de cimento. Outros usam menos estacas e arame liso em cerca eletrificada.

Sertão estudado surpreende.

CERCA DE PEDRA DELIMITANDO A IGREJINHA DAS TOCAIAS (FOTO: ARQUIVO/ B. CHAGAS).

 

  BILIRO Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.701 O quadro da festa de Senhora S...

 

BILIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.701

O quadro da festa de Senhora Santana estendia-se por toda a extensão do Centro Comercial, o Quadro da Feira e Ruas José Américo e Tertuliano Nepomuceno. As atrações profanas eram variadíssimas, mas o Parque de Diversões sempre acenava como a maior delas, inclusive com a roda-gigante.  A roda-gigante quase sempre ficava entre o “prédio e o sobrado do meio da rua”, quando não era ali, localizava-se entre a “Casa Atrativa” do senhor Abílio Pereira (sobrado do meio da rua) e o “Hotel Central” da conhecida Maria Sabão. Entre tantas atrações, estava sempre também defronte a Casa Atrativa a seção do parque da PESCARIA. Era um redondo com grade onde o público se debruçava para pescar na areia no solo representando água. Ali estavam enterrados muitos objetos de pouco valor: caixa de fósforo, pente, colchete, biliro e um ou outro de maior relevância.

Com um anzol, o indivíduo pescava os objetos enterrados, com um arame para ser puxado. Bastava pagar. O locutor fazia uma zoada medonha e chovia de pescadores. Depois anunciava o nome do “peixe” pescado: um pente, uma bola, etc. Era uma brincadeira bem divertida mesmo. O que mais me chamava atenção era o nome “biliro” que o parque trouxera de outra região e que aqui se chamava simplesmente “grampo” de prender cabelos. Biliro saía muito na pesca e eu perguntava que diabo é biliro? Pois bem, para uma pessoa de bem com a vida bastava ganhar um biliro, um pente, para comentar em casa e rir à vontade, após a festa.

Estamos comentando apenas sobre a parte profana da Padroeira de Santana do Ipanema. Pois as reflexões estão tanto   dentro da nave quanto fora. Em todas as situações humanas cabem as meditações que podem conduzir à felicidade interna. Foi assim que muitos refletiram sobre a imensa alegria em pescar um objeto tão simples como uma caixa de fósforo, um colchete, uma bola... Porque o sentido da brincadeira não era enriquecer no puxar do anzol, mas assim como a vida, ser feliz em participar pois o que menos importava era ganhar uma joia, mas saber valorizar a simplicidade, daí alegria e risadas após a festa. Os sábios compreendem o complexo da vida e sabem celebrar junto a Deus a conquista significativa e profunda de um BILIRO.

CAIXINHA DE BILIRO (CRÉDITO: PINTEREST).

 

    EXTRA, EXTRA Clerisvaldo B. Chagas, 11 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.700   Não é fácil cheg...

 

 

EXTRA, EXTRA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.700

 



Não é fácil chegar a 2.700 crônicas. É preciso muito amor e dedicação aos escritos. Lembro-me de uma oportunidade quando me achava no Colégio Divino Mestre e o professor Valter Filho me fez um convite para escrever crônicas no seu site. Como estava precisando fazer alguma coisa entre uma publicação e outra de livros, aceitei na hora. A minha primeira crônica na Internet estava muito motivada e crítica sobre compra de votos. Antes, porém da Internet eu tinha publicações de crônicas na “Rádio Correio do Sertão”, na voz do saudoso Edilson Costa sempre às 12 horas, com o nome de “A Crônica do Meio-Dia”. Com seu vozeirão e modo de lê, o homem dava vida ao que estava escrito. Uma crônica diária anos a fio, é mais do que “matar um leão por dia”.

Passei a reforçar o site “SantanaOxente” que funcionava na época como opção do noticiário sertanejo e hoje é destaque no mundo da informação. Daí em diante os nossos trabalhos foram sendo divulgados em outros sites e os artigos chegaram em muitos países onde são apreciados diariamente. Entretanto, a fidelidade SantanaOxente continua e o lugar dos Blogs abriga também o nosso. Mesmo assim achamos que deveria haver maior visibilidade ou chamada especial, porém, quem procura acha. Santana do Ipanema está bem servida de órgãos noticiosos cada um com seu formato e estilo. Uma contribuição importantíssima que teve início com a Rádio Correio do Sertão, relíquia para o mundo sertanejo e que foi ampliada para outras rádios, sites e blogs.

Continuo grato ao Valter Filho, também conhecido como Valtinho.  Já tentei visitá-lo ultimamente, mas nunca deu certo. Torço, porém, que o seu site – feito e mantido com muita garra – esteja a cada dia melhor no conteúdo, no formato e no alcance de tantas mensagens importantes, cujo Sertão precisa divulgá-las. Por outro lado, desejo-lhe muita saúde, inspiração e  sucesso contínuo.

Crônicas no geral registra o cotidiano. Inclusive as coisas simples e mais simples que acontecem diante das multidões e só o cronista ver. E por mais desinteresse que ela cause no momento, não deixa de ser registro importante para o futuro quando novos pesquisadores e historiadores sobre elas se debruçarão. Sem vaidade, acho que eu e o Valtinho merecemos um champanhe.

ENCONTRO CASUAL COM VALTINHO NA CÂMARA DE VEREADORES, EM TRAJE DE GUARDIÃO DO RIO IPANEMA. (FOTO: ARQUIVO DE B. CHAGAS).