SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
ESPERANÇA NA ESPERANÇA Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.707 No meu ser...
ESPERANÇA NA ESPERANÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.707
No
meu sertão, geralmente não se mata lavandeira, beija-flor, bem-te-vi, cancão,
espanta-boiada (quero-quero) e o inseto conhecido como esperança. A tradição
deixou muitas lendas, superstições e experiências e que perduram por séculos e
séculos. Mas não é somente no sertão nordestino ou no Brasil onde essas
particularidades existem é no mundo inteiro. Lavandeira e bem-te-vi, estão
muito ligados a uma lenda que fala em Nosso Senhor Jesus Cristo. O cancão e o
espanta-boiada, não são atrativos para a espingarda, a peteca, a armadilha,
porque são muito magros para um bocado, a ponto de haver o ditado popular:
“magro que só um cancão”. A esperança é blindada contra investidas humanas
porque representa bom augúrio. Alguma coisa boa irá acontecer com você quando a
esperança pousar na sua casa, em você, no seu quarto...
A
esperança verde e real é tão apreciada quanto a esperança sentimento presságio
de coisa boa. É um inseto verde, romântico, que pode causar grande alegria ao
pousar por perto. É como se fosse um aviso, uma mensagem direta dos céus que
vem aí uma coisa boa desejada por você. A esperança ainda tem parentesco com os
grilos e gafanhotos e acha-se espalhada em todos os continentes habitados. Às
vezes a esperança chega de repente e a pessoa procura matá-la por causa do
susto pensando tratar-se de um gafanhoto. Mas a esperança é bem delicada, suave
e silenciosa como deve ser uma mensagem de paz enigmática. Seu verde agradável
acende o outro verde que carregamos dentro de nós. Impossível ficar indiferente
à esperança.
Lampião
era um ótimo observador da Natureza, assim como outros sertanejos do seu bioma.
Graças a isso, teve sua vida salva diversas vezes com indicativos de pássaros com
aproximação e cantos que demonstravam perigos imediatos, posição de inimigos e
muito mais, até mesmo o voo inesperado do urubu, mostrava o perigo na área. Assim é o canto da acauã, da ema, do pavão e
do voo rasgando da coruja. Tudo obsorvido pelo sertanejo atento.
Uma
cigarra entrou no meu quarto e permaneceu quieta e no mesmo lugar durante o dia
e só foi embora à noite. Sertanejo da cepa, aguardei. Logo no dia seguinte,
após o café da manhã, recebi na porta de casa duas notícias boas e fui
apressado realizá-las mesmo com a chuvarada mansa que caía em Santana do
Ipanema;
Obrigado
esperança, obrigado a quem te enviou.
ESPERANÇA
(FOTO: RAPADURA CULT.).
MEL BOM, FERRÃO RUIM Clerisvaldo B. Chagas, 25 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.706 Sentado na á...
MEL
BOM, FERRÃO RUIM
Clerisvaldo
B. Chagas, 25 de maio de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.706
Sentado
na área interna da casa, vejo o Sol evoluindo nas horas ou a chuva caindo mansa,
ora encorpada tamborilando o teto e lavando o chão. Levanto a vista para a
caixa-d’água altíssima do vizinho e me surpreendo com o que vejo. Nada mais do
que um enxu gigante pendurado naquelas alturas. E para quem não sabe, enxu no Sertão,
também é chamado inxu, é uma colmeia de qualquer abelha. As danadinhas
trabalhadeiras fizeram o enxu aproveitando um fio pendurado que desce da caixa.
Não dá para vê se a estrutura também está colada à parede por cima do fio ou
não. Estar ali o pacote: vertical em forma cilíndrica, enfrentando sol e chuva
sem nenhuma alteração. Também não sei dizer que material é aquele utilizado por
elas, as abelhas, olhando de longe parece barro.
Não
sei se essas fabricantes de mel têm ferrão ou não têm. Também nem quero saber a
qual gênero pertence o enxame. Deixemos as bichinhas quieta no labor animal. E se
um mal-informado for brincar com abelhas, pode ser atacado e fazê-las atacar a
vizinhança, aí o diabo se solta. Quantas pessoas não já morreram no Brasil
vítimas de picadas desses insetos! Sim podem ser abelhas sem ferrão, mas você
não quer ir perguntar a elas, quer? E naquelas alturas da caixa-d’água, só o
cão vai lá e ainda leva o Corpo de Bombeiros que é quem sabe lidar com essas
coisas. Diz o matuto “que não se deve futucar o cão com vara curta”; e ali não
é o cão, mas é abelha, cabra “véi”. Quem vai encarar ferroadas nos olhos, nos
braços... Na bunda!
O
mel é um dos alimentos mais completos do mundo e ajudou a salvar muitas pessoas
da fome, nas caatingas das secas de outrora. Mas não se pode esquecer que a
abelha braba ainda é parente da vespa e da formiga. É considerado um inseto
útil, mas não vale mexer com ele. Pelo que sei, não estamos na seca, não
estamos com fome em busca de mel, não temos experiência em mexer com abelhas,
nem o vizinho quer uma guerra contra tantas guerreiras. Hummm... Diz os mais
velhos: “Não devemos mexer com quem está quieto”. Em breve as abelhas
completarão a tarefa na caixa-d’água e irão embora na paz da Natureza.
Será
que o amigo ou amiga, concorda?
Estamos
de olho no ferrão e no mel.
ENXU
(FOTO: B. CHAGAS).
ONDE ESTÃO AS ANDORINHAS? Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.705 Ninguém ...
ONDE
ESTÃO AS ANDORINHAS?
Clerisvaldo
B. Chagas, 24 de maio de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.705
Ninguém
pode negar o belo espetáculo das andorinhas na Santana dos anos 60. Tempo como
este agora, invernoso, o bando revoava pela região do rio Ipanema e fazia seus
malabarismos para os banhistas do Poço dos Homens. Revoavam circulando o poço,
pegando bichinhos no ar e tocando o peito nas águas claras ou barrentas que
encantavam os adolescentes e adultos frequentadores assíduos do lugar. Às vezes
ali se encontrava o cantor “Cícero de Maraquinha” e, seu violão e voz maviosa
pareciam uma orquestra para acompanhar as incursões das andorinhas. Do Poço dos
Homens dava para vê o retorno do bando em círculo e o assentamento com alarido
na torre da Igreja Matriz de senhora Santana.
Essas
aves passeriformes, pertencem a família Hirundinidae e gostam muito de construírem
seus ninhos colados ao teto dos casarões, dos sobrados, tal com o conhecido
“sobrado do meio da rua” (hoje extinto) onde costumavam se abrigar. Sabemos sim
que andorinhas são aves que migram conforme a estação do ano, mas retornam
sempre. Então, ficamos a indagar por que as andorinhas abandonaram a torre da
Igreja Matriz, o Poço dos Homens, a nossa Santana do Ipanema. Dos anos 60 para
os anos próximos seguintes, não houve essa transformação apressada dos climas.
Portanto as nossas aves que alegravam o cinza do nosso inverno foram embora sem
explicações. Teria sido pela morte do cantor Cícero de Mariquinha, que nunca
mais tocara para o bando?
A
torre da igreja de Senhora Santana, continua bela. Ano 2022 e o mesmo cartão
postal máximo da cidade. E se não tem alaridos de andorinhas, também não tem
sujeira para a limpeza através de homens intimoratos à altura. O “sobrado do
meio da rua” Já não existe para abrigar beleza, romantismo e andorinhas. O Poço
dos Homens perdeu o brilho após a construção da Ponte General Batista Tubino.
Ficou essa passagem quase em cima do poço. O lixo colocado no local pelos
desavisados, fez surgir tapetes verdes de plantas aquáticas por sobre as águas
poluídas.. E assim ficou o ballet das aves migratórias apenas na memória
dos que viveram à época, notadamente escritores, poetas, historiadores e saudosistas.
Nunca
se viu dizer que as andorinhas fizessem mal a alguém.
ANDORINHA
(WIKIPÉDIA).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.