SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
CURRIÃO/BURINHANHÉM/TANGERINO Clerisvaldo B. Chagas, 17 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.129 ...
CURRIÃO/BURINHANHÉM/TANGERINO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.129
Você sabe o que é um currião? Você imagina o
que seja um burinhanhém? Ê cabra velho, só o autêntico sertanejo ou um grande
apreciador do Sertão anota no papel ou na cabeça os diversos nomes, frases e
costumes do nosso semiárido alagoano. E por falar em frases, “Mês miou, mês
findou”, diz o homem-raiz da zona rural. Mas o mês não é gato e nem vai miar,
porém, traduzindo o babado, o mês meou, isto é, chegou ao dia 15 e parece
passar rápido o tempo do dia 15 até o fim do mês. Mas, voltemos às palavras do
título desta crônica, que fala do exímio trabalho do artesão nordestino do
couro. Currião é o relho do carreiro,
condutor do carro de boi. É feito de várias peças de couro cru que se tornam
uma só e com cabo de madeira. Serve para o carreiro açoitar os bois de carro. É
conduzido no ombro do carreiro, pendurado ao longo das suas costas.
O burinhanhém também é obra do artesanato do
couro. É um relho de couro cru, usado pelos tropeiros – condutores de tropas de
burros – e que em nosso Sertão eram mais conhecidos como almocreves. O
burinhanhém é um relho maior do que o do carreiro e possui um cabo de madeira
longo e roliço que vai afinando até a extremidade. Mas vamos a outra palavra do
mundo mágico sertanejo: Tangerino. Não, não é o macho da fruta tangerina. É um
tangedor de gado bovino. Geralmente o boiadeiro comprava uma boiada e, o
tangerino ia levá-la ao seu destino tangendo-a pelas estradas, a pé ou montado
em burro ou cavalo. Currião, burinhanhém e tangerino fazem parte, portanto do
nosso dicionário alagoano e nordestino.
E se o Sertão é um planeta mágico, possui
outros mundos mágicos dentro do próprio fantástico. O mundo dos vaqueiros, o
mundo dos carreiros, o mundo dos repentistas, o mundo dos boiadeiros, dos
tangedores e outros mais particularizados no global sertanejo que, quando um de
nós pesquisadores, penetra em no deles, não consegue mais sair, impregnado de
tanta paixão pelo aprendizado. Nesse momento mesmo seria uma reportagem e tanta
registrar os passos do homem da roça com as dificuldades da transição entre
estações mais fáceis e as mais difíceis. O aprendizado é um tesouro infinito
para quem sabe procurá-lo com respeito, admiração e amor.
Orgulho em ser nordestino, sertanejo
alagoano!!!
BRUINHANHÉM.
O MURRO DO HOMEM Clerisvaldo B. Chagas, 16 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 128 Vou contar d...
O
MURRO DO HOMEM
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de outubro de
2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3. 128
Vou contar de novo. Cícero de Otacílio era
marchante igual ao seu pai Otacílio, em Santana do Ipanema. Otacílio era ex-volante, participara da morte
de Lampião e Maria Bonita, na fazenda Angicos, Sergipe em 1938. E falava entre
outras coisas como morrera o cangaceiro Elétrico. Otacílio em Santana, como ia
dizendo, era marchante e, o matadouro da cidade levava o nome dele como homenagem
ao destemido policial. Pois bem, entre os seus filhos um deles também virou
marchante. Era forte, no Mercado de Carne, transportava nas costas um boi
inteiro. Dizem que certa vez o homem matara um boi com um murro. O marchante
Cícero de Otacílio faleceu vítima de acidente de trânsito no lugar Largo do
Maracanã ponto mais perigoso de Santana.
Difícil é contabilizar o número de acidentes do
Largo do Maracanã, lugar central do Bairro Camoxinga, ponto divergente e
convergente de 5 ruas e a BR-316.
Mas, voltemos à vida do homem. Forte, alegra,
comunicativo e simpático, Cícero se dava bem com todo mundo. Cícero passou a
namorar com uma senhorita da Rua Nova, minha ex-colega de Ginásio Santana,
Socorro. Foi quando chegou um sujeito de Maceió e, passeando pelo Comércio, viu
passar a senhorita e ficou impressionado. Então, indagou ao seu hospedeiro
amigo: “Rapaz, quem é aquela moça tão bonita? Estou interessado nela”. O amigo,
respondeu com toda naturalidade: “Aquela senhorita é a noiva de um rapaz aqui
da cidade que mata um boi de um murro”. O assunto morreu ali. O sujeito frouxo
desocupou o Comércio de Santana e embarcou de volta a Maceió, no primeiro
pinga-pinga que apareceu.
E você, cabra véi!
Enfrentaria um homem que mata um boi de um
murro?
MATADOURO PÚBLICO
FERREIRINHA Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.127 Poeta, compositor,...
FERREIRINHA
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.127
Poeta, compositor, cantor sertanejo, pescador e
garrafeiro, Senhor das Plantas, Ferreirinha iniciara sua carreira cantando
sertanejo com seu parceiro Ferreira, fazendo a dupla Ferreira e Ferreirinha.
Cantava sempre no coral da Matriz de São Cristóvão e tornou-se nosso
companheiro da “Associação Guardiões do Ipanema” – AGRIPA. A foto abaixo
representa uma incursão nossa pelo rio Ipanema, trajeto comércio – Cachoeiras,
ocasião em que Ferreirinha descrevia várias plantas medicinais no trecho. Era
mestre no conhecimento de plantas e usos imediatos. Até livreto editara sobre o
tema. Gostava de pescar (inclusive surge pescando de anzol no rio Ipanema no
livro inédito “Repensando a Geografia de Alagoas”. Ele nunca viu.
Ferreirinha também era exímio cozinheiro e
sempre era contratado para cozinhar para grande quantidade de homens.
Infelizmente, em uma noite calma, o nosso poeta santanense, sentara à porta de
casa para gozar a brisa da rua, quando passou um malandro das imediações.
Pediu-lhe um cigarro. Ferreirinha respondeu que não fumava. O bandido seguiu
adiante alguns passos e voltou de repente esfaqueando o cantor. Ferreirinha foi
socorrido por familiares, enfrentou maratonas de hospitais, porém nunca sarou
completamente e o ferimento nos intestinos virou um câncer. Com o escritor
Marcello Fausto estivemos em sua residência para uma visita e ouvimos seu
dedilhar numa viola muito boa e que o poeta gostava muito.
Para mim, era o maior de todos os guardiões do
nosso grupo. Infelizmente ou felizmente, não sabemos o dia de amanhã. E
Ferreirinha, morador da CONHB nova, curtindo aragem do bairro mais alto da
cidade, teve sua integridade física atacada por um marginal do Bairro Lajeiro
Grande. Monitorou o bandido por uns tempos com seus familiares, mas o destino
não permitiu que o poeta sujasse suas mãos. Tempos depois, outros marginais ou
a polícia fez o que muitos queriam fazer com o agressor.
No momento, revendo algumas fotos de
Ferreirinha, bateu a vontade de homenageá-lo com uma crônica sentida.
Onde você estiver, meu poeta...
Receba um forte abraço do companheiro da
AGRIPA.
ARISELMO E FERREIRINHA (DE BERMUDA) E
FERREIRINHA SOZINHO NA ANTIGA ESCOLA HELENA BRAGA, SEDE DA AGRIPA. FOTO: ARQUIVO DO AUTOR.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.