SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
BAMBÁ Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.248 Nome muito utilizado no ri...
BAMBÁ
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.248
Nome
muito utilizado no rio Ipanema, imediações e por onde se vendia peixes.
Enquanto a pobreza chiava no campo e na cidade dentro dos lares ou nas andanças
das ruas, o rio temporário do Sertão nunca abandonara a sua generosidade, ou
durante as cheias ou na sequidão com os diversos poços que restavam da fartura,
inúmeras famílias conseguiam criar os meninos com a pesca miúda oferecida. No
rio Ipanema, um peixe de três quilos já era considerado grande, enorme,
bem-criado. E todos nós que amávamos o rio sabíamos os nomes doshabitantes das
águas: Bambá, Traíra e Mandim, os maiores. Piaba, carito ou chupa-pedra, os
menores. A bambá, no rio São Francisco era chamada Xira e decantada em prosa e
verso. O carito era o mais vil. E, praticamente somente uma família muito pobre
da Rua São Pedro, pescava carito. A família Rei.
Ninguém
conhecia por ali outro tipo de peixe produzido no trecho citadino. Certo dia,
porém, surgiu no Poço dos Homens o advogado Aderval Tenório, que também era
farrista, mas que nunca aparecia no Poço dos Homens e que daquela vez apareceu
ostentando um Pitú dos grandes. Dizia haver comprado no poço do Escondidinho, coisa
que ninguém jamais pensara que existisse. Na certa subira do rio São Francisco
e fizera essa surpresa em Santana do Ipanema. Surpresa mesmo! Grande novidade
na pesca local. Este sim, era para a farra propriamente dita, todos os peixes
maiores ou menores, era, na maioria, para matar a fome e no mínimo complementar
o almoço sertanejo. Os lugares de pesca, principais eram a barragem, no bairro
do mesmo nome; o poço do Juá, no trecho do Comércio; o poço dos Homens, abaixo e
quase ligado ao de cima; e o poço do Escondidinho, muito abaixo no Bairro
Bebedouro.
Entretanto
o pessoal batia constantemente por todos os outros poços menores que ficavam das cheias. A pesca
era na base da tarrafa, do anzol, do jequi, da rede e do litro, para as piabas.
Era
o Panema romântico e caridoso
CHEIA NO PANEMA (FOTO DE ÂNGELO RODRIGUES).
CACHAÇA Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3,247 O irmão do padre Bulhões...
CACHAÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3,247
O
irmão do padre Bulhões, Pedro Bulhões, era dono de cartório, mas o outro irmão,
Antônio Bulhões, era proprietário de fabriqueta de cachaça, em pleno comércio
de Santana do Ipanema. Ficava muito perto da esquina que desaguava para a
Avenida Barão do Rio Branco, entre a farmácia Confiança do senhor Hermínio
Tenório (Moreninho) e a alfaiataria do senhor Walter Alcântara. Mas, havia também uma fábrica de cachaça na
esquina da primeira travessa da Rua Antônio Tavares, pertencente ao senhor
Manoel Lopes. Á margem do Rio Ipanema, bem perto da Ponte Padre Bulhões, havia
uma outra fábrica de cachaça. Esta pertencia à família Lemos, porém, não temos
certeza se era a mesma em que o Sinval o rapaz recitadorl tomava conta.
A
produção dessa mercadoria era transportada em lombo de jumento: tanto surgia em
ancoretas para longas viagens, quanto nas garrafas em caçuás. Não temos
lembrança de outra bebida alcoólica fabricada na cidade. Estamos querendo dizer
que havia muitas fábricas dos mais diferentes artigos em Santana do Ipanema e
que tudo acabou, não existindo uma só fábrica de nada. Havia três fabricas de
calçados, de vinagre, de corda, oito de sola, de carne-de-sol, de doces, de
fubá, de tempero, de colchas, de mosaicos, chapas de fogões (fundição) de
selas, de arreios, de colchões. Tudo que havia foi extinto,
inexplicavelmente e a cidade passou a importar tudo o que antes produzia.
Deixou de ser uma cidade industrial para comercial. Hoje somos uma cidade
comercial.
Quanto
ao consumo de bebidas alcoólicas, não notamos nenhuma diferença da metade do
século passado para hoje. O que varia são as marcas de cachaça que aparecem,
geralmente importadas de Pernambuco. Algumas delas são mais sofisticadas, mas
outras ainda são chamadas de “rinchonas”, o que vem a ser cachaça ruim cachaça
fuleira, cachaça peba, cachaça que não vale nada. E se não há mais indústria,
não há mais empregos melhores e a juventude vai montar no seu futuro, apenas
atrás de um balcão de loja qualquer.
Nem
uma cachaça de Santana você consegue hoje tomar.
Fazer
o quê?
NÃO DEIXEI DE RESPONDER Clerisvaldo B. Chagas, 10 de junho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.246 Fui perg...
NÃO DEIXEI DE RESPONDER
Clerisvaldo B.
Chagas, 10 de junho de 2025
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.246
Fui
perguntado sobre as coisas da cidade que mais marcaram a minha juventude. Pelo
menos nunca omiti a mim mesmo, a minha história, aos meus sentimentos, os
sentimentos de naturalidade. E nem que você queira, pode apagar a nódoa, no bem
sentido, da qual se impregna para sempre na infância. Portanto tive que
responder sem titubear os lugares que exerceram grades influências na minha
vida. E cito com prazer pelo menos esses: Poço dos Homens, no rio Ipanema;
Igreja Matriz de Senhora Santana; Grupo Escolar Padre Francisco Correia, no
Bairro Monumento; a Rua Antônio Tavares e suas adjacências e a Biblioteca Pública,
dirigida por Nilza Marques e Ginásio Santana na pessoa do professor de
Geografia Alberto Nepomuceno Agra.
Sem
pensar nunca que poderia ser um escritor, passava as férias escolares (três
meses no início do ano, um mês nos meados) no povoado Pedrão de Olho d’Água das
Flores, na casa da minha tia Delídia. Dali trouxe várias bagagens e detalhes da
caatinga, mais usos e costumes, que seriam enfeixados futuramente nos meus
romances regionalistas/históricos. Juntei sem saber todas as leituras dos
diversos autores do mundo na Biblioteca Pública, o aprendizado do Pedrão, as
incursões na caatinga, nas capoeiras e no rio Ipanema para solidificar meus
escritos impactantes. Claro que muitas outras coisas foram se agregando ao
nosso entendimento, ao nosso estilo e ajudando a iluminar a estrada. Ninguém
nasce no rio, mas de repente se vê nadando.
Muito
valeu uma biblioteca pública, emprestadora de livros quinzenais; uma
bibliotecária educada, entendida e prestativa; um ambiente agradável, formal e
limpo; e a leitura agradabilíssima de gibis americanos, folhetos de feiras
(romances, cordéis) e livros de bolso americanos, de bang-bang. Tudo são
fábricas de escritores. Não posso deixar aqui de exaltar o esforço de alguns
prefeitos da terra ao enxergar e tentar praticar a Cultura, muito difícil de
ser entendida antigamente. Preito ao “Prefeito Cultura” e fundador do museu, Hélio
Cabral de Vasconcelos e ao prefeito fundador da Biblioteca Pública, Coronel José
Lucena de Albuquerque Maranhão.
Santana
do Ipanema para o mundo.
Orgulho
em ser SERTANEJO.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.