SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
CLADIO CANELÃO Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2025 Escritor Símbolo do Sertã Alagoano Crônica: 3250 Ninguém teve o dire...
CLADIO
CANELÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de
2025
Escritor Símbolo do Sertã Alagoano
Crônica:
3250
Ninguém
teve o direito de escrever tanto sob a Rua Antônio Tavares quanto este
escritor. São crônicas e mais crônicas a perder de vista, sobre a primeira rua
da cidade, após o Centro Comercial. São inúmeros os personagens de infância
citado em crônicas soltas e livros publicados. São fontes riquíssimas de
pesquisas sobre a primeira rua da cidade. E entre tantos e tantos personagens
comuns e simples da época, destacava-se no primeiro trecho da rua, logo após a
primeira travessa, o sapateiro Claudio Canelão, cujo pai também era sapateiro.
Claudio crescera muito, devia ter mais de 18 anos e possuía bigodinho. Ajudava
o pai na arte, mas tinha uma alma de criança e gostava de jogar ximbra na rua
com os adolescentes.
Ninguém
conseguia ganhar de Claudio Canelão. Tinha palmo grande e já apontava perto da
ximbra. Nem o Nicó, filho de seu José Leite, que também era bom de ximbra e
tremia as mãos ao jogar, conseguia superar o sapateiro. Mas Claudio era educado
e gente boa. Lembro-me que no grupo escolar murado do Padre Francisco Correia,
ele corria sobre os balaústres numa demonstração rara de habilidade. Nome
correto não dar para lembrar, até porque, apelido pegou, substitui
definitivamente o nome. E se você encontrava o sapateiro na guerra das ruas,
era com o bolso cheio de ximbras coloridas todas ganhas dos seus adversários.
Havia na rua sem calçamento, gangorra, pinhão, carro de puxar, carro de
ladeira, pedra na pedra em apostas de notas de cigarro, brincadeiras de
artistas, pega, chicote queimado, esconder, mas a ximbra predominava ao longo
de toda rua e do Bairro São Pedro.
O que
faz um homem feito, já sapateiro profissional, ir jogar ximbra com os
adolescentes no meio da rua? E o jogo de ximbra continuava na via empoeirada e
nem mesmo as incursões do juiz de direito, Aloísio Firmo, montado numa burra e
o soldado Genésio, a pé, procurando tomar bolas e ximbras, não surtiram o
efeito desejado. As modificações de tantos brinquedos só foi acontecer na Rua
Antônio Tavares, após a primeira etapa de calçamento na gestão Jaime Chagas.
Depois, a continuação do calçamento se não me engano, com o prefeito Henaldo
Bulhões.
Onde
andará Claudio Canelão
(FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO. RUA ANTÕNIO TAVARES,
SENDO PLANEADA PARA CALÇAMENTO EM 1970.)
PAPAGAIO Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.249 Era uma casa de taipa, ...
PAPAGAIO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.249
Era
uma casa de taipa, isolada, bem no sopé do serrote do Pelado. A estrada
iniciava ali na periferia, Bairro São Vicente e levava seu usuário para o
povoado São Félix e região. Era na cumeeira, diante da porta da frente que
havia um rude cata-vento de madeira e ao lado da metade da porta, um poleiro
também de madeira, com um papagaio a tomar sol, acorrentado pela perna. Essa
paisagem simpática, modesta e atípica, sempre me chamava atenção e me deixava
pensativo, quando por ali passava em direção à serra do Gugi, quase todos os
domingos. Uma jornada de 2 léguas (12 km) a pé, para comer galinha na casa de
Jonas, no pé da serra do Gugi, beber caldo-de-cana e chupar manga Gobom no pé,
no alto da serra no sítio do senhor Olavo e dona Neném. Eu, e os saudosos
amigos Mileno Carvalho e Francisco Assis.
Toda
a região, nos últimos anos foi modificada. O casario do Bairro São Vicente, se
expandiu pelo sopé do serrote do Pelado e emendou com diversas construções do
bairro vizinho, Lagoa do Junco. Agora tem hotel de luxo, condomínios de alto
nível, conjuntos diversos, mercadinhos e inúmeras prestadoras de serviços. A
nova paisagem urbana ocupa ladeiras, grotas, planos com asfalto e planejamento.
A vizinha Lagoa do Junco tornou-se um Complexo de Justiça, muitas prestações de
serviços, faculdade, escola modelo, CISP e a transformação quase completa dos
dois barros pegados, em uma nova cidade. Nada mais de casa de taipa, cata-vento
e papagaio.
Já
faz muito tempo que me dirigi à serra do Gugi, ponto culminante de Santana do
Ipanema, mas deixei registrado uma cena fictícia do meu romance DEUSES DE
MANDACARU, lá no sítio de Olavo. Continuo admirando aquele monte situado na região
do povoado São Félix. Foi decantado por dois escritores, Oscar Silva e
Clerisvaldo B. Chagas. E para não ficar somente em nós, é por ali que o
simpático riacho Gravatá vem lamber-lhe os pés. E a região do serrote do Pelado
e adjacências vão focando noutra Santana do Ipanema, inclusive ornamentando a
entrada da cidade, para quem chega da capital. A Lagoa do Junco, mesmo já está
se estruturando para ser o futuro local da feira semanal de Santana que sairá
do Cento da cidade. Ê... Meu papagaio...
UNEAL
NA LAGOA DO JUNCO, EM 2013 (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).
BAMBÁ Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.248 Nome muito utilizado no ri...
BAMBÁ
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.248
Nome
muito utilizado no rio Ipanema, imediações e por onde se vendia peixes.
Enquanto a pobreza chiava no campo e na cidade dentro dos lares ou nas andanças
das ruas, o rio temporário do Sertão nunca abandonara a sua generosidade, ou
durante as cheias ou na sequidão com os diversos poços que restavam da fartura,
inúmeras famílias conseguiam criar os meninos com a pesca miúda oferecida. No
rio Ipanema, um peixe de três quilos já era considerado grande, enorme,
bem-criado. E todos nós que amávamos o rio sabíamos os nomes doshabitantes das
águas: Bambá, Traíra e Mandim, os maiores. Piaba, carito ou chupa-pedra, os
menores. A bambá, no rio São Francisco era chamada Xira e decantada em prosa e
verso. O carito era o mais vil. E, praticamente somente uma família muito pobre
da Rua São Pedro, pescava carito. A família Rei.
Ninguém
conhecia por ali outro tipo de peixe produzido no trecho citadino. Certo dia,
porém, surgiu no Poço dos Homens o advogado Aderval Tenório, que também era
farrista, mas que nunca aparecia no Poço dos Homens e que daquela vez apareceu
ostentando um Pitú dos grandes. Dizia haver comprado no poço do Escondidinho, coisa
que ninguém jamais pensara que existisse. Na certa subira do rio São Francisco
e fizera essa surpresa em Santana do Ipanema. Surpresa mesmo! Grande novidade
na pesca local. Este sim, era para a farra propriamente dita, todos os peixes
maiores ou menores, era, na maioria, para matar a fome e no mínimo complementar
o almoço sertanejo. Os lugares de pesca, principais eram a barragem, no bairro
do mesmo nome; o poço do Juá, no trecho do Comércio; o poço dos Homens, abaixo e
quase ligado ao de cima; e o poço do Escondidinho, muito abaixo no Bairro
Bebedouro.
Entretanto
o pessoal batia constantemente por todos os outros poços menores que ficavam das cheias. A pesca
era na base da tarrafa, do anzol, do jequi, da rede e do litro, para as piabas.
Era
o Panema romântico e caridoso
CHEIA NO PANEMA (FOTO DE ÂNGELO RODRIGUES).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.