terça-feira, 12 de setembro de 2017

UM CABRA DE LAMPIÃO

UM CABRA DE LAMPIÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.735

ILUSTRAÇÃO: (MESTRE VITALINO).
Vaga-Lume era um cangaceiro moderado e muito querido no bando. Há mais de cinco anos estava sob a chefia de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião. Recebera o apelido por enxergar bem à noite e guiar os companheiros pelas trevas. Mas certo dia houve mal-entendido por causa de um ataque de força volante e um invejoso disse para o chefe que o culpado havia sido Vaga-Lume. Lampião estava furioso e considerava a suposta falha do denunciado extremamente grave. Depois de muito pensar, resolveu eliminar Vaga-Lume como castigo, muito embora o cabra afirmasse que não tivera culpa nenhuma no caso. Lampião, entretanto, não levou suas palavras em consideração e convocou a todos para assistir a morte do cangaceiro.
Depois de mandar recolher as suas armas, Lampião fez uma meia-lua com os seus homens, deixando a futura vítima a vinte metros na frente. Ordenou: “Vaga-Lume, se prepare para morrer daqui a cinco minutos”. O condenado nada disse e começou a cantar várias modinhas que aprendera no bando, todas exaltando Lampião. A reação nunca vista antes, pegou todo mundo de surpresa. Aquilo bateu diferente no peito do chefe. Passados quatro minutos, Lampião aproximou-se e disse: “Agora faça suas recomendações que eu vou mandar atirar em você”. Vaga-Lume, serenamente, começou a fazer as recomendações a Nosso Senhor e à Mãe de Deus, em voz alta, pelo alma do chefe. Compassadamente e de forma clara, cercou Lampião de todas as proteções possíveis. Para si mesmo, não fez recomendação nenhuma. Lampião ficou atônito e há quem tenha visto uma lágrima descer do seu olho defeituoso. Depois, o chefe respirando fundo, virou-se para os companheiros e indagou ensarilhando o mosquetão: “COMO POSSO MATAR UM HOMEM DESTE?”.
Sei que os fanáticos adoradores de cangaceiros irão dizer que nunca existiu cabra com o nome de Vaga-Lume. Que a cena jamais existiu. E eu com isso! Foi assim que gostosamente sonhei. E desde então, tenho também recomendado à Santa Mãe de Deus e ao Mestre por aqueles que tentaram e tentam me deter pela inveja, indiferença proposital, astúcias e montes de pedras no caminho.
Tenho acompanhado sem muita atenção os resultados.





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