REPRISANDO
TARDE FRIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 4 de setembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.379
Para a sensibilidade de Goretti Brandão e todos os artistas plásticos.
Autor e esposa em lançamento de livro.(Foto: Ene Chagas).
A
tarde está muita fria e eu revi toda a música nostalgia de Cauby Peixoto. Em
Santana do Ipanema, o sapateiro Gerson fora jogador do Ipanema, engordara e
cantava mavioso quando a saudade batia. Muito sério, parecia traumatizado e
somente pouquíssimas pessoas tinham o privilégio de ouvir sua belíssima voz nas
chamadas venetas, como a sua esposa
Lindinalva.
Tarde
Fria, não. Era um sapateiro analfabeto, boêmio e carismático. Girava em torno
dos trinta anos de idade, morava do outro lado do rio Ipanema e gostava de
colocar palavras difíceis onde não cabia, em frases triviais. Caminhava se
balançando como boneco de molas, gostava
de um terno branco e amava cantar a canção Tarde Fria, daí seu apelido.
“Tarde
fria,
sozinho
espero,
só
você que não vem,
Eu
quero...
Tarde
fria,
sinto
frio na alma.
Só
você que não vem
me
acalma...”.
Por isso ou por aquilo, a polícia correu atrás
do sapateiro com seu terno branco. O boêmio disparou em direção ao rio Ipanema
que estava cheio. Pega aqui, pega acolá, o artífice conseguiu alcançar as
pedras do Poço dos Homens, mergulhou nas águas barrentas, revoltas e saiu na margem oposta. Do lado de
cá, a polícia admirada viu o sapateiro sair do poço, espanar a água feito gato
e cachorro, se recompor na sua elegância branca igual à tarde, caminhar no
molejo do boneco de molas e abrir a garganta:
“Tarde Fria,
sozinho, espero...”.
Foi um “frisson’ em Santana do Ipanema ao saber
como o sapateiro cantor escapara dos homens da lei. Teve gente que foi ouvir o
nosso Cauby Peixoto em sua própria residência:
“E o vento, sopra frio,
gelando...
E eu, sem você,
até quando?
Vem o vento,
a tarde é fria,
estou só...
e minha alma vazia”.
*Pesquise Cauby e se apaixone com a melodia.
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