FACHEIROS E MANDACARUS
(Clerisvaldo B. Chagas, 19 de janeiro de 2011)
Prosseguindo a tradição brasileira de correr atrás de prejuízos, é anunciado o resgate aos nossos cientistas. Quando partimos para a industrialização do país, nós o fizemos com atraso de cem anos. O pioneirismo da Inglaterra foi acompanhado pela França, Alemanha, Bélgica, Japão e Estados Unidos. Com a mentalidade voltada unicamente para a Agricultura, tendo como expoentes primeiro à cana-de-açúcar e depois o café, entramos para a corrida industrial com esse espaço todo no meio, daí ter sido chamada “industrialização tardia”. Enquanto essas nações enriqueciam rapidamente e nós comprávamos a elas desde navalha de barbear e talheres a máquinas sofisticadas como descaroçador de algodão, nossas indústrias davam os primeiros passos através do ramo de alimentos. Entre outros fatores, inclusive o de exploração das Américas, foram usadas as cabeças dos seus inventores que continuam sendo estimulados para descoberta de novas tecnologias.
Quando estudante ginasiano, discutíamos de tudo na “Esquina do Pecado”. Eu ficava triste quando a pauta partia para o cientista brasileiro. Sentíamos a falta de estrutura e o descaso com os nossos jovens inventores que deixavam o país, atraídos pelos convites de outras nações, como os Estados Unidos, por exemplo, que formaram o “Vale do Silício”. Diziam que o Brasil não podia pagar bem. Mas afloravam informações de que vários cientistas brasileiros queriam apenas condições de trabalho e ninguém apertava por dinheiro. Novamente perdíamos as oportunidades históricas de nos igualarmos as outras nações poderosas. Continuamos até hoje pagando “royalties” dos inventos alheios, pela nossa ignorância progressista. É verdade que já temos um razoável parque tecnológico, formando um arquipélago, principalmente sob o comando de universidades. Mas não basta. Continuamos a indolência Império/República Velha puxada por carros de boi ou automóveis sem estradas.
Quando o insípido político Aloizio Mercadante disse que o Brasil iria tentar repatriar os nossos cientistas, marca um belo gol, sem dúvida alguma, porém, com outro atraso de cem anos, como o da industrialização brasileira: um “Repatriar Tardio”. Mercadante, ex-vice-presidente do PT, candidato derrotado ao governo de São Paulo, ganhou como consolo o Ministério de Ciência e Tecnologia. Para atrair nossos cientistas, esperamos que ele ponha mel nas iscas, sal no assunto, reais na capanga e condições no trabalho. Foi assim que fizeram e continuam fazendo, Coreia do Sul, Índia, China... Vietnã.
Em Santana do Ipanema, década de 1950, um cidadão chamado Agenor, cuidava do motor da Companhia Força e Luz que abastecia a cidade com energia elétrica. Todos o chamavam cientista, devido aos seus inventos, pesquisas e trabalho constante, individualmente. Era pobre, morreu pobre, sem nenhum tipo de ajuda que o levasse a desenvolver grandes projetos para o país. Um professor Pardal perdido nas caatingas nordestinas. Talvez agora Mercadante leia e descubra nessa crônica o Agenor, representante falecido de dezenas de outros companheiros de invento que se perderam entre FACHEIROS E MANDACARUS.
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