terça-feira, 29 de maio de 2012

A CORNETA DE CORISCO




A CORNETA DE CORISCO
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2012.
Crônica nº 784
           Depois das apresentações de Delmiro da Cruz Gouveia, no seu automóvel preto lustroso em Alagoas, outros começaram a surgir na capital. As importantes firmas de Maceió, Aracaju, Salvador e Recife, tiveram a ideia primeira de alugar esses automóveis para seus caixeiros-viajantes. Até quatro passageiros faziam as praças do Sertão, retornando com economia e sem perda de tempo. Algumas firmas adquiriram seus próprios automóveis, logos apelidados de “baratinhas”. Uma dessas firmas foi a portuguesa Alves de Brito & Cia., importadores estabelecidos no Recife. Para chamar bem a atenção, colocaram uma buzina tipo toque de corneta que espantaria muito bem os animais das estradas poeirentas.
          Em uma das vezes em que o automóvel da firma Alves de Brito, transitava entre Santana do Ipanema e Mata Grande, Alagoas, Corisco estava acampado nas proximidades da estrada. Lá vem, lá vem a “baratinha”, chiando, chiando com seus ruídos característicos de carro novo, cortando as caatingas povoadas de xiquexiques, facheiros e mandacarus. Por coincidência, bem perto de onde o cangaceiro achava-se acampado, o motorista lascou o berro da buzina assustando mocós, preás e passarinhos que estivessem por ali. Corisco também se assustou pensando ser o toque de corneta em ataque dos “macacos”. Recuperado do susto, mandou um coiteiro sondar o ambiente. Descoberta a verdade, Corisco virou uma fera no desejo doido de pegar o motorista, pois achava que ele tinha feito aquilo de propósito. Queria capá-lo e tocar fogo no veículo vermelho para servir de lição a outros desavisados. Como algumas pessoas têm sorte na vida, um coiteiro correu a avisar o motorista que era um conhecido seu. O motorista quase morre com a surpresa e ficou apavorado sem saber o que fizesse. Estava marcado para a capação e outros prejuízos de periferia. Ainda branco de susto a vítima assinalada correu para o Recife, levando o caso para os patrões e ficou aguardando o que fazer.
          Os portugueses da Alves de Brito contrariaram as piadas contadas sobre os patrícios. Simplesmente substituíram a excomungada barata vermelha por um auto de outra marca, meteram uma buzina convencional e, pronto. O representante da firma continuou a viajar sem susto novamente pelos velhos sertões alagoanos. No resto, mandaram Corisco papocar as costas na casa da peste! Acabou-se A CORNETA DE CORISCO.
          (Adaptado de Valdemar de Souza Lima).

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