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Clerisvaldo
B. Chagas, 23 de maio de 2012.
A mídia
costuma
referir-se ao inverno nordestino como se fosse apenas um. Não é verdade. As
estações das chuvas no Ceará, por exemplo, são diferentes das de Alagoas e
Pernambuco. Como identificamos os períodos chuvosos como “inverno”, podemos
dizer que vai iniciar o inverno no Ceará e não no Nordeste. Vai iniciar o
inverno em Alagoas, Pernambuco e Sergipe (que é o mesmo inverno) não no
Nordeste, e assim em diante. O período das trovoadas nesses três últimos
estados, acontecem entre novembro e janeiro, formando até um dito popular que
diz “trovoada de janeiro tarda mais não
falta”. Bem que falta. Não tivemos trovoadas nos meses citados acima.
Nesses mesmos estados, o período chuvoso acontece mais em maio, junho, julho
(maior pluviosidade) e a primeira quinzena de agosto, quando o final do inverno
traz bastante frio que prejudica a lavoura. E se não tivemos trovoadas para
atravessar os meses secos até chegar o início de maio com as primeiras águas do
inverno, pegamos essa doida seca que dizima os rebanhos. O problema já não é
tanto a água da “terra”, porque agora o sertão velho cortado de estradas e asfaltos,
permite ao governo enviar caminhões-pipas para todos os lugares. Os sertanejos armazenam a água nas milhares
de cisternas construídas nas comunidades pelo próprio governo. Então, o
problema maior é a falta d’água que vem do céu. É a sua escassez que acaba com
o pasto, matando os rebanhos de fome.
Foi
preciso
passar o mês de maio todinho a seco, deixando fugir as esperanças do
agropecuarista em Alagoas, Sergipe, Pernambuco e também na Bahia. Mas ontem,
ontem à tarde, dia 22, chegaram às primeiras chuvas do inverno em Santana do
Ipanema, Médio Sertão de Alagoas. As águas de cima vieram tímidas como se
estivessem pedindo desculpas pelo atraso. Fininhas ainda, mas a tarde toda
entrando pela noite. Logo se espalhou aquele friozinho tradicional da época,
encurralando em casa pessoas e animais. Logo cedo da noite as ruas dos bairros
ficaram desertas dando lugar à garoa e à frieza que chegava fuçando tudo. O
vento brando soprava os galhos das árvores nas avenidas e um deserto de gente
ligeirinho se formou. Os gatos acompanharam seus donos em procura de abrigos,
deixando apenas sapos aventureiros investigando se era verdade a boa nova da
chuvada.
As
chuvas
irão prosseguir? Teremos um inverno, mesmo atrasado? Apesar de toda tecnologia
especializada, não sabemos ainda. Vamos apelar para o dom natural de cada um.
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