BOA NOITE SENHORITA
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de maio de 2012.
Há alguns anos atrás, foi inaugurado em uma das cidades de Alagoas, o estilo educado de se cometer crimes de assalto. Os bandidos ocuparam com extrema calma uma agência bancária, espalharam-se estrategicamente, enquanto o chefe do bando conferia a posição adequada de cada membro treinado da quadrilha. Notando que tudo estava como o combinado, o chefe dirigiu-se a um dos caixas, dizendo com voz de diplomata: "Bom dia, cidadão. Espero que o senhor não se estresse, continue normalmente suas atividades porque isso é um assalto. Fique tranquilo, não queremos ferir ninguém, apenas coletar a parte financeira que pertence ao governo. Por gentileza, queira colocar todas as cédulas nessa mochila, por favor". Enquanto o cabeça assim procedia, os outros sequazes faziam mais ou menos a mesma coisa, caprichando nos gestos pacatos e ensacando o que arrecadavam. As portas do banco não foram fechadas, chegando a clientela normalmente e recebendo os afagos do comandante que dizia, quando preciso: "Bom dia, meu amigo, por favor encoste-se um pouco à parede e aguarde o desenrolar dos acontecimentos. Fique tranquilo porque isso é um assalto". É claro que havia exibição de armas, mas também menos ostensivamente possível.
Agora os sites alagoanos publicaram um crime de pistolagem acontecido em São Miguel dos Campos, cidade canavieira da Zona da Mata, em nosso estado. O fato ocorreu durate à noite quando o criminoso atirou e matou a sua vítima em uma das ruas movimentadas de um daqueles bairros. Ao encerrar sua missão justiceira contra um usuário de drogas, o bandido não correu e nem escondeu o rosto como normalmente fazem os pistoleiros comuns. Aos que passavam na hora da infelicidade, aos que compareceram após os tiros, aos que chegavam eufóricos, o homem do gatilho, educadamente, parecia pedir desculpas pelo incômodo, dirigindo-se a cada testemunha, inclinando-se como um cavalheiro e dizendo: "Boa noite, senhorita" , sendo repetida a frase adequada para outras testemunhas.
Estamos trocando, então a violência maior por uma violência menor. Quer dizer, uma violência amundiçada por uma violência de elite. Será? Caso seja repetido esse tipo de comportamento, o mundo do crime banal pode estar mudando de mentalidade: "Gente, vamos roubar e matar, porém, com educação, afinal o nosso público alvo merece mais respeito. Vamos procurar aperfeiçoar os nossos trabalhos, fazendo faculdade, frequentando curso de aperfeiçoamento, estagiando". Garantimos que não irá faltar cota para os especializados nas universidades e nem verbas de dirigentes para agradar o mundo imenso da bandidagem brasileira. Poderá ser reduzido até o imposto recolhido ao sindicato do crime e, a genial ideia patenteada e exportada para o mundo civilizado como coisa somente nossa. Gostou? BOA NOITE, SENHORITA.
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