terça-feira, 4 de agosto de 2020

REPENSANDO SANTANA E A HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de agosto de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.359

 








No início dos anos 30 houve uma seca braba nordestina. Até mesmo Lampião e seu bando sofreram os rigores do Sol causticante, a ponto de o chefe jogar irado o seu fuzil ao chão e dizer mais ou menos assim: “Que seca da peste! Tomara que não chova mais nunca! O que teve o aparte do cangaceiro Labareda: “Não diga isso, capitão, assim o senhor ofende a Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Em Santana do Ipanema, Alagoas, a seca impiedosa botou o futuro escritor Oscar Silva para correr. O leito seco do rio Ipanema, recebeu centenas e centenas de retirantes descidos do sertão pernambucano. Foi então que o padre Bulhões movimentou-se junto à comunidade para assistir aquelas levas e levas de famílias de retirantes famintos.

Foi esse mesmo sacerdote que recebeu o bebê, filho do cangaceiro Corisco, para criá-lo e educá-lo. Foi ele quem realizou a grande e maior reforma da Matriz de Senhora Santa Ana; participou ativamente para a fundação do Ginásio Santana, uma das primeiras escolas da Rede Cenecista de Alagoas. Montado a cavalo, dava assistência a toda Paróquia da zona rural. Detestava encontrar uma casa no sítio, sem alpendre. Dizia abusado: “Casa sem alpendre é casa de matuto besta”. Formou uma dupla incrível com o coronel José Lucena Albuquerque Maranhão – a bota e a batina - que comandaram com prestígio a terra de Senhora Santana por boa fatia de tempo. Foi ele ainda um dos organizadores da defesa contra um possível ataque de Lampião à cidade.

No final da vida, Bulhões estava doente, nervoso e falava repetindo a palavra: compreendeu? Compreendeu, quando resolvia administrar um esbregue em algum filho de Deus desavisado. Certa feita estava atento na igreja, quando entrou um matuto ingênuo, desinformado e foi até um dos vários altares em que havia. Pegou um cigarro de fumo grosso, botou na boca e o aproximou da vela acesa do santo. O padre vendo aquilo, foi até lá e indagou ao matuto: “Você é de onde? E o Jeca, referindo-se ao sítio onde morava, respondeu prontamente: “Sou do Mundo Novo”. O padre livrou-o de um esporro, mas respondeu com ironia: “Logo vi, logo vi, pois no mundo velho de meu Deus essas coisas não acontecem.

Páginas reviradas do território santanense.

 



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