domingo, 22 de maio de 2022

 

A MODA DO CHOFER

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.703

 



Apesar de tão útil, o chapéu de couro nunca foi socialmente valorizado. Era coisa de carreiro, vaqueiro, tirador de leite... Que era assim que se pensava. O chapéu de palha também não encontrava muito abrigo em zonas urbanas. Era do roceiro, do trabalhador braçal, do puxador de enxada. A desvalorização social fazia com que o segundo fosse vendido aos montes, no chão das feiras semanais a preço tão baixo que era praticamente de graça. Já o chapéu de couro era encontrado em bancas de madeira em meio às bugigangas relativas à zona rural, como facão, foice, peixeiras... O chapéu de couro, desprezado até pelas forças volantes de combate aos cangaceiros, no início, terminou em cabeças de vários policiais dessas forças.

O chapéu de massa, também chamado de baeta, demonstrava mais ou menos a posição social do indivíduo. Incrivelmente caro (ainda hoje) era usado na zona urbana com o comerciante mais abastado e, na zona rural pelos fazendeiros, coronéis ou particulares de boa condição financeira.

O boné foi surgindo timidamente. A princípio por pessoas mais humildes como carregadores de saco, engraxates e principalmente motoristas. Entretanto, o sertanejo espirituoso que falava jocosamente do chapéu de couro e de palha, passou a discriminar o boné. Dizia: “Homem de boné, ou corno ou chofer. O alvo só fazia esboçar um sorriso amarelo e, claro, levar no tudo na brincadeira.

O boné foi comendo pelas beiradas; o preço do chapéu de massa e do panamá (palhinha) em parte, foram culpados da ascensão do boné. Sem terras, estudantes, atletas, até chegar à cabeça do próprio presidente dos Estados Unidos. Chapéus de couro e palha continuam os mesmos em zona rural. E não é tão fácil encontrar um homem usando um chapéu de massa, por aqui. Mas o boné, em um período só usado nas caminhadas, desembestou no uso geral. Muito mais bonito, sofisticado, vai faturando em cima de marcas famosas que descobriram o veio. Registramos também que em campanhas eleitorais, por exemplo, é o boné o brinde mais procurado pelos eleitores, mais do que as famosas camisetas. E mesmo detestando o troço fui obrigado a aderir à moda.

A sociedade resgatou o objeto pagando à língua a dignidade do chofer.

BONÉ (FOTO: B. CHAGAS).

 


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