O RÁDIO DE ORMINDO (Clerisvaldo B. Chagas. 2.2.2010) Esta crônica de nº 200 é marco de etapa. É oferecida ao professor Valter Filho, cujo c...

O RÁDIO DE ORMINDO

O RÁDIO DE ORMINDO

(Clerisvaldo B. Chagas. 2.2.2010)
Esta crônica de nº 200 é marco de etapa. É oferecida ao professor Valter Filho, cujo cajado de Moisés abriu o mar Vermelho

Fragmentos exaustivamente pesquisados dão conta de que também havia uma escola particular em Santana do Ipanema que não é muito lembrada. O que não é registrado termina morrendo na boca dos mais velhos. O esquecimento toma conta do restante e pronto; vai-se um pedaço da história. Tudo leva a entender que a escola particular do professor Domingos Gonçalves Lima, fardada, disciplinada, bem dirigida, existiu após a extinção da escola pioneira do professor e senador Enéas Augusto Rodrigues de Araújo e esposa professora Maria Joaquina de Araújo. Não encontramos em outras fontes referências ao contabilista mais antigo em Santana. Primeiramente, Domingos Gonçalves Lima, então com 18 anos de idade, chegou à “Rainha do Sertão”, como contador da firma do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha. Veio de Porto da Folha, solo sergipano, direto para seu primeiro emprego. Muito temos sobre todos eles no livro inédito O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema. O nosso ponto de hoje, porém, é sobre outro contabilista que conhecemos na década de 60.
Ormindo Monteiro era contador da firma de meu pai. Baixinho, muito sério, vez em quando aparecia no senadinho da loja de tecidos. Conversava pouco e sempre trazia uma novidade. Geralmente era uma notícia diferente que as pessoas demoravam a acreditar. Na hesitação dos presentes, Ormindo costumava afirmar: “deu no rádio”. Ora, o rádio ainda era privilégio de poucos e contava com boa credibilidade. Dessa maneira Ormindo não dava rasteira em sapo. Qualquer dúvida sobre suas notícias vinha logo à salva-guarda: “deu no rádio”. Certa feita, depois de muita conversa alguém disse que o animal que mais comia era a égua. Nem valia à pena criar essa biscaia. Quem quisesse que prestasse atenção. Até o cavalo parava para dormir, mas a besta passava a noite toda acordada a pastar; era só ouvir o chocalho badalando até o amanhecer. No outro dia chegava Ormindo para confirmar a conversa anterior. Havia se enrolado num capote e passara à noite inteira sob o aveloz escutando o chocalho da besta, dissera. Lógico que ninguém acreditou em tamanho absurdo. Nenhum cristão consciente iria passar uma noite acordado ouvindo chocalho de besta. E foi dessa vez que Ormindo não pode provar porque não havia dado no rádio.
As eleições se aproximam. Políticos locais já se assanham porque o postulante a deputado, a senador, a governador, apareceu em Santana, pagou churrasco, conversou muito, saiu na mídia. Existe ainda muita ilusão no pai-nosso da política. Os seis possíveis candidatos a prefeito vibram quando chegam os arautos do mundo com suas promessas costumeiras. Em outras localidades, não sabemos, mas em Santana do Ipanema o chocalho da besta já deu no RÁDIO DE ORMINDO.




TEMPOS DE EXCURSÕES (Clerisvaldo B. Chagas. 1.2.2010) Para o “Primo Véi” e todos os da 8º Série que estavam nesse episódio Corria a época...

TEMPOS DE EXCURSÕES

TEMPOS DE EXCURSÕES

(Clerisvaldo B. Chagas. 1.2.2010)
Para o “Primo Véi” e todos os da 8º Série que estavam nesse episódio

Corria a época de bailes e excursões no Ginásio Santana. Nas formaturas de 8ª série apresentavam-se as escolhas, ou baile no Tênis Clube Santanense ou excursão em outros estados. Em 1966, trabalhamos duro para a segunda idéia. Promoções, rifas, contribuições, nos deixaram com um bom dinheiro em caixa. Ganhamos o transporte e a hospedagem. A verba ficou apenas para as despesas comuns. Era uma turma enorme. Escolhida Fortaleza como destino, iríamos pelo litoral e retornaríamos pelo interior. Ante do amanhecer, estávamos no ônibus novo vindo de Maceió e, as colegas cantavam o sucesso do momento: Madrugada vem chegando, ô/ o sereno vem caindo/ cai, cai sereno, devagar/ meu amor está dormindo...
Fomos pernoitar no Recife após grande animação de viagem. No dia seguinte acampamos em João Pessoa, aliviando a algazarra e o enfado nas areias da praia de Tambaú. Estávamos perto do ponto extremo leste do Brasil. Foi uma delícia! Nem dava mais vontade de sair. Continuamos viagem e fomos dormir em Natal, estranhando o costume das redes em todos os hotéis. Antes de chegarmos ao destino, passamos uma noite na beira da estrada de areia branca. Houve serenata sobre um lajeiro numa bela noite de luar. Depois cada um se acomodou como pode e, nas primeiras horas do dia entrávamos em Fortaleza, nosso destino. Ficamos hospedados à Avenida Senador Pompeu em um hotel pertencente à família alagoana. Conhecemos todos os pontos turísticos, inclusive a praia de Iracema e o mercado que muito me impressionou pela higiene. Após cerca de dois dias e meio, iniciamos o retorno pelo interior. Depois de Mossoró, rumo a Juazeiro do Norte, enfrentamos uma longa travessia monótona de garranchos e pedregulhos. Após esse trecho sem graça, finalmente despontamos nas serranias do vale do Cariri. Bela paisagem vista do alto no dramático torrão do padre Cícero. Excursão bem comportada sob o comando do professor Antonio Dias, não dava trabalho em lugar algum. Assim visitamos o horto, as igrejas, museus, mercado e comércio da “Meca nordestina”.
A volta a Santana do Ipanema, foi cheia de comentários de causar inveja em outros estudantes. Ainda sobrou dinheiro na caixa e gastamos coletivamente. Dessa 8ª série, acho que entre 49 e 51 alunos, lembro de todos. (Foto no livro ainda não publicado: “O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema). Dos investimentos de pais e Ginásio, saíram da 8ª de 1966, os mais diversos profissionais que estão servindo à sociedade. Professores, engenheiros, políticos, contadores, empresários, escritores, bancários e mais de uma dezena de outras profissões (político entra como profissão, humm!).
Como juntar agora todo esse pessoal para um dia inteiro de recordação? Tenho comigo que esse hábito saudável não permanece mais. Pelo menos fica registrado para essa juventude como fazíamos nos TEMPOS DAS EXCURSÕES.


O MUNDO GIRA (Clerisvaldo B. Chagas. 29.1.201) Parece tolice dizer que o mundo gira. Muita gente, porém, nunca ouviu falar sobre esse assun...

O MUNDO GIRA

O MUNDO GIRA

(Clerisvaldo B. Chagas. 29.1.201)
Parece tolice dizer que o mundo gira. Muita gente, porém, nunca ouviu falar sobre esse assunto da Geografia. Em Santana do Ipanema, lá para as bandas do Sertão alagoano o filho de “Chica Boa” decorava bem essa aula espacial. Beberrão e servente de recados, ”Giramundo”, sem inimigos aparentes, batia o chão da cidade andando mais do que a besta de “Zé Urbano”. Vez em quando Giramundo desaparecia, mas sempre retornava ao lugar da velha doceira da porta do cinema. Ao contrário de Giramundo, pessoas escoladas, tido mesmo como sabidas, tem uma noção quase perfeita dos movimentos planetários. Mas é que, chegada à hora do uso, a sabedoria põe uma venda. Muitos são surpreendidos, então, pelo giro da Terra, ou seja, pelo giro da vida. Os que mandam, os que perseguem, os que semeiam pedras, não raramente são levados para a parte baixa. A parte baixa, tanto pode ser a mola impulsora para cima, quanto à expiação dos que estavam acima. Ô... É complicado? Bem, aí é outra história. Estão usando agora essa palavra para novas funções. Mas isso não impede o giro do mundo como estávamos dizendo. E os simples entendem. E os arrogantes não conseguem o entendimento porque a eles não lhes foi dado compreender.
Mas também existem outros giros que intrigam os pesquisadores. Muitos brasileiros deixam a terra natal e se aventuram pelo mundo, enfrentando os obstáculos do estrangeiro. Inúmeros não querem mais voltar, Outros querem e nunca podem, morrendo em terras estranhas. Mas o que estar acontecendo com os nossos craques? Foram aos paraísos da fama, da riqueza, do alto luxo (nem sabemos como conseguem gastar tanto dinheiro que adquiriram com o suor do rosto). Então, por que o Adriano retornou ao Brasil da violência do Rio? Qual o verdadeiro motivo da volta de Ronaldo? Quais os sentimentos que trouxeram Wagner Love? Por que Roberto Carlos preferiu São Paulo? E a fama? E o luxo? E os carrões? Por que fugir das platéias civilizadas da Europa? Por que tanta gente boa de bola abandona aqueles estádios e reiniciam no Brasil?
Será que estamos diante de um novo fenômeno de volta da emigração também de jogadores de futebol? Queremos dizer, de volta em massa, depois desses quatro. Aliás, cinco, para falar apenas nos mais conhecidos. Robinho vem aí. Quando retornarão Ronaldinho e Kaká? Será que acontecendo um êxodo ao contrário, jogadores europeus também procurarão o Brasil? Nunca houve uma crônica com tantas interrogações.
Pulando dos grandes para os menores centros: como vai o Ipanema na luta pelo título alagoano? Vamos girar essa roda e torcer para que o “canarinho” vá para cima. Ora! Vamos conversando as amenidades de fim de semana. Conversa de bar também faz parte da web. E uma cerveja geladinha... Vale o esforço dos dias anteriores. Conversando miolo de pote... Gira o mundo; mundo com Giramundo... O MUNDO GIRA.