O TENENTE GENEROSO Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2012. Quem se dirigiu ao Rio de Janeiro ultimamente deve ter muito que co...

O TENENTE GENEROSO


O TENENTE GENEROSO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2012.

Quem se dirigiu ao Rio de Janeiro ultimamente deve ter muito que contar, diante de tanto movimento da Rio + 20 e da Cúpula dos Povos. Representantes estrangeiros de governos, ONGs e outros movimentos cheios de desfiles, cartazes, protestos, artes, discursos, barulhos, criatividade, coloridos nas diversas apresentações fechadas e livres nas ruas e nos bairros. Pelo visto, pode se dizer que é uma festa ciclópica na antiga capital do Brasil que une o nosso pacifismo à vontade do participante de abrir o par de queixos para o mundo todo, bem ali pertinho, nos pés dos morros cariocas. Feliz foi a Cidade Maravilhosa, que ampliou o conhecimento geográfico do planeta a seu respeito, proporcionando essa movimentação de gringos, parecida com a da Copa. Muitas organizações, desde as mais ativas as menos conhecidas, tiveram a oportunidade de entrarem na folia cultural que ainda embriaga o Rio de Janeiro. A marcha das vadias, os desfiles gays, os protestos feministas, os movimentos pela vida, a marcha contra a corrupção e tantos outros eventos também vão querendo mudar a face do mundo velho cansado de guerra.
Não tem como não se lembrar de uma agitação danada que houve na porta do Palácio, em Maceió, muitos anos atrás. Os manifestantes queriam ser atendidos pelo governador nas suas reivindicações, mas o governo não deixava que a multidão de servidores enviasse seus representantes para sentar à mesa de debates. Com carro de som, “pirulitos”, faixas, cartazes, gritos de ordem e discursos inflamados, os manifestantes insistiam em entrar no palácio, onde a guarda fora reforçada dentro e fora das grades. A onda humana queria passar pela guarda na base do grito, do som e dos braços desarmados. Os guardas dispostos já começavam a perder a paciência e os cassetetes começavam a fazer algumas vítimas na linha de frente. Um cabra dos cabelos pintados de vermelho metia-se a peitudo e gritava de perto pedindo insistentemente “Polícia, seu polícia, abra para nós!”. A onda avançava e recuava entre a insistência e os empurrões da guarda do palácio. O carro de som bradava de toda altura e a multidão de servidores parecia mesmo disposta a tudo. O homem do cabelo vermelho insistia em meio ao levante popular: “Polícia, seu polícia, abra para nós!”. Foi aí que o mais duro dos guardas, disse para ele, exibindo o cassetete: “Eu vou meter é uma p... bem grossa no seu c..., seu filha da puta! O militante não se intimidou. Seus olhos brilharam até. No meio daquele empurra-empurra sem fim, ele conseguiu pegar no queixo do soldado raso e dizer com toda ternura que lhe foi possível: “Obrigado, meu polícia, como é GENEROSO O MEU TENENTE”. 




DEPOIS DOS INFAMES Clerisvaldo B. Chagas, 19 junho de 2012. Calejado com tanto sofrimento e abandono, o povo de Alagoas parece não ...

DEPOIS DOS INFAMES


DEPOIS DOS INFAMES
Clerisvaldo B. Chagas, 19 junho de 2012.

Calejado com tanto sofrimento e abandono, o povo de Alagoas parece não acreditar em mais nada que venha dos governos, em relação à violência. Alagoas parece ter sido o estado escolhido pelas entidades invisíveis que mandam no mundo, para aglutinar todas as pancadas do Brasil. Nunca aparece uma liderança nova para dirigir o estado porque os antigos caciques não deixam. Chegam às eleições sempre divididas entre os maus e os maus, onde o leitor tem que escolher o menos ruim. As acusações de palanques entre um lado e outro é coisa de arrepiar cabelo, mesmo assim o eleitor desanimado há décadas e décadas, é obrigado a carregar às costas esse peso safado, do estigma da podridão da política alagoana. Se se vira para o Legislativo é como disse um deputado fora da mídia, em rodas de amigos, ele mesmo decepcionado com a Assembleia Legislativa: “É um esgoto a céu aberto”. Acontece, porém, que ele não disse nenhuma novidade, todos acompanham a trajetória alagoana dos políticos, mas ninguém pode fazer nada até porque existe uma amarração entre os poderes que torna inútil qualquer rebelião do cidadão comum. Aqui, meus amigos do mundo, não tem essa história de dizer: “Vamos dar o troco nas urnas”, porque não existe troco para se ofertar.
Como existe troco, se eles são os mesmos em todas as eleições! De um lado é o fogo, do outro o espeto. Se por acaso um idealista meter-se no meio das duas pedras, será esmagado, todavia se não representar perigo nenhum irá à classificação da indiferença: “Deixe esse coitado falar o que quiser, pelo menos está divertindo o povo”. E assim vamos levando o fado traçado pelo além, perdendo tudo de bom para outros estados, vendo o progresso dos vizinhos, deixando a baba cair e o desespero tomar pela falta de perspectiva que nos assola. Quem pode, está livre, têm condições, tenta a vida em outros estados que enriquecem cada vez mais, onde o progresso se faz presente na cidade e no campo. Pelo menos ficam livres do escorregar de lágrimas pelo que acontece nesse velho território de Alagoas, ainda dominada pela tradicional hierarquia de coronéis e seus derivados. Uma indolência infinita dos que governam essa província saco de pancada da classe “B” para baixo.
Esse Plano Nacional de Segurança Pública que vem aí será uma surpresa enorme se fizer alguma coisa. Em qualquer época, Alagoas só melhoraria com uma rebelião radical do seu povo. Pela nossa idade e pelo tanto que já vimos afirmamos que esse estado só terá melhora após muitas futuras gerações na peneira do tempo. Quando os ossos desses atuais caciques e seus substitutos estiverem limpos, talvez na Era de 2050, a população da época possa beber água mais pura, tão coada através de décadas. Muito DEPOIS DOS INFAMES.








PERDEU-SE NA MULTIDÃO Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2012. O desfile fazia a sua parte na avenida, animado por músicas dif...

PERDEU-SE NA MULTIDÃO


PERDEU-SE NA MULTIDÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2012.

O desfile fazia a sua parte na avenida, animado por músicas diferentes. A multidão ocupava diversos lugares ao longo do trecho assinalado, inclusive aplaudindo o cortejo tão cheio de cores e criatividade. Uma diversão qualquer no centro de São Paulo é sempre um evento bem vindo para amaciar os feixes de nervos do dia a dia. Havia um pequeno tablado, tamanho de um ringue, defronte a um banco particular. Logicamente não fazia parte do festejo e talvez tivesse sido ali colocado como um pequeno palanque de vendas, ponto de apoio para discursos ou coisas semelhantes. Algumas pessoas aproveitavam o estrado para melhor posicionamento em visão ao desfile. Garotões riam a valer de certas figuras inusitadas que seguiam pela avenida. Com a passagem de três rapazes sob um veículo aberto, um dos garotões aponta para eles e ri muito, afirmando que nunca havia visto pessoas tão feias quanto aquelas. Os rapazes que desfilavam sentiram-se apontados e gozados. Resolveram descer, abandonar o desfile e aplicar uns bofetes no rapaz do palanque, mais ou menos da mesma idade dos demais.
Quando os três do cortejo resolveram cercar e subir no palanque o garotão estava atento. Olhando para os lados, sentindo que iria ser atacado, pegou uma afiada foicita de cortar cana, conduzida por um trabalhador rural, de passagem, que também estava no tablado e, disse para os invasores: “Vão encarar?”. Os invasores, com as mãos no tablado, frearam o ímpeto e estudavam com os olhares como acabar de subir e atacar o adversário. Do lado oposto sai outro rapaz que não tem nada a ver com o assunto, vai para frente do garotão da foicita como a querer distraí-lo em proveito dos três atacantes. O garotão pede imediatamente que ele saia do campo visual. Muito confiante, ele estende o braço como a querer demonstrar coragem, atrapalhar e desmerecer o garotão armado. Numa fração de segundos o rapaz trapalhão tem seu braço cortado rapidamente como se fosse apenas um tablete de manteiga. Fora avisado. A rapidez foi tanta que o braço caiu no piso e o seu dono ainda nem tinha sentido a dor.
Os invasores paralisaram a marcha, os do palanque levaram a mão à boca. Na avenida, continuava o desfile, alegre e multicor. Nos quatro cantos, o garotão largou a foicita vermelha aos pés do mutilado, despertei dessa quimera sem virtudes e, o nordestino correu e misturou-se. PERDEU-SE NA MULTIDÃO.