LAJEIROS DO SERTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 17 de julho de 2012. Crônica Nº 821 Tem início hoje o novenário em homenagem a Senhor...

LAJEIROS DO SERTÃO


LAJEIROS DO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de julho de 2012.
Crônica Nº 821

Tem início hoje o novenário em homenagem a Senhora Santana, padroeira de Santana do Ipanema, estado de Alagoas. Há décadas, a festa da avó do Cristo continua arrebanhando multidões, notadamente na procissão de encerramento. Entretanto, queremos destacar, não a festa, tão decantada por nós, mas as formações rochosas do sertão denominadas lajeiros. Querem trocar os nomes de lajeiro por lajedo, de imbu por umbu, mas continuamos a valorização do que é nosso, encaixando sempre nesses trabalhos as belas expressões nativas. Belas expressões, belíssimos lajeiros que afloram em toda a região do semiárido nordestino. Pequenos, médios, grandes, enormes, os lajeiros vão fazendo pausas na vegetação contínua, como brincos de prata nas orelhas da caatinga. Muitos são côncavos, afunilados, alongados, esculpidos, chamados, pias, pilões, pedra d’água... Suas rachaduras horizontais ou panelões verticais ajudam bastante o abastecimento d’água em tempos de estiagem. Bebem os humanos, os bichos e, ainda colaboram na lavagem de roupa em fazendas e povoados.
Existe o lajeiro completamente limpo, sem vegetais e nem esconderijos. Encontramos, porém, inúmeros deles semeados de urtigas, xiquexiques, macambiras, coroas-de-frade e mesmo alastrados, facheiros mandacarus ou altíssimas craibeiras que se formam em pequenos espaços de areias e fendas. Diz à música que “é no pé do lajeiro onde a onça mora”, mas também a cobra, o preá, o mocó, a raposa e outros bichos, pequenos e minúsculos. Alguns deles são altos, oferecem panoramas belíssimos e que são até explorados pelo Turismo. Pontos de encontros amorosos, os lajeiros nordestinos serviram de acampamento para as longas caminhadas de ciganos, cangaceiros, almocreves, beatos e romeiros que percorriam os sertões a pé ou a cavalo. Muitas vezes no sertão verde da caatinga, o viajante se depara bruscamente com a formação granítica como ilha branca no meio do “verdume”. Os mandacarus erguem os braços e o Sol da tardezinha mergulha nas montanhas por trás dos seus braços esguios. Só saudade pura e uma vontade da gota serena de fazer amor.
Em recente pesquisa para o nosso pequeno grande livro “Negros em Santana”, com os coautores Marcello Fausto e Pedro Pacífico V. Neto conseguimos capturar belas imagens de lajeiros. Pelo menos uma está servindo de papel de parede no computador e age como remédio relaxante. É a ilustração acima, do sítio Laje dos Frades, bem perto do povoado Pedra d’Água dos Alexandres de onde Moreno entrou no Cangaço; de onde surgiu a cangaceira Maria de Pancada e de onde o cangaceiro Cruzeiro foi levar a cangaceira Aristéia para se entregar em Santana do Ipanema. Um exemplo, apenas de LAJEIROS DO SERTÃO.

LAMPIÃO E O CABRA ASSINALADO Clerisvaldo B. Chagas, 16 de julho de 2012. Crônica Nº 820            Para o saudoso escritor Raul...

LAMPIÃO E O CABRA ASSINALADO


LAMPIÃO E O CABRA ASSINALADO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de julho de 2012.
Crônica Nº 820


           Para o saudoso escritor Raul Pereira Monteiro, santanense, mas radicado em Campina Grande, “Deus faz, o vento espalha e o diabo junta”, conforme o ditado popular. Falando salteado e sem datas, aquele autor de vários livros, diz do constrangimento a que foi submetido o seu avô diante da indesejável e maléfica presença de Lampião e Corisco à sua fazenda; crônica: “provérbio que se cumpre”, “Espinhos na estrada”, págs. 93-96, editora Caravela, 1999. Vivendo toda a sua vida na fazenda, situada no povoado Capelinha, então, pertencente ao município de Santana do Ipanema, Alagoas, seu avô recebeu uma estranha visita. Homem de bom caráter, filantropo e amável, escutou a conversa do fugitivo da Justiça que chegara ali com sua esposa. Confessando sua condição de réu e acrescentando desejos de reabilitar-se e viver vida decente e pacífica, o sujeito ganhou a confiança do proprietário e passou a trabalhar na fazenda. Tempos depois, o empregado despachava a consorte para as margens do rio São Francisco, alegando que a sogra passava mal e precisava dos cuidados da filha. Passaram-se alguns dias e o indivíduo falou que a sogra havia morrido e que seu espólio precisava de interessados. Partiu.
Mais a frente, o fazendeiro recebeu aviso de um portador apressado e nervoso que Lampião se dirigia àquela fazenda. A família pegou alguns objetos como esteiras, lençóis, e ainda víveres e água e partiu para um esconderijo do outro lado do rio Ipanema, pedaço de caatinga com mais de seis quilômetros quadrados. “E antes que anoitecesse, escolhemos o chão mais macio e coberto de vegetação que nos amparasse muito bem das vistas curiosas e sedentas do grupo latrocida”. Ao amanhecer, desse tempo de verão, pensando em regressar, a família foi surpreendida por tiros próximos, pelas presenças de dois cangaceiros e o ex-empregado, fugitivo da Justiça. “Fui obrigado”. A família foi agarrada, extorquida e maltratada, até pagar um resgate (solicitado por empréstimo na cidade através de um portador). Desgostoso com tudo, o fazendeiro mudou-se com os seus para a cidade, mas continuou visitando a fazenda em fins de semana por causa de alguns bichos de estimação. Não se tinha certeza se o ex-empregado havia ingressado no bando.
Um dia, no final de julho de 1938, com a família já residindo em Santana do Ipanema, chegam às onze cabeças dos bandidos mortos em Angicos.

Estávamos mirando curiosamente as cabeças já muito intumescidas e olhos esbugalhados e vermelhos, quando uma delas nos chamou a atenção, pela semelhança com o rosto do homem que conosco morara na fazenda. Um sinal perto do nariz e uma pequena mossa na orelha esquerda convenceram-nos de que o bando de Lampião o atraíra, inclusive, para a morte agoniada na gruta Angico, sob o fogo cerrado de uma volante policial alagoana.

Monteiro, então, desabafa: 

Para mim "os semelhantes se atraem”, e por isso o nosso ex-morador fora ao lado do “Rei do Cangaço”, para cumprir a sua maldita vocação nos palcos infernais das caatingas nordestinas, como serpentes e feras bravias. Mas para o povo, de modo geral, foi o diabo que juntou o que Deus fizera e o vento espalhara.

Acho que Monteiro não disse o nome do avô pela vergonha e humilhação sofridas e, o nome do cangaceiro não saiu, possivelmente por que nem isso ele merecia. Fora Lampião, Maria Bonita, Enedina e Luiz Pedro, restaram Quinta-feira, Mergulhão, Alecrim, Moeda, Elétrico, Colchete e Marcela. Quem seria de LAMPIÃO O CABRA ASSINALADO?.  

SEBO NAS CANELAS, LAMPIÃO VEM AÍ! Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2012. Crônica Nº 819 Capa de peça teatral Publicamos...

SEBO NAS CANELAS, LAMPIÃO VEM AÍ


SEBO NAS CANELAS,
LAMPIÃO VEM AÍ!
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2012.
Crônica Nº 819

Capa de peça teatral
Publicamos a peça teatral ainda virgem, intitulada “Sebo nas canelas, Lampião vem aí!”. A referida peça vem como anexo no livro paradidático, recentemente publicado, “Ipanema um rio macho”, com início à página 68. A peça é dividida em três atos e se concentra em alguns momentos filosóficos e de decisões de Virgolino. Após a apresentação com direito a cantador-repentista, tem início o primeiro ato com Lampião sendo entrevistado e interrompido por outras cenas. O segundo ato representa uma força volante em perseguição aos cangaceiros, inclusive tendo em seu quadro um rastejador. Finalmente o terceiro ato tem final surpreendente. “Sebo nas canelas, Lampião vem aí”, é ficção baseada na realidade de atos do cangaceiro mais famoso. Sua reprodução e/ou apresentação tem direitos autorais. Qualquer pessoa que quiser apresentar a peça, dirigida a maiores, pois, apesar de ser humorística tem cenas de violência, contatar o autor no seu E-mail pessoal, apresentado no blog. Essa peça foi escrita há cerca de vinte anos e estava engavetada. Eis uma amostra grátis como brinde aos nossos leitores:
Lampião – Então é você o famoso Zé Furão? Cabra da moléstia! O mió rastejador do Nordeste passou-se pras banda da Poliça... O que foi que eu fiz cronta você, mode andar me perseguindo?... Eu perdoo tudo na vida, seu Zé Furão, mas inspetor e rastejador, não!
E Virgolino pega um facão que traz à cinta desde o início, com a outra mão joga fora o chapéu do prisioneiro, puxa-o pelos cabelos até cobrirem-se nos bastidores. Maria de Déa fica passeando no palco. Depois Lampião retoma trazendo a cabeça de Zé Furão pendurada pelos cabelos (sem o facão) atravessa o palco devagar e grita da entrada do lado oposto:
Lampião – Bolacha! Jogue essa porcaria pros cachorro de Corisco!
Depois Lampião volta-se para Maria Bonita, enxugando as mãos ao longo da calça: - Santinha chame o sanfoneiro e o pessoal pra cá. Mande tocar uma coisa bem animada.
Ouve-se o som de forró bastante alto. Entra em cena Maria Bonita que começa a dançar com Lampião. O casal de cangaceiros anônimos, também.
·         Próximos lançamentos previstos para agosto: “Negros em Santana” e “Lampião em Alagoas”.