AS PORTAS DO DIA Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2013. Crônica Nº 1001 O bichão estaciona na pracinha e vai minando turi...

AS PORTAS DO DIA



AS PORTAS DO DIA
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2013.
Crônica Nº 1001

O bichão estaciona na pracinha e vai minando turistas do seu estômago. Logo a pracinha do mirante é ocupada por gente do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Alguns estão em trajes de banho demonstrando que vieram das cálidas praias de Alagoas. São adultos, homens, mulheres, idosos, quase todos com pequenas máquinas fotográficas, catando na paisagem. Falam baixo, o ânimo não é grande, talvez por causa da jornada calorenta. É tardinha, o Sol começa a se despedir, mas ambulantes já se encontram no ponto vendendo camisetas com o nome “Maceió”. Camisetas mal acabadas que saltam aos olhos e servem de isca para dólares e euros. Turista é bicho besta, porém, nem todos desejam comprar gato por lebre. Dessa vez é brasileiro contra brasileiro numa turma escolada do Sul e do Sudeste. Logo chega pequena turma de outros ambulantes trajada do marginal. Oferece bugigangas como frágeis chaveiros que fazem zoadas para enganar menino. Os visitantes não estão muito interessados em conversa de camelô.
O bichão (ônibus) parado não para seu motor. Os turistas vão fotografando o belo mar azul, o porto, o lixo jogado na barreira, a pracinha com pequeno busto sem nome, o pedestal indicativo ─ que perdeu a identidade de metal para vândalos ─, a estatueta do muro, com braços decepados, o casario iluminado pela despedida do Sol. No espaço, apenas urubus volteando pelo céu desenhado com nuvens brancas e cinzas.  Fora urubus, somente o canto insistente de um bem-te-vi no altíssimo edifício próximo à ravina. O pessoal, cansado ou com sono, cumpre os minutos determinados no mirante. O guia aproxima-se do banquinho com pessoas da terra, põe a mão no boné, mostra um sorriso de enfado e aconselha os do banco a não seguirem à profissão de guia. Não há tempo para explicar detalhes. Um fardado que parece ser o motorista faz sinal e os turistas vão retornando ao ônibus, entrando pela porta baixa do meio e se acomodam no alto do bichão que parte resfolegando como trem.
Os ambulantes reúnem-se no meio do logradouro num total “amundiçamento” para a divisão do botim. Esvazia-se a pracinha, a noite chega, lâmpadas candeeiros iluminam a solidão. A natureza fecha AS PORTAS DO DIA.



MIL CRÔNICAS Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2013. Crônica Nº 1.000 Imagem: (ufpa.br) Estamos agradecendo a Santíssim...

MIL CRÔNICAS



MIL CRÔNICAS
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2013.
Crônica Nº 1.000

Imagem: (ufpa.br)
Estamos agradecendo a Santíssima Trindade, o direito do pensar, escrever e publicar mil crônicas na Internet. Antes já havíamos publicado 200, na “Rádio Correio do Sertão”, sempre às doze horas, por isso ficou o programa conhecido como “A Crônica do Meio-dia”, apresentada pela voz de ouro do radialista Edilson Costa. Esse tipo de trabalho foi feito para evitar o vazio entre publicação de livros. As crônicas pela Internet, primeiramente foi a convite do amigo Valter Filho, quando estreamos no seu site “santanaoxente”, depois a publicação foi estendida ao site de José Malta Neto, “maltanet”, para ampliarmos com o site de Sérgio Campos “alagoasnanet e mais o nosso blog.  Estamos, então, agradecendo aos três empresários e mais ao José Pereira Mendes com os seus blogs no Rio Grande do Norte, “blog do mendes” e “sedmendes” que também reproduzem o nosso trabalho diariamente. Como para ficar mais livre de compromisso diário, suspendemos o envio de crônicas para os sites “Maltanet” e “alagoasnanet”, aguardávamos as mil crônicas para voltarmos a enviar os escritos para ambos os sites. Como estamos resolvendo várias coisas na capital, em breve estaremos em Santana do Ipanema onde conversaremos com os empresários para à volta às páginas do “maltanet” e “alagoasnanet”.
Crônica fica muito bem para os registros do cotidiano, como Debret fazia no Rio de Janeiro com suas gravuras. Na realidade o romancista é mais abrangente fugindo muitas vezes da cena real de perto. O cronista vê tudo que se passa nos arredores: o vendedor, o motorista, a discussão da esquina, o acidente, mas também tem o poder de entrar em qualquer tema da Mídia ou em outro qualquer quando visa registrar o fato e sentir o agradável prazer em fazê-lo. Escrever crônicas parece tarefa fácil, mas não é assim. O autor tem que fazer muito malabarismo com as palavras para não perder o lance e ser bastante claro na produção das cenas. O manejo das frases provoca o mesmo esforço do romance porque quem escreve tem que ser artista no manejo das palavras ou a peça deixa de ser literatura para ser uma simples carta que qualquer pessoa comum pode escrever. A crônica diária pode constantemente perder qualidade pela pressa e obrigação do autor, mas nunca deixa de ser documento de época. .
Quisera hoje comemorarmos com os amigos de sites santanenses e outros, essas mil crônicas numa roda musical regada a churrasco e cerveja, mas como me encontro na capital, vamos adiar o aniversário. Abraços aos nossos leitores.

A BOCA GRANDE DA NOITE Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2013. Crônica Nº 999 MACEIÓ.  Foto (Skycrapercity). O Sol decl...

A BOCA GRANDE DA NOITE



A BOCA GRANDE DA NOITE
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2013.
Crônica Nº 999

MACEIÓ.  Foto (Skycrapercity).
O Sol declina nas barreiras da lagoa. Chega a melhor hora da capital alagoana. A brisa agradável vai soprando pelas calçadas e o cheiro forte de maresia faz a cobertura. O azul do mar está ali, bem pertinho para adocicar a vista. Uma senhora de preto varre o passeio do lado oposto das sombras. No pequeno bar, logo o som alto é substituído por um violão que faz lembrar vultos da minha terra. E o calor sufocante de Maceió vai cedendo espaço ao romantismo da tardinha, do anil do horizonte, do balanço dos coqueiros. Raros automóveis pelas vicinais, intenso movimento à beira mar. Passam apressados os que retornam dos balneários litorâneos do sul. Ainda nas tarefas do sábado, impossível quase beijar àquelas águas com os pés, espalhar as espumas, palmilhar nas areias. O dever cresce e o lazer encolhe-se na cabeça numa frustração leve. O violão continua chorando, louvando a hora da poesia. Por trás dos muros, das telhas avermelhadas, das altas mangueiras, tremula a arraia de algum garoto sapeca. Desce mais o Sol e o homem do violão fala de amor e saudade matadora.
Se não o lazer benfazejo, o recreio merecido, o balanço desejado, pelo menos a distância dos jornais, do acre das manchetes... Às costas para o negativo. Fico no ponto de espera, mas espera de quê? Portão capenga, carteiro enferrujado, placa sem aviso... O presente forçando um passado sonâmbulo. Um sobrado ali, um edifício acolá, uma rua comprida na Maceió de hoje. Nada de crianças nas ruas, nas calçadas, nas varandas. E o azul do atlântico escurece e chama os poetas, os marinheiros, pescadores, suicidas, sob o quarto-crescente que ora brilhará. Passa o atleta tentando animar a rua no trote solitário de camiseta e tênis. O céu é limpo e ave nenhuma surge pelos arredores. A monotonia vespertina entra no cérebro como fantasma no registro espontâneo do cotidiano triste. É chegado o momento de partida. Entro no automóvel, bato à porta e olho em torno. Vou a desfilar entre as primeiras luzes da avenida. Traseiras de carros mostram o vermelhão que anuncia o breu. Devaneios à parte vou sendo engolido pela BOCA GRANDE DA NOITE.