SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
MARCO DO SÉCULO XX Clerisvaldo B. Chagas, 10/11 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.508 Foi pensan...
MARCO
DO SÉCULO XX
Clerisvaldo
B. Chagas, 10/11 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.508
Foi pensando em um
marco para o final do Século XIX e início do Século XX que o sacerdote Manuel
Capitulino de Carvalho, de Santana do Ipanema resolveu erguer um monumento. Assim,
na parte alta da cidade o padre construiu um monumento em que foi aproveitada a
religião católica na marcação limiar dos séculos. Dedicou a obra à Nossa
Senhora da Assunção. Feita a igrejinha/monumento, Capitulino – tudo indica que
foi ele – encomendou uma imagem em Portugal da santa escolhida. A imagem de Nossa senhora Assunção viajou de
navio de Portugal ao Brasil, andou de trem de Maceió a Viçosa e de lá chegou a
Santana do Ipanema viajando em lombo de jumento. Finalmente foi entronizada na
capelinha que aguardava a sua chegada. Tudo leva a pensar que a imagem de Nossa
Senhora de Fátima ocupava provisoriamente aquele lugar de oração.
N.S. Assunção foi
recebida com festa e basicamente daí em diante, o monumento/igrejinha, além de
marcar o início do Século XX, também originou o nome do novo bairro que se
iniciava por ali: Bairro do Monumento. Ao mesmo tempo da construção da
igrejinha, também era erguido um cruzeiro de pau no morro da Goiabeira com a
mesma finalidade da igrejinha. O morro da Goiabeira passou a se chamar, então,
serrote do Cruzeiro. Só em 1915 foi construída uma ermida no alto do serrote,
mas nada tinha a ver com marco de alguma coisa, tendo sido apenas motivos de
uma promessa particular.
Em 1938, as cabeças dos
onze bandidos trucidados na fazenda Angicos, Sergipe, pela polícia alagoana,
foram expostas nos degraus da igrejinha do Monumento, inclusive as de Lampião e
Maria Bonita. Primeiro foram apresentadas em latas de querosene com álcool e
formol, depois distribuídas nos três degraus, forrados com lençol branco.
Multidões se aglomeravam e chegavam repórteres de todas as partes do País,
inclusive do Rio de Janeiro. O evento motivou feriado em Santana, escolas
fechadas, desfiles das forças com seus troféus, discursos, bebedeiras e banda de
música nas ruas.
Foi ali onde se
misturou a paz das orações e a violência do mundo.
IGREJINHA/MONUMENTO EM
2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).
SANTANA PERDE Clerisvaldo B. Chagas, 8 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.507 Com a morte do sant...
SANTANA PERDE
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.507
Com a morte do
santanense Romildo Pacífico, vem a lembrança do senhor Benedito Pacífico
contando como fazia na época de adolescente para estudar. Dizia que morava no
sítio Batatal que fica à margem direita do riacho João Gomes e vinha estudar no
centro da cidade de Santana do Ipanema. Como a estrada era longa, ele e Romildo
cortavam caminho, justamente por uma antiga trilha bicentenária, a da Igrejinha
das Tocaias. Desciam a ribanceira em direção ao riacho, atravessavam o João
Gomes seco e entravam pela trilha que saía no Bairro Floresta. Quando não saiam
juntos, quem chegasse primeiro numa bifurcação, deixava um sinal que já havia
passado para a escola. Seu Biu, não me falava de assombrações ao passar pela
cruz de beira de estrada ou se já era transformada em igrejinha.
Há muitos relatos sobre
assombrações no lugar, inclusive registradas por saudoso escritor da terra da
família Monteiro. Terno de zabumba invisível tocando em pleno meio-dia, botou
muita gente para correr.
Conheci de longe
Romildo Pacífico trabalhando na padaria do senhor Álvaro Granja, defronte a
escolinha da Professora Helena Oliveira, na Ponte do Padre, onde fiz Admissão
ao Ginásio. A conversa sobre ele, na época, era que o rapaz gostava muito de
estudar e na padaria, ficava dividido entre o livro e o cliente. Nunca tive
maior aproximação até porque ele era adulto e eu ainda criança. Sua trajetória na
vida é muito conhecida do povo santanense. Infelizmente a pandemia não escolhe
qualidade.
Nunca ouvi falar no
sítio Alto Bonito, onde ele morou, mas com certeza era vizinho ao Batatal do
seu primo Benedito Pacífico. Certa feita o Biu convidou-me para conhecer o seu
lugar de nascimento. Fomos a pé pela mesma trilha da Igrejinha das Tocaias por
onde suas pernas tanto caminharam. A casa no sítio estava fechada, precisando
de reparos. Lembro-me da beleza do lugar e de um imbuzeiro em que Seu Biu
colhia imbus e matava a saudade da zona rural. Quanto ao irmão de Romildo,
Benildo Pacífico, estudamos juntos na 50 série do Ginásio Santana.
Como era difícil estudar na cidade morando no sítio!
Existem muitas estradas
boas e confortáveis, porém, continuamos – simbolicamente – em nossas vidas,
usando veredas e mais veredas tais quais a dos primos Romildo e Benedito.
ROMILDO PACÍFICO (FOTO:
REDES SOCIAIS).
TOCAIAS: O ECO DO PASSADO Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:2.506 Havia na r...
TOCAIAS:
O ECO DO PASSADO
Clerisvaldo
B. Chagas, 7 de abril de 2021
Havia na região
santanense de Bebedouro/Maniçoba, uma família de artesãos em madeira. Ela
trabalhava com réplicas das partes do corpo humano para pessoas católicas que
precisavam pagar dívidas. As peças que mais víamos eram: cabeça, mãos e pés,
denominadas ex-votos. Eu identificava todos os membros da família, mas havia um
galego que parecia que as cabeças de pau, eram baseadas na sua própria figura.
Peças rústicas, feias, mas com certeza bem recebidas pelos donos das
encomendas. Não sei dizer se aquela era a única família que confeccionava
ex-votos, em Santana. Ao visitar certa feita a Igrejinha das Tocaias, nos
confins do Bairro Floresta, vi uma verdadeira montanha de peças deixadas pelos
devotos e juntadas ao pé da cruz do pátio. Como era grande a fé dos que faziam
promessas na Igrejinha das Tocaias, com o santo estrangeiro Seu Manoel da
Paciência que representava Jesus!
Quem vê o cantor e
milionário Amado Batista, com todo respeito, vê a cópia das cabeças feitas
pelos artesãos da Maniçoba. Sem ter onde colocar tantas peças, zeladores da
Igrejinha tiveram que se desfazer de muitas e guardar um pouco das mais
conservadas. Estou falando isso porque iremos fazer um movimento entre
escritores e sociedade para darmos a assistência devida à igrejinha que precisa
de reforma e muito mais. Há um ano estive procurando um artesão em madeira e
ninguém soube informar de nenhum. Acho que artífice para essa finalidade de
seguidores católicos, não existe mais no município santanense.
Não sei se o assunto
interessa ao amigo e amiga, mas é fremente que resgatemos e conservemos a
Igrejinha das Tocaias, cuja história já foi contada em cordel, por nós. Único
resgate desta saga desconhecida pelo nosso povo. Uma vez revelada sua história,
falta agora restaurá-la e até propor um tombamento uma vez que o humilde templo
não pertence a ninguém. Quanto aos que gostam de fazer promessa, sobre membros
do corpo, estamos sem artistas, pelo menos na cidade, restando recorrer a
artesãos em outros tipos de material como gesso, por exemplo.
A propósito, nosso
singelo subúrbio Maniçoba/Bebedouro, sempre foi rico no artesanato em couro de
bode, em palha Ouricuri e em madeira e renda.
Seria bom um
levantamento pela municipalidade para registro e benefício dos artesãos e
artesãs remanescentes.
IGREJINHA DAS TOCAIAS
(FOTO: B. CHAGAS).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.